O novo panorama do consumo de alta renda no Brasil
Por Fernando Amaral |
Embora o mercado de alta renda no Brasil não seja extenso em termos de população, ele exerce uma influência significativa sobre a economia, impulsionando novos comportamentos de consumo e apresentando um crescimento acelerado. Dados de dezembro de 2023, levantados pelo estudo Luxo de Fato da Bain & Company e pela pesquisa População Ocupada Brasil (IBGE e IPEA, 2023), revelam que 3,1 milhões de brasileiros recebem mais de R$ 10 mil reais mensais, enquanto cerca de 114 mil possuem mais de US$ 1 milhão em ativos líquidos.
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De acordo com a Bain & Company, este segmento movimentou 74 bilhões de reais em 2022, e as projeções indicam que esse número deve chegar a quase o dobro, alcançando 133 bilhões de reais.
Os estudos sobre o novo perfil do luxo mostram que é importante estar atento às mudanças pelas quais este público passa. Observa-se uma ressignificação sobre o luxo nos últimos anos. Nesta nova régua, a ostentação sai de cena, os bens materiais dão lugar a experiências, a singularidade vence a exclusividade e o luxo deixa de ser status para se tornar conforto. Essa ostentação tem dado espaço para o "Quiet Luxury" — um luxo discreto que privilegia a qualidade e a exclusividade sem a necessidade de exibição.
Segundo a Affluent Discovery LAC (De La Riva Group), 53% da GenZ, em particular, valoriza produtos e experiências que exalam sofisticação, mas sem logos proeminentes, apelando para um círculo mais íntimo que valoriza a discrição e o significado por trás da posse. Esse público de alta renda está migrando dos bens materiais para experiências únicas, buscando não só desfrutar de seu patrimônio, mas também crescer pessoal e espiritualmente.
Para o consumidor de alta renda moderno, "luxo é bem-estar". Este grupo valoriza intensamente o personal wellness, considerando-o não apenas sucesso e status, mas uma vida equilibrada e plena. Isso se traduz em uma procura crescente por produtos e serviços que promovam a saúde física, mental e espiritual, como spas de luxo, retiros de meditação e fitness tecnologicamente avançados.
Essa perspectiva vai ao encontro do papel da sustentabilidade para eles. Segundo a Affluent Consumer (Oxygen 2023), também é uma consideração chave, com 65% dos consumidores de luxo priorizando o compromisso das empresas com o desenvolvimento sustentável ao fazer suas escolhas de compra e viagens. Isso está impulsionando as marcas de luxo a repensarem suas cadeias de suprimentos, materiais e métodos de produção para serem ambientalmente responsáveis.
Neste cenário, nova circularidade e materiais regenerativos são bastante observados por este público na hora de comprar um produto ou uma viagem. Para o público de alta renda, uma peça da última coleção Channel tem menos peso simbólico que uma bolsa vintage da grife.
Na hora de viajar, ele tende a escolher destinos e hotéis preocupados em reparar os impactos gerados pelo turismo no ecossistema, em proporcionar integração social e revitalizar culturas.
O turismo de luxo exemplifica bem a tendência de consumo deste segmento, onde as viagens são vistas como experiências de vida, e não apenas como oportunidades para compras. A conveniência moderna, facilitada pelos pagamentos móveis e atendimento personalizado, permite que esses viajantes desfrutem de experiências locais autênticas sem o incômodo tradicionalmente associado a transações financeiras.
Neste novo cenário de luxo, produtos que oferecem conveniência, propósito e personalização estão em alta demanda. A tecnologia aqui pode ser uma grande aliada, proporcionando soluções que simplificam a vida cotidiana e oferecem personalização profunda. Esses produtos vão desde sistemas domésticos inteligentes até dispositivos de saúde personalizados, a tecnologia está no cerne do consumo de luxo, garantindo não só conforto, mas também eficácia e discrição.
O mercado de alta renda no Brasil está cada vez mais orientado por valores que mesclam propósito, conveniência e personalização. As marcas que desejam capturar e manter a lealdade deste segmento precisam alinhar seus produtos e serviços com esses valores emergentes, garantindo que eles ofereçam não apenas luxo, mas também uma contribuição significativa para a qualidade de vida de seus consumidores.