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ETs, computação em nuvem e a cura do câncer

Por| 24 de Janeiro de 2014 às 14h46

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ETs, computação em nuvem e a cura do câncer
ETs, computação em nuvem e a cura do câncer

Qual a conexão entre a busca de vida extraterrestre e a cura do câncer? Parecem assuntos completamente diferentes, mas há uma conexão inesperada entre eles – e nada mística. Baseada em um projeto científico desenvolvido para descobrir se estamos sozinhos no Universo, foi desenvolvida a tecnologia da computação em nuvem, que está revolucionando várias áreas do conhecimento, incluindo a biologia e a medicina, além de nosso dia a dia na web.

Há uma vertente na pesquisa científica de vida extraterrestre que procura por sinais tecnológicos de vida inteligente em outros planetas. Essa área de pesquisa chama-se, em inglês, SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence – Busca por Inteligência Extraterrestre), e baseia-se em sinais diretos de comunicação por meios tecnológicos, principalmente por sinais de rádio. Como as distâncias entre as estrelas e planetas, mesmo dentro da própria Via Láctea, são gigantescas, o tempo de viagem entre um astro e outro seria imenso, mesmo usando a tecnologia mais avançada que conhecemos e que podemos imaginar baseada na Física atual. Uma nave espacial demoraria talvez 100 mil anos para viajar da estrela mais próxima até a Terra, a menos que os ETs tenham desenvolvido algo como a tecnologia de “dobra espacial” de Star Trek (com nosso conhecimento da Física atual, não sabemos ainda dizer se tal efeito é possível de ser recriado tecnologicamente). Por esses grandes tempos de viagem, os cientistas do SETI acham ser mais provável que consigamos comunicação com seres extraterrestres não por contato direto com viajantes interplanetários, mas sim através de ondas eletromagnéticas, como por um rádio ou um laser, que atravessam o espaço com a mais alta velocidade que conhecemos, a velocidade da luz (cerca de 300.000 quilômetros por segundo, mais de 1 bilhão de quilômetros por hora). Os pesquisadores têm desenvolvido enormes receptores de rádio, para “escutar” os possíveis sinais sendo enviados por civilizações distantes.

A nave estelar Enterprise, de Star Trek, viajando em dobra espacial

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Um problema importante: não bastaria que os ETs estivessem se comunicando uns com os outros no seu próprio planeta por celular, ou transmitindo sinais de televisão. Essas emissões seriam muito fracas para viajar pelas longas distâncias espaciais até chegarem à Terra. Para detectarmos um sinal verdadeiramente extraterrestre, os ETs deveriam estar transmitindo diretamente para nosso planeta, com uma antena muito potente, com a intenção de se comunicarem. Nós mesmos já fizemos isso, em um processo chamado SETI ativo, enviando mensagens em direção a outras estrelas que teriam um potencial maior para terem planetas. Ninguém respondeu ao nosso chamado até o momento. Para fazer a detecção dos sinais de comunicação ou resposta, temos usados enormes radiotelescópios, e essa foi a base para o enredo de Contato, de Carl Sagan.

Um dos problemas práticos para se detectar tais sinais extraterrestres é puramente tecnológico, pois há muitas fontes astronômicas que emitem em rádio espalhadas pelo Universo e pela Terra. Normalmente esses sinais serão mais fortes que qualquer outro, e seria como procurar uma agulha em um palheiro. Como não sabemos qual vai ser a frequência usada pelos potenciais ETs para transmitir sua mensagem, temos que monitorar bilhões de estações de rádio ao mesmo tempo, armazenar e processar um volume enorme de dados separando o que é interferência do que é um potencial sinal real. Diferente do que é mostrado no filme Contato, não é possível monitorar todas essas frequências pessoalmente.

Receptores de rádio do SETI

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No momento em que o SETI foi criado, não existiam supercomputadores capazes de realizar tal tarefa e, mesmo hoje, eles seriam muito caros. A forma de resolver o problema foi muito criativa, a abriu caminho para o que hoje chamamos de computação na nuvem. No final dos anos 90, os pesquisadores do SETI, em Berkeley, distribuíram um programa gratuito pela internet, o SETI@home, que poderia ser instalado em qualquer computador doméstico. Esse programa recebia, de um servidor, um pequeno pacote de dados coletado em um radiotelescópio e usava o tempo ocioso do computador para processá-lo, procurando por sinais em potencial, devolvendo o resultado ao servidor pela internet. Dessa forma, os usuários do programa estavam doando esse tempo ocioso de máquina, normalmente gasto apenas com protetores de tela, contribuindo para um projeto científico. Com a rápida adesão de milhões de usuários, o SETI conseguiu criar um dos maiores supercomputadores do mundo, que funciona de maneira virtual, distribuído por todo o mundo em pequenos computadores domésticos.

Nascido na tentativa de descobrir se estamos sozinhos no Universo, o SETI criou um novo conceito tecnológico, baseado em computação virtual colaborativa na nuvem. Esse projeto depois cresceu e evoluiu, sendo agora chamado de Boinc, um sistema que permite que qualquer projeto de computação científica use a plataforma de computação na nuvem. Além do SETI, agora há muitos outros projetos, incluindo em biologia e medicina, por exemplo, para o entendimento das bases moleculares de doenças e para o desenvolvimento de novos medicamentos, bem como para melhorar nossa forma de prever o tempo.

Dessa maneira, um projeto puramente científico, que procurava por inteligência extraterrestre, apesar de ainda não ter tido sucesso nesse sentido, criou o conceito de computação na nuvem, que hoje é usado para muitos fins, desde a descoberta das partículas que constituem nosso Universo, pelo CERN, até o desenvolvimento de novas vacinas e, talvez, para o desenvolvimento de uma cura para o câncer.