Por que Triângulo da Tristeza tem esse título?
Por Durval Ramos | Editado por Jones Oliveira | 14 de Fevereiro de 2023 às 17h00
Embora muito poético, o nome Triângulo da Tristeza é uma enorme interrogação na cabeça do público — inclusive daquele que viu o filme. O novo longa de Ruben Östlund é uma grande sátira ao mundo moderno e às relações de poder e de trabalho e, por isso mesmo, esperava-se que o título estivesse conectado a essa ideia, o que não acontece. Ao menos não de forma tão clara assim. Então, qual o significado por trás desse título?
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O próprio filme dá uma explicação. Logo em sua sequência inicial, ele explica que triângulo da tristeza é o nome dado à região entre as sobrancelhas, também chamado de gleba. É aquela área que você franze quando está nervoso ou preocupado e também o primeiro lugar onde surgem as rugas de expressão na grande maioria dos casos.
E o que isso tem a ver com a história? Segundo o próprio diretor, o termo por si só já é ridículo o suficiente, mas que esse é o gatilho que ele teve para criar essa fábula sobre os comportamentos bizarros e absurdos de uma elite que está acostumada a se preocupar apenas com irrelevâncias — algo que se encaixa muito bem dentro do espírito do longa.
Entendendo o nome Triângulo da Tristeza
Em entrevista aoDeadline, Östlund explica que ouviu a expressão uma certa vez e isso chamou a sua atenção por ser algo que considerou hilário. Segundo ele, o termo é usado por esteticistas para apontar essa região e as marcas que surgem com o tempo se você tiver se preocupar com algo ao longo da vida — mas que pode ser corrigido com Botox em apenas 15 minutos.
Parece algo aleatório, mas o cineasta destaca o quanto isso se encaixa nesse olhar satírico que o seu filme dá para o assunto. Da obsessão pela eterna beleza à fixação que certos personagens têm com aparências, tudo gira em torno dessa noção de que os problemas não importam se você aparentar ser algo superior a tudo isso — e como isso está introjetado no mundo dos super ricos.
Tanto que a explicação dentro do roteiro vem logo no início, quando essa imagem quase divina da riqueza ainda não está apresentada. O protagonista Carl (Harris Dickinson) é um jovem modelo que é dispensado de um trabalho por aparentar o tal triângulo, indicando que ele já aparenta carregar uma preocupação que não combina com o mundo do alto glamour que tanto almeja alcançar.
Isso dialoga muito bem com a cena seguinte, em que ele vai jantar com sua namorada, a também modelo Yaya (Charlbi Dean). A diferença é que ela é uma profissional muito bem-sucedida e que ganha muito bem tanto nas passarelas como uma influencier digital. E é em meio ao jogo de aparências e de poder que ela exerce que entendemos a raíz das preocupações dele.
Só que as coisas vão ainda mais além. Como o próprio diretor aponta, um dos pontos que o filme critica é o quanto essa elite se sente acima das preocupações mundanas. Para quem dinheiro não é o problema, a vida é tão fácil que realmente não faz sentido esquentar a cabeça com nada e a tal ruga de expressão deixa de ser um ponto sequer cogitado. E, mesmo para aqueles que eventualmente encontrarem uma marca na gleba, bastam 15 minutos de procedimento estético para resolver.
É uma crítica bem sutil, é verdade, e que não está tão evidente à primeira vista — mas que dá as caras em vários momentos. Tanto que há um trecho bem marcante dessa “preocupação com a irrelevância” que o diretor pontua que é quando uma das passageiras do iate de luxo passa a reclamar da sujeira nas velas. O problema é que a embarcação é movida a motor e nem sequer tem uma vela para ser limpa.
A reclamação dela está baseada em uma imagem que ela tem do que é um navio daquele tipo que ela viu na revista e, para ela, é mais importante viver aquela fantasia do que a realidade à sua volta. E esse é um comportamento que a própria tripulação alimenta, já que são todos treinados a não contrariarem os passageiros.
Triângulo da Tristeza concorre a três Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original. O longa chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 16 de fevereiro.