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Crítica Uma Família Feliz | Suspense revira o estômago apesar das pontas soltas

Por| Editado por Durval Ramos | 03 de Abril de 2024 às 15h05

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Divulgação/Pandora Filmes
Divulgação/Pandora Filmes

Quem está acostumado a ler Raphael Montes já sabe que os seus livros sempre terminam com um final surpreendente e agridoce, seja pela crítica social ácida ou por aquele personagem querido se revelar um grande vilão. Em Uma Família Feliz, filme que estreia no dia 4 de abril, não é diferente. O texto espreme o espectador em uma tensão crescente até culminar num desfecho inesperado, porém pouco crível.  

Na trama, Eva (Grazi Massafera) é uma mulher bonita, alta, loira e de cabelos longos. Vive com seu marido Vicente (Reynaldo Gianecchini) e as duas filhas gêmeas dele — Ângela e Sara — em um apartamento localizado no Blue Paradise, um dos condomínios mais luxuosos do Rio de Janeiro. Quando ela engravida e dá à luz a Lucas, o caçula faz da sua vida um verdadeiro inferno, seja porque não para de chorar um minuto ou porque não aceita seu peito como alimento.

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Com cenas cotidianas e ordinárias, o filme convida o espectador a fazer parte daquela família, mas também mostra que há algo de podre no reino do Blue Paradise. Há uma certa tensão no ar, Eva está sobrecarregada, Vicente é um pai perfeito, mas que não enxerga os problemas da esposa e, para piorar, um dia o bebê e as gêmeas aparecem machucados.

Ninguém sabe o que aconteceu e, nessa altura do filme, a construção bem feita dos personagens leva o público acreditar que Eva está louca e pode ter espancado os filhos. A atuação de Grazi é impecável e faz toda diferença em cena. Ela oscila entre a falsa alegria de estar rodeada de ricos hipócritas e o desespero de não se lembrar do que fez.

Mas como, nas obras de Montes, nem tudo é o que parece, a trama dá uma virada interessante até entregar o verdadeiro culpado. Nesse ponto, é preciso elogiar também o jogo de câmeras. Usando ângulos fechados para reforçar as expressões faciais de Eva, as câmeras brincam com os personagens como se estivessem fazendo um julgamento de suas atitudes. 

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Com um elenco enxuto, a história não fica rodando em si mesma e constrói uma tensão quadro a quadro para o ápice final. O desfecho, inclusive, é daqueles que ficam na cabeça do espectador por horas, quem sabe dias. O problema é que quando você pensa demais, acaba descobrindo que ele é pouco verossímil.

Sem dar spoilers para não estragar toda a experiência do filme, o que se pode dizer é que o culpado não teria como machucar as duas gêmeas da maneira que fez. Outras pontas soltas são o fato de uma delas ficar calada perante a injustiça que Eva sofre. Na vontade de surpreender o público, Montes deixou furos que incomodam demais.

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Um filme muito aquém ao livro

Além de escrever o argumento e o roteiro de Uma Família Feliz, Raphael transformou a história em livro e, claro, pôde esmiuçar melhor a trama e os personagens. O problema é que, se o público seguir a sua recomendação de ler o livro e depois assistir ao filme, provavelmente terá a impressão de que o longa é muito pobre perto da riqueza de detalhes da publicação.

Sem ingenuidades aqui, é óbvio que um filme de quase duas horas nunca conseguiria abraçar a complexidade de um livro, mesmo que o roteiro do longa tenha sido escrito antes. O problema é que faltam partes importantes da história como a briga de Eva e Isabela, a empregada negra que trabalha na casa, além da relação dela com a mãe e a briga com as gêmeas antes delas aparecerem machucadas. Tudo isso, ajuda a compor a pseudo-loucura da protagonista e fez muita falta em cena.

São esses detalhes que impedem o longa de ser perfeito, mas não tiram dele o mérito de ser bom. A direção do veterano José Eduardo Belmonte dá o tom da obra, embora às vezes exagere em certos momentos como se quisesse enfiar a tensão goela abaixo do público. Ainda assim, vale o ingresso do cinema e a discussão na mesa de bar.