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Crítica Tetris | Filme pesa nos clichês, mas entrega uma divertida aventura

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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A história por trás do lançamento e sucesso de Tetris é mesmo algo que parece coisa de cinema. Um dos maiores e mais populares jogos de todos os tempos nasce no coração da União Soviética, em plena Guerra Fria, e cria não só um fenômeno cultural mas uma guerra contratual e burocrático como pouco se vê no mundo dos videogames. Por isso mesmo, não é surpresa que Tetris, o filme que chega ao Apple TV+, seja tão divertido.

O longa dirigido por Jon S. Baird (Stan & Ollie) acerta ao se diferenciar de outras produções que contam bastidores do mundo da tecnologia ao apostar naquilo que sustenta uma boa trama: o entretenimento. Assim, ao invés de seguir pelo caminho clichê do executivo que apostou tudo em uma ideia arriscada, ele transforma essa história quase em uma aventura de espionagem.

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É claro que, para isso, Tetris se apoia em outros vícios de Hollywood que não só são aparentes como também incomodam em muitos momentos. E, mesmo assim, a jornada quase homérica de um empresário para conseguir lançar o jogo no Game Boy deixa de ser apenas mais um blablablá corporativo para se tornar em uma honesta e divertida trama repleta de ação, conspiração e videogames.

Tetris e o Game Boy

Embora a gente trate o filme como a história de origem do game Tetris, isso não é bem verdade. O longa já começa em 1988, quatro anos após a criação do título e seu lançamento internacional para PCs, arcades e consoles. Na verdade, a coisa toda gira em torno da corrida de Henk Rogers (Taron Egerton) para conseguir os direitos para lançar o jogo para o Game Boy, que estava prestes para ser lançado.

Trata-se de uma abordagem óbvia — os direitos de Tetris pertencem à empresa de Rogers até hoje —, mas fundamental para criar um roteiro que seja realmente interessante. Afinal, é a partir desse ponto que toda a confusão envolvendo os direitos de publicação eclode e a tensão entre Ocidente e União Soviética se aprofunda.

Isso tudo dá ao filme essa cara de trama de espionagem que, embora seja um exagero em relação aos eventos reais, funciona muito bem enquanto filme. Seria muito chato acompanhar duas horas de negociações entre executivos e membros do Partido Comunista, então essa liberdade criativa em que coloca não só Rogers, mas como o próprio criador do game, Alexey Pajitnov (Nikita Efremov), e até funcionários da Nintendo tendo que fugir de agentes da KGB é muito bem-vinda.

E o acerto aqui está justamente no fato de Tetris estar mais interessado em servir de entretenimento do que um grande registro histórico. Adicione também o fato de que o próprio cinema anda um tanto quanto carente de boas histórias de espionagem — além do fato de toda a origem do game e a proximidade que todos nós temos com esse universo — faz dessa brincadeira com os fatos algo muito mais divertido.

Exagero nos clichês

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Ao mesmo tempo, Tetris acaba se apoiando demais em outros clichês para construir o clima que deseja. Para fazer com que essa tensão exista, ele pesa a mão na hora de construir essa União Soviética opressora e ameaçadora. Tudo é muito cinza, sombrio e intimidador — e, ao mesmo tempo, cansativo.

Embora faça sentido o país ser retratado dessa forma para a história que está sendo contada, o excesso desses símbolos sombrios para mostrar o mundo comunista é algo tão batido que dá ao longa um espírito noventista que atrapalha. E não apenas as paisagens monocromáticas e os semblantes tristes na cara de todo mundo, mas até mesmo outros clichês mais óbvios e que já foram usados à exaustão, como o político soviético corrupto, os agentes infiltrados que saem de tudo quanto é canto e o próprio discurso de liberdade dos amigos russos.

É o tipo de lugar-comum que empobrece o roteiro. O personagem de Alexey é o maior exemplo disso. Ele é o criador do jogo e figura central dentro da corrida de Rogers para conseguir os direitos da obra no Ocidente. Não por acaso, na realidade, eles se tornaram grandes amigos a partir dessa epopéia todo.

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Contudo, no filme, mal dá para perceber isso. Ele é tão caricato nessa figura do “russo intimidado pela máquina opressora soviética” que mal dá para chamá-lo de personagem. Tanto que aquilo que deveria ser um drama envolvendo a pressão sobre sua família mal tem peso. E tudo por causa da mão pesada sobre o clichê.

Acerto no carisma

Apesar disso, não dá para negar que Tetris é um filme muito divertido. E muito por causa do carisma de Taron Egerton como Henk Rogers. Ainda que não seja uma atuação ao nível do que ele próprio já entregou em outros projetos, como Rocketman, ele entrega um executivo tão espirituoso que até mesmo as partes mais burocráticas da trama se desenrolam bem.

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Ajuda muito nisso, obviamente, o próprio roteiro. Há um cuidado para que os diálogos e as situações não sejam técnicas demais e o esforço é bem recompensado. Além disso, como dito antes, o simples fato de estarmos falando de um jogo que todo mundo conhece e de um contexto que nos é muito familiar — quem não conhece o Game Boy ou a própria Nintendo? — torna toda essa aventura muito mais amigável e interessante.

Tetris está longe de ser perfeito. Ele acerta ao abrir mão do clichê da história do executivo visionário com uma ideia na cabeça que povoa produções sobre tecnologia para brincar com um gênero que sempre funciona muito bem no cinema. No caminho, tropeça em outros clichês, mas nada que o impeça de passar de fase.

No fim de tudo, ainda é um filme com bastante coração. Um pipocão divertido e exagerado — tanto quanto um bom videogame pode ser.

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Tetris está disponível no Apple TV+.