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Crítica Tár | Filme faz retrato potente sobre o machismo e as relações de poder

Por| Editado por Jones Oliveira | 28 de Janeiro de 2023 às 10h00

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Focus Features
Focus Features

O drama Tár, dirigido por Todd Field (Pecados Íntimos) e estrelado por Cate Blanchett (Não Olhe Para Cima), acaba de chegar aos cinemas brasileiros. Com quase três horas de duração, o filme dá destaque a temas como os abusos cometidos nos bastidores da música clássica e o machismo nas relações de poder. Tudo isso, claro, sem esquecer de abordar dilemas como a dificuldade de separar o artista da obra e questões que permeiam o feminismo e a sororidade.

Aclamado pela Academia, o longa recebeu seis nomeações ao Oscar 2023, sendo indicado a Melhor Filme, Melhor Direção para Field, e Melhor Atriz para Blanchett. E não dá para negar que o longa faz por merecer. Com uma trama marcante e bem amarrada, a obra conta a história de Lydia Tár, uma maestrina bem-sucedida que tem uma vida aparentemente perfeita.

Atenção! Esta crítica pode conter spoilers de Tár.

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Personagem e direção poderosas

Rica, bonita e, principalmente, poderosa, ela conquistou tudo que deseja, inclusive o respeito dos homens que a cercam. No auge da sua carreira e trabalhando na Filarmônica de Berlim, Lydia se prepara para uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler— um dos seus maiores desafios profissionais. O que ela não imaginava, no entanto, é que sua vida iria desmoronar pouco tempo depois.

Com um texto inteligente e um humor ácido na medida, Tár nos conduz pela vida de uma personagem extremamente cativante, ainda que sisuda. O mérito, é claro, fica para o roteiro e para a direção de Field, mas especialmente para a belíssima atuação de Blanchett, que consegue dar a profundidade necessária à personagem e deixar transparecer cada faceta dela no momento ideal.

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Lydia Tár é firme, forte e magnânica, mas Blanchett consegue deixá-la vulnerável quando preciso e hipnotizante quando convém. A protagonista é o único foco do filme — talvez por isso ele carregue seu nome — já que a obra não se aprofunda em nenhum dos coadjuvantes. Tal fato não incomoda, mas não dá para negar que seria interessante ver um pouco mais da sua dinâmica com sua esposa Nina (Sharon Goodnow) e sua filha pequena.

Ao longo das quase três horas de filme, vemos como Lydia consegue se impor e controlar todos à sua volta, e como ela tenta driblar o machismo que a cerca, apesar de corroborar com ele em determinados momentos. Um exemplo disso acontece quando é acusada de assediar uma musicista que fez parte da sua orquestra e que, por não ceder às suas investidas, acaba perdendo todas as oportunidades profissionais e, depois, tira a própria vida.

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Além disso, a protagonista enfrenta problemas no casamento quando se aproxima de uma nova violoncelista que entra na sua equipe. Esses comportamentos, acabam tomando grandes proporções e são responsáveis por fazer sua vida desandar. Junte a isso também o fato de Tár ter sido vítima de uma manipulação maldosa de um vídeo, em que ela aparece proferindo ofensas a um aluno LGBT+.

O sucesso mora nos detalhes

Se tem uma coisa que não se pode negar é que Tár é um filme de diálogo e pouca ação. Com uma narrativa parada, a minutagem longa pode até incomodar alguns espectadores, mas é fundamental para não deixar pontas soltas.

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Além de um bom texto, o filme também centra em detalhes precisos, que corroboram para o sucesso da crítica. A fotografia criada por Florian Hoffmeister (True Detective) abusa de cores escuras e frias para traduzir o distanciamento dos personagens e a frieza da protagonista.

Já o figurino usado por Lydia traduz bem a sua personalidade, se distanciando da performance clássica da feminilidade e perpassando pelo agênero. Outro detalhe importante, e que pode passar despercebido, é como a protagonista lava as mãos repetidamente e tem maneiras metódicas de fazer certas ações — o que demonstra uma tentativa, por vezes falha, de controlar tudo à sua volta.

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Início lento e pedantismo podem cansar

Se os detalhes impressionam, alguns pontos incomodam, como o pedantismo em certas cenas do filme que abordam termos técnicos relacionados à música clássica. O texto não faz a menor questão de explicá-los e deixa o espectador a ver navios.

Além disso, o início do filme beira o insuportável, com bons minutos de uma tela preta exibindo os nomes da equipe técnica do longa enquanto uma música (bem chata) é tocada ao fundo.

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Final magistral

Ainda que alguns pontos incomodem, Tár consegue ser incrível em quase todos os momentos. No entanto, nenhum deles chega aos pés do final, especialmente da cena em que Lydia luta pela sua posição de maestrina na orquestra — não vale aprofundar os detalhes para não darmos spoiler demais da melhor cena do filme.

Com uma atuação arrebatadora, Blanchett entrega uma cena que deixa o espectador boquiaberto tamanha sua força. Desse modo, é possível concluir que o filme de Todd Field é sim um espetáculo digno de todas as indicações ao Oscar que recebeu, e merece ser assistido por todos.

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E se você quiser dar uma chance a Tár, já pode assisti-lo nos cinemas. Para isso, basta garantir sua entrada pelo Ingresso.com.