Crítica My Policeman | Filme com Harry Styles é bonito, sutil e preciso
Por Diandra Guedes • Editado por Jones Oliveira |
My Policeman é o novo filme de Michael Grandage que traz Harry Styles como um dos protagonistas e conta a história de amor entre um policial, sua esposa e um curador de arte de um museu. O longa é uma adaptação do livro homônimo de Bethan Roberts, de 2012, e foi recebido com muita expectativa pelo público, justamente por ser baseado em um romance bem-sucedido entre os leitores.
E podemos dizer que Grandage realmente não decepcionou. O diretor conseguiu criar um filme sensível, emocionante, bonito e delicado — daqueles que te fazem refletir quando acaba.
Com roteiro assinado por Ron Nyswaner (Filadélfia), a trama conta a história de Tom (Styles), um jovem que após servir o exército volta para sua cidade natal e começa a trabalhar como policial. Durante sua juventude, ele conhece Marion (Emma Corrin), uma moça bonita e delicada que logo se encanta por ele.
Aos poucos os dois vão construindo um romance, e embora Marion demonstre muito mais interesse na relação, Tom também embarca na história.
Acontece que, durante esse tempo como namorados, o policial conhece Patrick (David Dawson), um curador de arte apaixonado por desenhar pessoas comuns. Os dois se encontram pela primeira vez em um acidente de rua, mas logo se tornam amigos.
Enquanto Patrick — consciente de sua orientação sexual — se encanta por Tom, o policial, por sua vez, não consegue entender seus sentimentos, mas acaba cedendo a seus desejos e se envolvendo sexual e amorosamente com o curador.
Vale lembrar que ser LGBTQIA+ na Inglaterra da década de 1950, período em que a história de My Policeman é ambientada, era considerado crime, e é sob esse prisma que a história é contada. Com muita delicaleza, Grandage guia uma trama que é repleta de nuances.
Se por um lado temos Patrick como um homem bem resolvido, mas infeliz por não poder viver sua vida amorosa com plenitude, do outro temos Tom, que está se descobrindo, mas viverá escondido atrás de um casamento de fachada. Enquanto isso, Marion segue sem saber do que está acontecendo, mas quando descobre decide ignorar os fatos e tentar recuperar sua relação.
Ela faz isso por amar Tom, mas também por acreditar que essa é sua obrigação enquanto mulher: se anular pelo bem do seu marido.
Cada um dos personagens é igualmente relevante e tem suas próprias questões, e isso é muito bem trabalhado no roteiro, de modo que é possível ter empatia pela luta interna de cada um deles. O trio Styles, Corrin e Dawson entrega atuações precisas e elogiáveis e faz com que assistir ao filme seja ainda mais prazeroso.
Do presente para o passado
E não são apenas os três atores que têm atuações elogiáveis. Linus Roache, Gina McKee e Rupert Everett vivem respectivamente Tom, Marion e Patrick na fase mais madura, e também não decepcionam em frente às câmeras.
Na versão contemporânea, eles já estão idosos e Patrick está acamado após ter tido um derrame. Ele vai para a casa de Marion e Tom para ser cuidado, mas enquanto a primeira o trata com carinho, o ex-policial não consegue nem se aproximar dele.
A escolha de mostrar “o desfecho” logo no início do filme desperta a curiosidade para saber o que aconteceu entre os dois ex-amantes ao mesmo tempo que faz com que foquemos ainda mais no desenrolar da história, e isso é mais um acerto de My Policeman.
Também vale comentar que Marion se redescobrindo como mulher e indo atrás de sua felicidade nas cenas finais é um deleite para o espectador.
Fotografia e trilha sonora agradam
Além de bons atores e bom roteiro, My Policeman entrega uma fotografia de encher os olhos e uma trilha sonora que se encaixa perfeitamente na narrativa.
Nas cenas que se passam nos anos 1950, o uso de cores vibrantes prevalece nos carros, nas roupas e nos cenários, mostrando uma época mais colorida e feliz da vida dos três protagonistas. Já na atualidade, o uso de tons frios mostra uma certa tristeza pelo rumo que a vida tomou.
Cenas de sexo não impressionam
Um ponto polêmico (e muito comentado) do filme foram as cenas de sexo. Durante toda a história há cerca de cinco delas, sendo algumas de Tom com Marion e outras de Tom com Patrick.
No entanto, embora o assunto tenha repercutido mais do que o filme em si, não há nada que justifique tais polêmicas — além, é claro de uma homofobia velada. Isso significa que não há cenas vulgares ou que exponham desnecessariamente os atores.
Tudo que foi mostrado no sexo gay — nádegas e carinho — já havia sido retratado no sexo hétero em diversas outras produções. Quando Harry Styles disse que se tratava mais do “fazer amor” do que o sexo em si, ele não mentiu. As cenas são bonitas e não impressionam negativamente.
Uma história de amor entre dois homens… e algo mais
Não dá para negar que o filme é realmente uma linda e triste história de amor entre Tom e Patrick, mas seria muito raso reduzir Tom a um homem gay. Isso porque em nenhum momento do filme ele se define dessa maneira, e sempre reforça que gostava de Marion e não queria perdê-la.
Em uma de suas falas ele diz à ela: “Eu queria você, mas queria ele também”, e reforça novamente seus sentimentos pela garota. Além disso, nas cenas de sexo, Tom, embora se mostre mais à vontade com Patrick, não demonstra descontentamento quando está com sua esposa.
De certo modo, ele a amava e a desejava, e isso não pode ser apagado. Talvez seja mais coerente que o policial fosse lido como um homem bissexual e Patrick como um homossexual.
Vale a pena assistir My Policeman?
Quem gosta de uma história bonita, bem escrita e emocionante certamente irá gostar de My Policeman. Com boas atuações e uma belíssima fotografia, o longa é uma excelente estreia de 2022 e está disponível no Prime Video.