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Crítica A Primeira Profecia | O Mal tem um novo começo

Por  • Editado por  Durval Ramos  | 

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Reprodução/20th Century Studios
Reprodução/20th Century Studios

A Profecia é um clássico do terror que surgiu em uma era que o gênero passava por uma transição, apostando em mais histórias sobrenaturais e psicológicas, com momentos pontuais de violência. Confesso que, desse período, é um filme que não me chama tanta atenção, apesar de ter visto quando bem mais novo e ter achado interessante — e apenas isso.

A história do garoto Damien, centro da profecia sobre o retorno do Anticristo, ganhou sequências, remake e até mesmo uma série de TV, mostrando a força do conceito sobre a figura que surge na Terra para trazer um período de caos e maldade. O bebê-diabo em toda sua força.

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A Primeira Profecia, filme que chega aos cinemas no dia 4 de abril, tenta contar uma história que até agora, havia sido apenas mencionada, que é a da concepção da criança e toda a conspiração para que ela, de fato, se tornasse realidade.

Dirigido por Arkasha Stevenson, no seu primeiro trabalho como diretora de um longa metragem, o filme não só funciona como prequel do clássico, como também é um forte filme de terror, com uma história envolvente, boas atuações e momentos genuinamente perturbadores.

Em dúvida sobre a fé

A Primeira Profecia conta a história de Margareth, uma jovem americana que viaja para Roma para se tornar freira da Igreja Católica. Criada em um orfanato, seguir os caminhos da religião sempre foi o plano de sua vida e essa nova fase parece empolgante para a jovem.

Ela é alocada para trabalhar em um orfanato apenas de meninas, onde é recepcionada pela Irmã Silva, interpretada pela atriz brasileira Sônia Braga (Bacurau). Aos poucos, a jovem Margareth vai conhecendo mais o lugar, como uma colega que também está prestes a se tornar freira, e uma adolescente, Carlita, que é mantida fechada dentro do orfanato.

Durante aproximadamente metade do filme, a história segue por um caminho independente e totalmente focado na experiência da noviça e seus questionamentos em relação à sua fé. A atriz Nell Tiger Free (Servant) faz um excelente trabalho no papel principal de uma jovem com um passado conturbado, mas que tenta encontrar na religião um propósito para a sua vida.

Começando como uma pessoa inocente e que vai perdendo esse brilho ao descobrir segredos cada vez mais sombrios da Igreja, a forma como a atriz se porta ajuda a levar o filme até onde ele precisa ir com bastante competência.

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O horror pelo olhar feminino

Antes do lançamento de A Primeira Profecia, tive a oportunidade de conversar com a diretora Arkasha Stevenson sobre o filme e perguntei a ela a questão do horror e da violência do filme. O longa realmente tem algumas cenas pesadas, mas que me fizeram lembrar da resposta que recebi da diretora.

“Toda violência representada no filme não é gratuita e nós tentamos levar tudo para o lado do horror corporal, principalmente no que se trata do corpo feminino”. Essas palavras ecoaram na minha cabeça na forma como a própria trama sobre concepção e o uso do corpo feminino como instrumento para planos sórdidos.

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Algumas cenas são realmente incômodas nesse sentido e podem ter um impacto ainda mais forte no público feminino do que tiveram em mim durante a sessão. Sinto que o filme poderia ter ido até um pouco mais para esse lado, usando o horror como uma forma de crítica à forma como o corpo de mulheres é tratado na sociedade e o papel que muitas vezes elas são obrigadas a desempenhar.

Sempre quando parece que ele pode seguir esse caminho, retorna para o que estava fazendo antes, buscando prosseguir dentro dos limites da franquia. Isso não chega a ser um problema, já que parece ser algo feito deliberadamente, mas mostra que a diretora tem mais o que dizer sobre esse tema, mas por estar fazendo a sua estreia e já trabalhando com uma propriedade como A Profecia, tocou o assunto superficialmente e não se deixou levar como poderia.

Se você é alguém que se impressiona com imagens de partos, o filme tem uma ou duas cenas que vão te deixar bastante incomodados. Até mais que alguém se jogando em chamas de uma sacada.

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Uma ponte com novos caminhos

A Primeira Profecia reserva a sua segunda metade para de fato unir a sua trama com a do primeiro filme, de 1976. A maneira como ele faz isso é esperada e diria que até com a tentativa de uma reviravolta que não é das mais impressionantes, mas que ainda funciona muito bem.

Existem algumas mudanças feitas ao cânone da franquia que deixam as coisas fazendo muito mais sentido, principalmente no que se diz respeito à forma como Damien foi de fato concebido. Não consigo imaginar fãs reclamando sobre isso, mas a mudança de alguns elementos, até então inéditos à série, me levam a crer que o 20th Century Studios e a diretora e roteirista Arkasha Stevenson têm mais planos do que o imaginado.

No fim das contas, A Primeira Profecia é um filme de terror competente, com boas atuações, bons sustos e imagens perturbadoras, servindo como uma ótima estreia para a sua diretora e que ainda deve agradar aos fãs da franquia.