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Crítica A Porta ao Lado | Filme acerta ao provocar reflexões sobre amor e sexo

Por| Editado por Jones Oliveira | 10 de Março de 2023 às 19h30

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Desiree do Valle/Morena Filmes
Desiree do Valle/Morena Filmes

O que é traição para você? Um beijo, uma troca de mensagens, o sexo casual? Essas e outras perguntas são provocadas por A Porta ao Lado, o novo filme de Julia Rezende (Meu Passado Me Condena). Com um texto afiado e um elenco de peso, o longa instiga o espectador a repensar suas certezas em relação ao amor e desejo.

A trama começa mostrando quatro pessoas em um elevador. São os protagonistas Mari (Letícia Colin), Rafa (Dan Ferreira), Fred (Túlio Starling) e Isis (Bárbara Paz). O clima tenso já entrega que algo aconteceu entre eles, e então o longa dá alguns passos atrás para contar essa história.

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Casados há algum tempo, Mari e Rafa são o típico casal tradicional, que vive do trabalho para casa e não gosta de muitas novidades. A vida dos dois ia bem — ou pelo menos era o que eles achavam —, mas tudo muda quando Fred e Isis passam a morar no apartamento ao lado. Vizinhos, os quatro começam uma relação cordial, mas pouco a pouco vão criando uma perigosa intimidade.

Solar e espontânea, Isis é quem chama o casal mais tradicional para uma festa em sua casa. Dona do seu desejo, ela vive um relacionamento aberto com Fred, um jovem que ainda está buscando encontrar sua vocação profissional. Os dois não se importam em ver o parceiro beijar outra pessoa, ou até mesmo sair para encontrar alguém, mas encontram na lealdade a chave-mestre para fazer a relação funcionar.

Mari, por sua vez, está em uma relação monogâmica com o marido e afirma que relacionamento aberto é desespero de casal que já perdeu o tesão e quer encontrar uma saída. O que fica nítido, no entanto, é que nem ela e nem Rafa colocam seus sentimentos e desejos na mesa. Os dois vivem amargurados um com o outro, em uma espécie de guerra fria. Ela, morta de vontade de transar com o vizinho, e ele paquerando as colegas de trabalho na internet.

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O próximo passo: a traição

Não demora muito para que Mari caia nos braços de Fred, o vizinho sedutor. A partir de então, o filme constrói uma relação de desejo e culpa. De um lado, ela está se satisfazendo sexualmente, mas traindo o marido; do outro, ele, um homem livre para fazer o que quiser.

O texto bem elaborado de A Porta ao Lado pelos roteiristas L.G. Bayão, Patricia Corso e Leonardo Moreira nos tira da posição de conforto e faz pensar se existe alguém realmente certo ou errado nessa situação.

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Avançando na trama, as cenas de Mari e Rafa também agradam, especialmente aquelas em que eles discutem se querem casar e/ou ter filhos. O embate final entre o casal entrega uma verdade: Mari traiu porque teve coragem de trair, já Rafa preferiu se calar na sua angústia, flertando apenas pelas redes sociais. Qual dos dois errou primeiro? Essa é uma pergunta que fica martelando na cabeça do espectador.

Bons personagens e ganchos interessantes

O bom desenvolvimento dos personagens de A Porta ao Lado não é mérito apenas do texto. Os quatro protagonistas entregam atuações precisas e adequadas. Bárbara dá o tom certo a Isis e cria uma mulher agitada e um tanto quanto extravagante, que sabe o que quer e, especialmente, o que não quer: ser mãe.

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Colin, por sua vez, se afasta da intensa e viciada Amanda, que viveu na minissérie Onde Está Meu Coração?, e cria uma mulher que ainda não entende bem os seus desejos e que se ressente por trabalhar em um restaurante que foi comprado pelo seu marido.

Os rapazes também não decepcionam. Tanto Dan Ferreira quanto Túlio Starling, que viveu Chico na novela Pantanal, entram no ritmo adequado e mostram boas trocas com as parceiras.

O que não pode passar em branco, no entanto, é a brilhante participação de Louise Cardoso. Veterana da televisão, ela vive a mãe de Mari, e embora apareça pouco em cena, entrega uma discussão brilhante com a filha.

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Racismo x machismo: o que dói mais?

Ainda falando em embate, umas das melhores cenas acontece quando Mari e Rafa discutem na hora do sexo. Ele, encarnando um típico homem com masculinidade frágil, se ofende por ela querer usar um vibrador para apimentar a relação. A partir daí, os dois começam a discutir e entram em uma disputa para saber quem é o mais oprimido: ela, branca, mas mulher em uma sociedade machista; ou ele, homem, mas negro em uma sociedade racista.

A discussão não é muito aprofundada, afinal não fazia parte da intenção do filme, mas é suficientemente precisa para nos fazer refletir.

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E, já que falmos em sexo, é importante ressaltar que o filme abusa sim de cenas de intimidade, mas todas são conduzidas com muita delicadeza e atenção por Julia Rezende (a diretora). Sem expor os atores à nudez desnecessária, o filme não promove momentos constrangedores.

Em coletiva de imprensa, ela garantiu que o longa mostraria o sexo de uma perspectiva feminina, com o foco sendo na mulher sentindo prazer, e é exatamente isso que ele faz, de maneira sutil e singela.

A Porta ao Lado mostra como não existe apenas um lado certo da história

Construído de forma inteligente, A Porta ao Lado é um acerto do cinema nacional e uma obra boa que nos convida para um mergulho dentro de nós mesmos. Sem buscar respostas, o longa opta por mostrar as diferentes formas de relacionamento e acordos possíveis entre um casal — ou grupo —, e as discussões que tais acordos podem trazer à tona.

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Julia Rezende acerta ao construir a trama com delicadeza, sem forçar estereótipos.

A Porta ao Lado está nos cinemas de todo Brasil e as entradas podem ser compradas pelo site ingresso.com