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Crítica A Cor Púrpura | Musical encanta pelo visual, mas tem problema de ritmo

Por| Editado por Durval Ramos | 08 de Fevereiro de 2024 às 19h00

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Divulgação/Warner Bros.
Divulgação/Warner Bros.

Na literatura, é comum que algumas obras demorem anos para terem sua importância reconhecida, ganhando pouco a pouco respeito dentro do seu gênero ou assunto. Por outro lado, há livros que já nascem clássicos e são imediatamente reconhecidos como uma obra de impacto dada sua importância histórica e cultural.

A Cor Púrpura, romance epistolar de Alice Walker lançado em 1982, é um desses livros que mal chegou às livrarias e todos já sabiam ser especial. Vencedor do National Book Award for Fiction e do Pulitzer Prize for Fiction (o que fez de Alice a primeira mulher negra a ganhar o prêmio), o livro se tornou uma das grandes obras de seu tempo, trazendo para o centro do debate temas como racismo, misoginia e desigualdade social.

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Três anos depois, ele ganhou uma adaptação para os cinemas e, contrariando as expectativas, mostrou ser possível fazer uma versão para as telonas tão bonita e impressionante quanto o material original.

Dirigido por Steven Spielberg (Os Fabelmans) e considerado pelo próprio diretor um divisor de águas em sua carreira, o filme de A Cor Púrpura foi indicado a 11 Oscars e lançou Whoopi Goldberg (Mudança de Hábito) para o estrelato.

Agora, sua história ganha uma nova versão, dessa vez baseada na peça da Broadway criada a partir do livro de 1982. Dirigido por Blitz the Ambassador (Black is King) e estrelado por Fantasia Barrino, o musical reimagina A Cor Púrpura sob um olhar mais colorido e teatral, que embora ainda seja tocante e conte com atuações impressionantes, diminui a carga dramática da obra.

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Uma história de abusos e violência

Ambientado no sul dos EUA, no início do século XX, A Cor Púrpura segue os passos de Celie, uma garotinha negra de 14 anos que é repetidamente abusada pelo pai. Grávida de seu segundo filho, ela é mais uma vez separada do bebê assim que ele nasce, ficando novamente sem saber que destino seu pai deu a criança.

Nesse cenário de desespero, seu único conforto é Nettie, sua irmã mais nova e melhor amiga, responsável por deixar os dias de Celie um pouco mais esperançosos. Inseparáveis, as garotas fazem tudo juntas e Nettie, que está estudando para ser professora, ensina Celie a ler.

Um dia, Celie é vendida por uma vaca e alguns ovos para um homem rude da cidade, e Nettie, cansada das investidas sexuais do pai e do novo marido da irmã, foge do local, prometendo a Celie que escreverá. Conforme os anos avançam, no entanto, a protagonista não tem notícias da irmã e passa a aceitar a vida de abusos, maus-tratos e desprezo que tem ao lado de Mister.

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De maneira bastante tocante, o musical de A Cor Púrpura cobre então as próximas quatro décadas da vida de Celie, mostrando os abusos físicos e mentais vividos pela personagem, mas também sua redescoberta da vida – alcançada anos depois com a ajuda de outras mulheres negras.

Nova versão quebra imersão da história

Embora se mantenha fiel à trama de Alice Walker, A Cor Púrpura de 2023 é estruturada com base no musical da Broadway, o que significa que a produção é dividida em blocos que misturam diálogos, canções e muitas coreografias.

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Esse roteiro diferenciado – e que marca a principal mudança em relação à obra de Spielberg –, tem, no entanto, dificuldades para funcionar nas telonas, ainda que a maior parte das canções dos palcos continuem no filme e Fantasia Barrino e Danielle Brooks reprisem seus papéis de Celie e Sofia.

Na prática, isso significa que o longa-metragem adapta o grosso da história de Celie, mas não consegue manter seu ritmo visceral. Enquanto no filme de 1982 o telespectador emerge na história da protagonista, aqui o drama é sempre quebrado por um número musical, que compromete a fluidez das cenas e apressa determinados momentos da história.

Ao longo da trama, isso fica visível até mesmo no arco de alguns personagens, como é o caso de Mister (Colman Domingo), que tem um segmento de redenção mal explicado e mostrado de forma abrupta no filme.

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Visual e atuações impecáveis

Apesar de todos esses problemas, há dois pontos essenciais que suavizam a falta de ritmo de A Cor Púrpura: as interpretações de seu elenco e o design de produção impecável do longa-metragem.

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Estrelado por Taraji P. Henson e Corey Hawkins, além dos já citados Fantasia Barrino, Colman Domingo e Danielle Brooks (essa última merecidamente indicada a Melhor Atriz Coadjuvante do Oscar), o filme dá um show de atuação do começo ao fim, acertando na medida teatral de cada cena.

Além das atuações, os atores brilham nas interpretações musicais do filme, que teve 16 músicas adaptadas do musical da Broadway e a canção Miss Celie's Blues (Sister) trazida diretamente do longa de 1985.

Isso tudo, é claro, ganha ainda mais força com a ambientação primorosa do filme e com os figurinos dos personagens (assinados pela designer Francine Jamison-Tanchuck), que se tornam mais coloridos, exuberantes e belos conforme o tom da narrativa muda.

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Bonito, mas inconstante, A Cor Púrpura é um musical que impacta pelo visual e pela força de seus atores, mas que sofre com problemas de roteiro e edição. Embora tenha números musicais muito tocantes, o filme não alcança a mesma profundidade do livro de 1982, o impacto do filme de Spielberg ou mesmo o brilho da peça da Broadway.

Questões que, obviamente, pesam em sua análise, mas não são suficientes para estragar sua experiência.