9 momentos-chave de Star Wars para se preparar e assistir A Ascensão Skywalker
Por Rafael Rodrigues da Silva | •
Com a estreia de A Ascensão Skywalker nesta quinta-feira (19), a chamada “Saga Skywalker” de Star Wars finalmente chegará ao fim, então não é à toa que essa é uma das estreias mais aguardadas do ano.
Apesar de estarem ansiosos, há muitos fãs que não se lembram muito bem de tudo o que aconteceu na história até aqui. Isso é muito compreensível: afinal, são 8 filmes espalhados num período de 42 anos, então não é algo tão absurdo que muita gente que gosta da saga, mas que não vive por ela, não se lembre exatamente de tudo o que aconteceu até aqui.
Por isso, o Canaltech listou os 9 momentos-chave para relembrar a história de Star Wars e ajudar você a entender o que ainda está em jogo nesse próximo filme. Assim, é preciso deixar claro que essa não é uma recordação dos “melhores momentos da saga” em si, mas sim daqueles que são os mais importantes para se entender tudo o que deverá acontecer e o que estará em jogo em A Ascensão Skywalker.
ATENÇÃO: Essa matéria contém spoilers de todos os filmes da saga Star Wars, então se você não assistiu a todos os filmes da franquia prossiga por sua conta e risco.
1. Palpatine seduz o jovem Anakin
Filme em que acontece: Episódio III: A Vingança dos Sith
Focada em nos mostrar a transformação de Anakin Skywalker no temido Darth Vader, a trilogia prequel enrola bastante com coisas como corridas de pod e a política de impostos intergalática, mas também nos mostra um dos momentos mais importantes de toda a saga: a transformação de Anakin no vilão Darth Vader.
Esse momento é importante porque, pela primeira vez, nos mostra como funciona a sedução do Lado Negro: os Sith não necessariamente nascem maus, mas muitas vezes surgem daquela ideia de que “os fins justificam os meios” caso a intenção principal por detrás deles seja boa. É o que acontece com o jovem Anakin: aterrorizado com os sonhos proféticos de que Padmé Amidala, sua amada, está morrendo, ele se deixa consumir pelo medo da solidão e pelo desespero em salvá-la a qualquer custo. E é esse medo que o Senador Palpatine — que nesse filme também se revela como sendo o Mestre Sith Darth Sidious — utiliza para convencer o jovem a se deixar seduzir pelo Lado Negro, prometendo a ele poder suficiente para até mesmo trazer alguém de volta à vida.
A cena também nos mostra como a sedução pelo Lado Negro pode tornar as pessoas cegas para qualquer coisa que não seja o seu próprio umbigo: ainda que o objetivo de Anakin para se deixar seduzir fosse se tornar forte suficiente para proteger alguém que ama (o que em si é louvável), ele não hesita em atacar outros Jedi e até mesmo matar dezenas de crianças apenas porque seu novo mestre falou que “precisava ser assim”. Cego para tudo o que não fosse sua própria ambição, Anakin obedece à ordem sem hesitar, mostrando que uma das principais características que distingue os Jedi dos Sith é a total falta de empatia por qualquer coisa que não esteja diretamente ligado a seus objetivos, fazendo com que a morte de crianças ou a chacina de planetas inteiros não seja vista como um crime terrível, mas apenas algo “necessário”, e confundindo a opressão de toda uma galáxia com a pacificação da mesma.
Esse momento também é muito importante porque, pela primeira vez, nos é mostrado quem é o Mestre Sith responsável por todos os eventos mais problemáticos da galáxia, como a queda da República e a execução da Ordem 66, que em minutos acaba com praticamente todos os Jedi. Nos apresentado apenas como um político habilidoso até então, Palpatine se mostra muito mais do que isso — e, se ele for mesmo retornar em A Ascensão Skywalker como os trailers indicam, isso também quer dizer que ele é o grande vilão de toda a saga Star Wars.
2. Luke destrói a primeira Estrela da Morte
Filme em que acontece: Episódio IV: Uma Nova Esperança
Por conta do baixo orçamento, o filme de 1977 utiliza a Força menos como um poder mágico e mais como uma espécie de guia espiritual do protagonista, algo que ele deve “sentir” para poder ter acesso a um novo mundo de possibilidades que nunca tinham passado pela cabeça dela.
E o momento que pela primeira vez nos define o que um Jedi é capaz de fazer apenas se deixando guiar pela Força é no clímax do longa. Luke tinha uma missão impossível — destruir uma fortaleza espacial altamente protegida e capaz de destruir planetas inteiros — e a única maneira de fazer isso era com um tiro impossível até mesmo para o piloto mais experiente da frota Rebelde, o que tornava ainda mais improvável que um fazendeiro de Tatooine que nunca pilotou uma X-Wing conseguiria ter êxito. Mas, ao confiar na Força como um guia, Luke não apenas consegue se esquivar dos diversos TIE Fighters do Império e das defesas fixas da Estrela da Morte, como ainda acertar o tiro impossível no minúsculo buraco exaustor que marcava o ponto fraco do projeto, destruindo a temida Estrela da Morte e garantindo a vitória que há tanto tempo a resistência necessitava.
3. Darth Vader revela ser o pai de Luke Skywalker
Filme em que acontece: Episódio V: O Império Contra Ataca
Quando Darth Vader corta a mão direita de Luke Skywalker e revela que ele não matou o pai do herói, mas que é o próprio pai dele, esse é certamente não apenas o momento mais importante de toda a saga de Star Wars, mas talvez a revelação mais importante de toda a história do cinema.
Essa única fala cria toda uma nova profundidade para a história: nessa única cena, Star Wars deixa de ser um conto de fadas que se passa no espaço e se torna uma verdadeira tragédia grega. Quando levamos em consideração também a trilogia prequel (que só foi criada duas décadas depois) fica claro que a história de Darth Vader é a história de Édipo, o jovem que tinha tanto medo de um futuro profético e que se esforçou tanto para mudá-lo que o próprio esforço em fazer algo diferente acabou tornando esse temido futuro em realidade.
No momento que Vader revela sua verdadeira identidade para Luke, há também toda uma quebra de expectativa no público: a ideia de que o vilão pode não ser apenas um poço de maldade surgido das profundezas do inferno, mas alguém com relação direta ao herói. Essa era uma noção que, apesar de comum na literatura, ainda não era usada no cinema, e essa única cena de O Império Contra-Ataca acabou, direta e indiretamente, influenciando o modo como a mídia de cinema evoluiu nos próximos 40 anos.
4. Luke e Darth Vader se juntam para derrotar O Imperador
Filme em que acontece: Episódio VI: O Retorno de Jedi
Esse é o momento em que nos é mostrado o exato oposto daquilo que vimos em A Vingança dos Sith: enquanto o episódio três nos mostra que até mesmo pessoas com boas intenções podem ser seduzidas pelo Lado Negro, O Retorno de Jedi nos lembra que ninguém está além da salvação.
Quando Luke, após derrotar Vader no duelo de sabres, se recusa a matar seu próprio pai e, então, é atacado por Palpatine, Vader se lembra da pessoa que era antes de ser seduzido pelo Lado Negro e, usando todas suas últimas forças, derruba Darth Sidious num fosso, matando (?) o Lorde Sith. Nesse momento, Anakin abandona de vez o Lado Negro, realiza a profecia de que seria ele o responsável por trazer equilíbrio à Força, e dá seu último suspiro novamente como um Jedi — algo que é confirmado no final do filme, quando o fantasma de Anakin aparece para Luke ao lado dos fantasmas de Ben Kenobi e Yoda.
A história de redenção de Anakin é aquilo que chamamos de um “círculo perfeito” na narrativa: enquanto o responsável pela queda do personagem para o Lado Negro foi um amor obsessivo por alguém que ele não aceitava que poderia um dia morrer, é o amor desprendido do filho — que arrisca a própria vida ao se recusar a matá-lo — que o faz se lembrar da pessoa que ele sempre foi e das promessas de salvar o mundo que ele fez à sua amada antes de ser seduzido pelos Sith, finalmente compreendendo o erro de seus atos e usando o seu último suspiro numa tentativa de redenção. E, como a história de Star Wars é sempre uma narrativa circular, devemos esperar uma espécie de redenção parecida para Kylo Ren em A Ascensão Skywalker.
5. Kylo Ren mata Han Solo
Filme em que acontece: Episódio VII: O Despertar da Força
Quando Kylo Ren atravessa o corpo de Han Solo com o sabre de luz, essa foi não apenas uma das cenas mais emocionantes para os fãs da saga, mas uma das mais importantes para entendermos o papel que Kylo representa nela. Ao matar seu próprio pai, ele renega de vez a identidade de Ben Solo, afirmando-se como um cavaleiro do Lado Negro da Força.
Apesar de ter sido criado sob diversos exemplos de seguidores dos preceitos dos Jedi — como os pais Han e Leia, e o tio Luke, que foi responsável por seu treinamento — ele sempre teve uma maior admiração pela figura do avô que nunca conheceu: Darth Vader.
Assim, ao matar seu próprio pai, Kylo recria o mesmo sentimento de quando Vader matou Ben Kenobi: o de aniquilar com as próprias mãos a última ligação dele a uma vida anterior ao Lado Negro. Ainda que Kenobi não fosse o pai biológico de Anakin, ele sempre foi muito mais do que um mestre para o garoto, e serviu como a figura do “irmão mais velho” para o rapaz que deixou a vida de escravo em Tatooine para se tornar um Cavaleiro Jedi. Assim, o filme retoma a ideia de que o sacrifício dos laços familiares é algo necessário para que alguém assuma seu papel no Lado Negro, e Kylo é alguém que, mesmo que ainda pareça ter dúvida sobre essa escolha, está disposto a levar ela até às últimas consequências.
6. Rey toma o sabre de luz que pertenceu à Luke
Filme em que acontece: Episódio VII: O Despertar da Força
Uma das cenas mais impactantes do filme é bem no final, quando Rey usa os poderes da força para recuperar o sabre de luz perdido por Finn e ter seu primeiro duelo contra Kylo Ren. Isso porque o sabre de luz que ela empunha naquele momento possui toda a história da família Skywalker por trás: é o sabre que pertenceu a Anakin enquanto ele ainda fazia parte da ordem Jedi, e que foi presenteado a Luke Skywalker por Ben Kenobi quando este descobriu sobre a linhagem Jedi.
Foi esta a arma usada por Anakin para matar todas as crianças ainda em treinamento na Academia Jedi, quando foi abandonado por Obi Wan para morrer em Mustafar, e também a que Luke empunhava quando descobriu que Darth Vader era, na verdade, o seu pai. Esse sabre de luz é a arma que carrega em si os momentos mais importantes de toda a franquia e, quando Rey a empunha, é como se ela pegasse para si o papel de continuar a linhagem e a luta dos Jedi.
Também nessa cena vemos o conflito presente no âmago de Kylo: mesmo que o garoto tenha acabado de matar o seu pai para defender o ponto de que tudo o que importa para ele agora é servir ao Lado Negro, ele olha com verdadeiro desespero quando vê Rey empunhando a arma que pertenceu a seu pai e a seu avô e que, na teoria, deveria ser uma herança dele. O fato de ele ainda desejar isso mostra que, apesar de ter matado o próprio pai, ele não se desprendeu totalmente de seu passado, e é um dos indícios de que poderemos esperar uma história de redenção do personagem no último filme.
7. Rey e Kylo conversam durante o treino
Filme em que acontece: Episódio VIII: Os Últimos Jedi
Essa cena é a raiz de vários memes desde que o filme estreou nos cinemas, e pouca gente curtiu a ideia de a protagonista e o vilão do filme ficarem de papinho pelo "Forcetime". Mas essa é uma cena importante para estabelecer uma relação entre o vilão e o herói para o grande confronto, algo que sempre foi uma constante na saga.
No caso da trilogia prequel, Anakin e Obi Wan tinham uma relação não de apenas mestre/discípulo, mas eram praticamente irmãos, o que fez com que a batalha final entre eles tivesse todo um peso emocional por trás. A mesma coisa com Luke e Darth Vader: Luke já sabia que o líder do Império era seu pai quando chega para um último confronto em O Retorno de Jedi, o que também coloca um enorme peso emocional no duelo. Agora, entre Kylo e Rey, até então não havia nenhum tipo de relação ou elo entre eles, que eram apenas dois desconhecidos que sabiam controlar a Força e possuíam um sabre de luz.
E é nessa cena que tudo muda: são nessas conversas que eles têm durante o treinamento de Rey por Luke que os dois se aproximam, descobrindo que possuem muita coisa em comum e que poderiam até mesmo ser amigos caso não estivessem em lados opostos do conflito. E é isso que irá gerar todo o peso emocional necessário para o inevitável duelo final entre eles, pois essa aproximação não apenas serve para Rey enxergar que o adversário dela não é a “raiz de todo o mal” e que tem tanta coisa em comum com ela mesma que, caso as coisas fossem diferentes, poderia até mesmo ser ela a líder da Primeira Ordem. A conversa também serve para fazer Kylo se lembrar mais uma vez de seu passado, mantendo a existência dessa conexão com uma época onde ele ainda não pertencia ao Lado Negro — e isso tudo é mais um bloco narrativo em um possível arco de redenção do último representante da família Skywalker.
8. Luke conta para Rey porque se isolou do mundo
Filme em que acontece: Episódio VIII: Os Últimos Jedi
Essa é uma das cenas mais belas e poéticas de toda a franquia — e também um das mais odiadas pelos fãs — justamente por fazer algo que notabilizou o nome de Star Wars como uma das sagas mais importantes do cinema: subverter a expectativa do público.
Assim como Kylo Ren enxerga Darth Vader de forma idealizada, literalmente colocando a figura dele em um pedestal, Luke também era visto pelos fãs de forma tão idealizada quanto, como a figura do herói perfeito e sem falhas que salvou a galáxia sozinho e é a pessoa mais poderosa do mundo. E essa cena vem justamente para quebrar toda essa “aura divina” do personagem.
Quando Luke revela o porquê resolveu se isolar do mundo — por ter pensado em matar Ben Kenobi baseado numa visão de que seu discípulo seria o responsável por trazer o Lado Negro de volta para o mundo —, voltamos a enxergar o tema da narrativa cíclica na história de Star Wars, no qual Luke passa pela mesma provação do pai (um sonho premonitório sobre um futuro sombrio) e, assim como Anakin antes dele, também falha ao lidar com esse sonho, e é justamente a tentativa de deixar de lado tudo aquilo que sempre defendeu numa tentativa de mudar o futuro que acaba tornando esse futuro realidade. Ao mesmo tempo, a cena também traça um paralelo com a história de Yoda, que ao falhar em prever a Ordem 66 — que aniquilou praticamente todos os Jedi da galáxia — ao invés de continuar lutando o velho mestre resolveu se isolar em um planeta afastado, pois não se achava digno de continuar vivendo com Jedi —sentimento que também é compartilhado por Luke.
Mesmo que Luke no fim não tenha dado o golpe de misericórdia, ao levantar seu sabre de luz contra um Kylo Ren indefeso enquanto dormia — que acordou com a visão de seu tio e mestre debruçado sobre ele pronto para matá-lo — foi ele que inseriu no coração de Kylo o medo que foi a semente para levar o jovem ao Lado Negro. Luke passou por seu momento de “tentação de Cristo” e sucumbiu a ela, falhando em seu papel como Jedi, mas mostrando para todos que ele não é uma figura perfeita que deve ser idolatrada, mas apenas alguém tentando fazer o melhor possível e nem sempre conseguindo, como qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta.
9. Kylo pede para que Rey se junte a ele para dominarem a galáxia
Assim como a cena anterior, esta também é belíssima por conta de seus paralelismos com os filmes anteriores e que continuam a narrativa cíclica da saga. Quando no final do filme, após os dois se aliarem para derrotar o Supremo Líder Smoke, Kyle pede para que Rey abandone os Jedi e se junte a ele para dominarem a galáxia juntos, esse momento remete diretamente à cena mais famosa de O Império Contra Ataca (e de toda a saga Star Wars) quando, após revelar que é o pai de Luke, Darth Vader pede para que seu filho também abandone a Aliança Rebelde e os Jedi e se junte a ele para dominarem a galáxia juntos.
Mas a grande diferença no pedido mostra bem a diferença entre Darth Vader e o “Darth Vader wannabe” que é Kylo Ren: enquanto a voz grave e potente de James Earl Jones faz com que o convite à Luke se pareça menos com um pedido e mais com uma ordem, a atuação de Adam Driver — que termina a fala com um rápido e tremido, quase choroso, “por favor” — faz com que o convite se pareça menos com um pedido e muito mais com uma súplica. Enquanto Darth Vader exala poder e autoridade, Kylo não consegue deixar de ser um jovem em eterna dúvida sobre suas escolhas e o seu próprio potencial, e isso fica claro em seu pedido para Rey se juntar a ele, pois o modo como ele o faz demonstra uma necessidade íntima de ter alguém ao seu lado com quem ele pode dividir todas as suas dúvidas e receios - algo que ele pôde sentir pela primeira vez nas conversas que teve com Rey durante o treinamento dela, e que claramente não gostaria de perder.
Mais uma vez, essa é outra cena que serve como o prelúdio de um possível arco de redenção para Kyle, que apesar da idolatria à Darth Vader não parece estar tão certo de se seu papel no mundo é mesmo no papel de um Sith. Ironicamente, ainda que Kyle a todo momento tente demonstrar para o mundo que é a “reencarnação” do poder absoluto de Darth Vader, ele parece não conseguir evoluir para além do Anakin em seu ponto mais vulnerável de A Vingança dos Sith, frustrado por suas escolhas de vida e que quer descontar no mundo a raiva que sente de si mesmo.