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Por que desertos são frios à noite e quentes de dia?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 05 de Novembro de 2021 às 14h15

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Walid Ahmad/pexels
Walid Ahmad/pexels

Desertos são frios à noite. Porém, muito quentes de dia. Por que isso acontece? Bem, os climas desérticos são reconhecidos por pouca ou nenhuma chuva, além de elevadas amplitudes térmicas, isto é, uma grande variação entre as temperaturas máximas e mínimas registradas em determinado intervalo de tempo. Durante o dia, os termômetros podem alcançar até 50 °C, mas, quando o Sol se põe, as temperaturas caem para uma média de até - 3,9 °C. Então, o que faz com que os desertos sejam frios à noite, embora quentes ao dia?

Pode até parecer óbvia a razão pela qual os desertos apresentam elevadas temperaturas quando o Sol ainda aponta no céu, porque eles são livres de vegetação e também de água — portanto, de umidade. Mas o motivo de suas noites serem frias não é tão simples. Por isto, é necessário compreender alguns conceitos como, por exemplo, a capacidade que a areia tem em reter e perder calor para o seu meio.

Desertos frios à noite têm relação com a umidade e capacidade térmica

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Os desertos, em geral, recebem pouquíssima chuva durante o ano — uma média de 250 milímetros anualmente. Para efeitos de comparação, as florestas tropicais recebem mais de 2.000 milímetros de chuva por ano, ou seja, as regiões desérticas recebem cerca de 10% do total das regiões tropicais. Por esta razão, o bioma apresenta baixa ou nenhuma umidade relativa no ar. Acontece que o vapor da água atua como um "cobertor" que retém parte do calor da superfície após o Sol se pôr.

Então, nos desertos, a ausência de umidade permite que a superfície perca rapidamente o calor retido durante o dia, com a incidência do Sol. E, além da baixa umidade, há outro elemento que explica a grande variação entre as temperaturas diurnas e noturnas. Os desertos são, em sua maioria, ambientes repletos de areia e rochas. Durante o dia, essa camada arenosa funciona como uma espécie de espelho, refletindo boa parte da luz do Sol que incide sobre ela, razão pela qual os dias nestes ambientes são tão quentes.

Quando anoitece, por não existir cobertura de nuvens ou umidade no ar para guardar parte do calor, a areia perde calor rapidamente. Isso porque a areia e as rochas possuem uma baixa capacidade térmica — isto é, assim como armazenam rapidamente o calor, também o perdem na mesma velocidade. Isso ao contrário da água, que tem uma capacidade térmica bem maio — tanto é que a umidade produz um efeito estufa capaz de prolongar o calor liberado pela superfície durante a noite.

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É importante destacar que nem todos os desertos do mundo ficam tão frios durante a noite, já que alguns deles possuem alguma umidade relativa no ar, diminuindo a amplitude térmica destes lugares. Um exemplo disso é Dubai, cujo dia atinge temperaturas médias de 30 ºC a 40 °C e, à noite, caem para de 20 ºC a 30 °C, mais ou menos. Isso porque a cidade está localizada nos Emirados Árabes Unidos, região costeira sujeita à umidade do Golfo Pérsico, no Oriente Médio.

Bioma adaptado dos desertos

Um bioma é o conjunto de vida animal e vegetal presentes em uma mesma região e, portanto, é determinado pela geologia e clima local. Isso significa que qualquer organismo vivo que habita os desertos do mundo — como o famoso Saara no norte da África ou o Deserto do Atacama, no Chile — está adaptado à grande varição térmica e baixíssima ou nenhuma umidade.

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Talvez o maior exemplo de vida bem adaptada ao clima árido e desértico seja o cacto. Esta planta desenvolveu habilidades aprimoradas para armazenar a rara água no deserto, adaptando seu caule e folha. Por serem grossos, eles diminuem a evapotranspiração, ou seja, a perda de água pela transpiração das folhas. E como a água no deserto "vale ouro", os espinhos do cacto o defendem de outras espécies.

Quanto a animais, os répteis são o grupo animal mais abundante e diversificado dos biomas desérticos. Por serem ectotérmicos (animais “de sangue frio”), eles são bem adaptados para lidar com a variação extrema de temperatura. Porém, isso não significa que eles suportem todo o calor diurno e o frio noturno sem dificuldades — para o dia, a sombra das rochas oferece um alívio; já à noite, é o pouco de calor armazenado nelas que dá uma "ajudinha".

Mudanças climáticas afetam os desertos

Entre as muitas alterações climáticas que o mundo enfrenta atualmente, está a mudança no ciclo da água e, portanto, das chuvas e das nuvens. A lógica por trás disso é bem simples: uma Terra mais aquecida será mais úmida. Os relatórios climáticos mais recentes, como o Sexto Relatório de Avaliação (AR6) da ONU, revelam que, até 2030, atingiremos a marca de 1,5 °C de aquecimento global em comparação à média registrada no período pré-industrial.

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Diante das taxas de emissão de gases de efeito estufa que não param de crescer, a tendência é que o clima da Terra continue a esquentar. As primeiras consequências já podem ser percebidas, como é o caso das temperaturas noturnas que estão subindo mais rapidamente que as diurnas. Conforme a cobertura de nuvens aumenta, o calor noturno é prolongado.

E, para os desertos, estas alterações não produzirão mais chuvas — muito pelo contrário. A pouquíssima precipitação anual das áreas desérticas será ainda mais reduzida e, a partir de então, estes biomas terão um grande desafio pela frente, que é o de se adaptar a uma mudança ocorrendo em um ritmo cada vez mais acelerado. Muitas plantas e animais nativos dos desertos podem não ter sucesso na rápida adaptação necessária, levando a vida local ao colapso.

Fonte: NASA, WorldAtlas, Live Science