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Pando, o maior organismo vivo do mundo, está em perigo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Setembro de 2022 às 17h13

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J. Zapell/Domínio Público
J. Zapell/Domínio Público

Pando, o maior organismo vivo do mundo, está passando por problemas — seus 43 hectares 40 mil troncos individuais e 6615 toneladas estão sendo ameaçados pela pastagem de animais herbívoros, principalmente cervos, uapitis e gado. Também conhecido como Gigante Trêmulo, esse ser vivo é, na verdade, uma colônia clonal de uma espécie de árvore, o álamo-trêmulo (Populus tremuloides).

As árvores que compõem Pando podem parecer plantas individuais, mas compartilham um enorme aglomerado de raízes, tendo todas a mesma genética. Há cinco anos, cientistas realizaram a primeira pesquisa abrangente sobre o grande ser vivo vegetal, notando o mal que os herbívoros estavam fazendo ao limitar o crescimento de novas árvores pela pastagem. O ciclo estava começando a decair.

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Estudando e recuperando Pando

Em resposta à ameaça percebida, funcionários do parque nacional onde a floresta fica, em Utah, nos Estados Unidos, começaram a erigir uma cerca ao redor de um dos seus setores. Paul Rogers, um dos ecologistas responsáveis pela pesquisa sobre a floresta, retornou anos depois para avaliar a eficiência da estratégia e checar a saúde de Pando, reportando tudo na revista científica Conservation Science and Practice.

Notou-se que cerca de 16% da colônia ficou entro da cerca, e álamos novos conseguiram crescer ao tamanho de árvores. Cerca de 1/3 da colônia, no entanto, não ficou cercada corretamente, já que houve danos à cerca, reparada apenas tempos depois. Nesse setor, árvores mais velhas e já morrendo eram maioria, mas agora, espécimes novos estão em maior número, numa uniformidade ainda não saudável ao ecossistema.

Cerca de 50% da colônia não foi cercada, então cervos e gado consumiram a maior parte dos novos brotos. Nesse setor, álamos maduros morrem sem ser substituídos, gerando clareiras na floresta — com mais luz solar, a composição das plantas no solo muda. É aí onde está o maio declínio dos álamos, quebrando a homogeneidade da floresta.

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O buraco é mais embaixo

A solução, de acordo com a pesquisa, pode não ser cercar o restante da colônia. Essa solução acaba fazendo com que as áreas cercadas se regenerem, mas com árvores da mesma idade em um local onde, historicamente, plantas de diferentes tamanhos conviveram por séculos (mais de 80.000 anos, segundo algumas estimativas). Um padrão de crescimento diferenciado da colônia pode ter consequências que ainda não conhecemos.

Florestas de álamo abrigam grande biodiversidade, desde espécies únicas de pássaro, como o chapim, até framboesas, como a Rubus parviflorus. O decaimento de uma floresta única e importante como essa é, nas palavras de especialistas, como a morte de um canário em uma mina de carvão: um aviso de que o restante do ecossistema está em perigo.

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Além disso, cercar a colônia também levanta problemas éticos — a ação é descrita como sendo um "zoológico selvagem", algo bem-intencionado, mas que pode prejudicar o funcionamento natural da floresta. Segundo Rogers, é mais importante mirar na raiz dos problemas, com a presença de gado e cervos, por exemplo, do que num isolamento de Pando. Esse grande organismo ainda tem muito a nos ensinar acerca das interações humanas com a natureza — esperamos que de uma maneira saudável.

Fonte: Conservation Science and Practice, Global Ecology and Conservation