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No mínimo, desagradável | Saiba quais os ingredientes do cheiro da Roma antiga

Por  • Editado por Melissa Cruz Cossetti | 

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HBO/Divulgação
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Imaginar os ambientes da antiga Roma não é difícil — filmes e séries preenchem o imaginário visual e mesmo sonoro da civilização romana, evocando as sensações de como seria viver na época. Tem um aspecto, no entanto, que nenhum ser humano moderno pode experimentar: os cheiros do Império Romano. Não há como voltar no tempo para cheirar as vielas milenares da civilização, e há muito que não sabemos sobre a vida cotidiana antiga.

Há, no entanto, alguns vestígios de estruturas da época, textos descrevendo os ambientes e algumas evidências ambientais, como restos de plantas e animais. Não há como ter certeza de que capturamos tudo que era cheirado em Roma, mas, graças a cientistas como Thomas J. Derrick, da Universidade MacQuarie, há como ter uma ideia muito boa de como o olfato humano percebia o antigo império.

O cheiro de Roma

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Segundo os escritos de Plínio, o Velho, naturalista que viveu no primeiro século d.C., algumas palavras podiam descrever os cheiros romanos. Elas são iucundus (agradável), acutus (pungente), vis (forte) e dilutus (fraco), por exemplo. Como muitos imóveis não tinham o banheiro conectado ao sistema de esgoto, provavelmente para evitar a entrada de ratos e fedor, as casas possivelmente cheiravam mal.

O esgoto romano era mais parecido com um bueiro, servindo para levar a água parada para longe de áreas públicas. Latrinas e fossas, tanto domésticas quanto públicas, guardavam fezes para o uso na fertilização, bem como urina para processar tecidos. Recipientes portáteis, como as comadres, eram esvaziados nesses locais. Até isso, no entanto, era luxo dos moradores de casas, já que os mais pobres viviam em pequenos alojamentos comunais, cortiços ou mesmo nas ruas.

Os romanos criavam animais nas cidades e eles provavelmente deixavam muito cheiro, especialmente de seu esterco. As padarias usavam mulas e burros para puxar grandes pedras de moagem, cavalos eram usados para transporte e carga e gado era trazido para as cidades para o abate ou a venda. As calçadas eram altas e possuíam degraus que atravessavam a rua, e eram usadas pelos pedestres para evitar as fezes das pedras do calçamento — isso pode ser visto em ruínas como as de Pompeia.

Os cadáveres não tinham um padrão para descarte, seja de humanos ou de animais, e as classes mais baixas eram simplesmente deixadas para apodrecer ao ar livre. O escritor Suetônio descreveu, no século I d.C., o momento em que um cachorro carregou uma mão humana decepada até a mesa de jantar do imperador Vespasiano.

Higiene pessoal

Sem banho diário e perfumes modernos, os antigos romanos tinham seus próprios hábitos de higiene. Havia algumas receitas de pasta de dente e desodorante, mas muitos deles deviam ser mastigados ou engolidos para evitar o mau cheiro das axilas. Embora a existência dos banhos romanos faça parecer que a civilização era limpinha, não era bem assim.

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Uma banheira pequena podia acomodar de 8 a 12 pessoas em um banho público, e, apesar de existir sabão, os romanos preferiam usar azeite de oliva perfumado para a higiene. Após besuntar o corpo, eles usavam o estrigilo — uma ferramenta curva de bronze — para raspar o óleo da pele suja, jogando isso na água. Embora houvessem ralos, sabemos que água e óleo não se misturam, então é provável que os banhos fossem bem sujos.

Frascos de perfume de vidro são achados arqueológicos comuns, já que a técnica do sopro em vidro, criada no final do século I a.C. na província romana da Palestina, permitiu guardar as receitas facilmente. Gordura animal e vegetal era misturada com rosas, canela, íris, incenso e açafrão para criar ingredientes medicinais e pigmentos perfumados. Estátuas de deuses eram especialmente ungidas com cheiros agradáveis como parte da veneração, usando cera de abelha como estabilizador.

Segundo Derrick, a Roma Antiga, com essa combinação de costumes, devia cheirar a fezes humanas, fumaça de madeira, podridão, decomposição, cremação de carne, cozidos alimentares, perfumes, incensos e muito mais. Embora pareça nojento, o costume provavelmente fazia com que os romanos encarassem o fedor como o cheiro de casa — ou até mesmo como o auge da civilização, nas palavras do historiador Neville Morley.

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Fonte: The Conversation