Lobos preservados da Era do Gelo revelam linhagem que originou os cachorros
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas extraíam o DNA de dezenas de corpos preservados de ancestrais dos lobos para analisar a origem dos cães, mostrando que os animais descendem de pelo menos duas populações antigas de lobos da Eurásia. Os achados foram publicados em um estudo na revista científica Nature.
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O título de melhor amigo do homem não é à toa: os cães foram domesticados durante o período Neolítico, entre 29.000 e 14.000 anos atrás, a partir de uma espécie atualmente extinta de lobo-cinzento. Apesar disso, não se sabe exatamente como o animal foi domesticado ou especificamente quando — há muito ainda a ser descoberto sobre essa simbiose.
Lobos, múmias e DNA
A equipe de pesquisadores do Francis Crick Institute foi a responsável por analisar o genoma de 72 ancestrais lupinos de até 100.000 anos, vindos tanto da Eurásia quanto América do Norte. As amostras de DNA vieram de laboratórios de todo o mundo, o que inclui coletas de lobos congelados durante a última Era do Gelo, quase perfeitamente preservados no gelo permanente (permafrost).
Os espécimes contam com a cabeça de um lobo siberiano de 32.000 anos e um filhote de 18.000 anos chamado Dogor — que significa "amigo" na língua Yakut falada na região siberiana, onde foi encontrado. Análises mostraram que quase 100% dos ancestrais dos primeiros caninos da Sibéria, Américas, Leste Asiático e Europa podem ser ligados a uma espécie de lobo do leste da Eurásia.
Já os cães do Oriente Próximo e da África têm metade da sua ancestralidade derivada do leste da Eurásia e a outra metade vinda dos lobos do atual sudoeste eurasiano. A teoria acerca da diferença diz que isso pode ser o resultado de uma domesticação independente no Oriente Próximo e África ou devido ao acasalamento de cães com os lobos locais.
Essa localização no leste da Eurásia entra em concordância com um estudo de 2021 indicando que os cães foram domesticados em regiões do leste da Sibéria há cerca de 23.000 anos. A descoberta de uma ancestralidade dupla, no entanto, sugere uma história mais complexa.
No mesmo estudo, também foi descoberto que uma variante genética de nome IFT88 se tornou subitamente comum tanto em lobos quanto em cães por todo o mundo entre 40.000 e 30.000 anos atrás. Ela já foi rara, mas atualmente ainda é encontrada em lobos e cães atuais e continua a ditar o desenvolvimento de ossos do crânio e mandíbula dos animais.
A presença generalizada do gene indica uma conexão entre a população global de lobos em tempos pré-históricos, o que pode tê-los ajudado a manter sua vantagem evolutiva durante a Era do Gelo, quando muitos grandes carnívoros entraram em extinção. Apesar de a história dos cães ainda ter muitos mistérios, estudar a evolução dos animais, com 100.000 anos de duração, ajuda a iluminar os caminhos da seleção natural.