Leonardo da Vinci estudava a gravidade muito antes de Isaac Newton
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Patricia Gnipper | •

Ao analisar esboços de Leonardo da Vinci, cientistas da Caltech descobriram que o polímata e artista do século XV já realizava experimentos com a gravidade muito antes de Isaac Newton. Parece que ele lutava para entender o fenômeno, mas chegou a descrever algumas de suas propriedades e até classificou o empuxo gravitacional como uma força de aceleração. Essa força seria apenas desvendada por Newton, na segunda metade do século XVII.
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Por ter apenas ferramentas rudimentares, impressiona a precisão com a qual o inventor analisou os aspectos da gravidade. Isso fica evidente em seus cadernos de anotações, recentemente digitalizados e estudados por diversos especialistas. Neles, há vários desenhos representando triângulos que demonstram a relação entre a movimentação natural, a movimentação direcionada e a "equalização do movimento", prova de que ele reconheceu a gravidade como um tipo de aceleração.
O experimento gravitacional de da Vinci
Da Vinci imaginava — e provavelmente experimentou na prática — jarros derramando areia. Em sua lógica, caso um recipiente fosse puxado por um plano horizontal na mesma velocidade da força que puxa os grãos para baixo, a areia desenharia a hipotenusa de um triângulo no ar. Notar a mudança de velocidade de um objeto em queda ao longo do tempo é um passo importante para encontrar a constante gravitacional da Terra.
A constante gravitacional seria utilizada por Newton, muito tempo depois, na definição das leis de movimento, e ainda depois disso por Albert Einstein na teoria da relatividade geral. É evidente que Leonardo da Vinci sabia ter encontrado algo grandioso — ele apenas não tinha certeza do quê.
É provável que parte da sua incerteza venha da crença do filósofo na ideia de Aristóteles do ímpeto, uma força contínua que preencheria os projéteis e lhes daria uma força, uma "vontade" de se mover contra a gravidade. O conceito de inércia, que diz que um objeto em movimento continua em movimento até que uma força oposta o impeça, ainda não havia sido estabelecido.
Segundo Aristóteles, a gravidade seria uma tendência de os materiais se organizarem de acordo com uma ordem natural, o que colocaria os projéteis voadores e a força gravitacional como fenômenos explicados por duas teorias bem diferentes. Isso provavelmente confundiu da Vinci, que, mesmo assim, definiu a hipotenusa de um de seus triângulos desenhados — um isósceles — como Equatione di Moti, equação de movimento. Foi isso que, em última instância, inspirou cientistas a investigarem o caso mais a fundo.
Muito embora seus cálculos tenham erros, ao recriar os experimentos do polímata em laboratório os pesquisadores notaram que seu algoritmo definiu a constante gravitacional (ou força "g") com uma precisão de 97% — algo incrível para sua época. Da Vinci entendeu a dinâmica da queda de objetos sem precisar saber o valor exato de "g", ao menos quando consideramos esse valor como a taxa de mudança de velocidade ou aceleração da areia em queda.
Inovadores gravitacionais
Segundo os especialistas, caso o artista tivesse conduzido o experimento imaginado em suas anotações, ele teria sido o primeiro humano a gerar conscientemente um efeito de força "g" sem ser em um estado de queda livre. Ele conseguiu imaginar o fenômeno utilizando apenas geometria, já que não havia instrumentos para calcular tempo com exatidão à época, investigando algo desconhecido — uma inovação incrível, comparada à ciência que fazemos hoje.
Mesmo Newton não tirou sua lei da gravitação universal do nada, creditando os trabalhos anteriores de Bullialdo e Borelli em seus escritos, e se baseando na relação entre o movimento de queda livre e tempo de Galileu, de 1604. Os padrões descobertos por da Vinci seriam, mais tarde, usados para explicar o movimento de estrelas e planetas, prevendo a existência de Netuno antes mesmo de ele ser observado.
Embora não tenhamos como saber se ele chegou a fazer mais experimentos sobre a gravidade, o grau de sofisticação filosófica atingido no início do século XV é nada menos do que impressionante.