Índia usa drone para semear nuvens e limpar o ar da cidade mais poluída do mundo
Por Nathan Vieira • Editado por Melissa Cruz Cossetti | •

Que tal limpar o ar da cidade mais poluída do mundo? É isso que a Índia quer fazer com sua capital, Delhi (ou Déli), por meio de uma tecnologia controversa: a semeadura de nuvens via drones e aeronaves. A iniciativa, conduzida pelo governo regional, liderado pelo Bharatiya Janata Party (BJP), busca provocar chuvas de forma artificial, como método para reduzir a concentração de poluentes no ar.
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O ministro do meio ambiente de Déli, Manjinder Singh Sirsa, disse que o primeiro voo de teste — durante o qual começou a semeadura no céu — foi realizado na quinta-feira (24) e ocorreu com drones lançando partículas de iodeto de prata, que ajudam a formar gotas de água e, potencialmente, gerar precipitação.
A técnica consiste, basicamente, em introduzir partículas que simulam a estrutura do gelo dentro das nuvens. Essas partículas incentivam a condensação da água, aumentando a probabilidade de chuva.
A expectativa do governo é que, caso as condições climáticas sejam favoráveis, Delhi possa experimentar sua primeira chuva artificial no próximo dia 29 (quarta-feira).
Festival Diwali
A qualidade do ar em Déli sempre foi algo imprevisível e voltou a cair para níveis perigosos após o festival de Diwali na segunda-feira (20) — festa religiosa hindu, conhecida também como o festival das luzes — que marca o triunfo da luz sobre as trevas, do bem sobre o mal, e é iluminado com lâmpadas, velas, balões e fogos de artifício, que na quantidade em que são consumidos produzem fumaça tóxica e contribuem para a poluição do ar.
Com isso, uma espessa névoa marrom se instalou sobre a cidade por vários dias e o governo anunciou que o plano finalmente seria implementado. No entanto, especialistas alertam que o método não é uma solução definitiva para a poluição.
A presença de nuvens é essencial para a semeadura funcionar, e durante o inverno, quando a poluição é mais intensa, elas são frequentemente escassas.
Críticas e limitações
Pesquisadores da área ambiental classificam a iniciativa como uma solução pouco eficaz.
Shahzad Gani e Krishna AchutaRao, do Centro de Ciências Atmosféricas de Delhi, destacam que a semeadura de nuvens não resolve a origem da poluição, causada principalmente por queima de colheitas, emissões industriais e tráfego intenso de veículos a combustão.
Há preocupações sobre os efeitos a longo prazo de produtos químicos usados no processo, como iodeto de prata e cloreto de sódio, sobre a agricultura e a saúde humana.
Casos anteriores, como as “torres de fumaça” instaladas pelo governo anterior, demonstraram investimentos milionários com resultados mínimos na qualidade do ar.
A cidade mais poluída do mundo
Delhi permanece como a cidade mais poluída do mundo há mais de uma década.
Em 2024, os níveis de partículas finas PM2.5 e PM10 subiram 6% em relação ao ano anterior, chegando a superar os recordes de poluição histórica observados em cidades como Pequim.
O alerta dos especialistas é que medidas estruturais, como controle de emissões e políticas de transporte, são essenciais para melhorar a qualidade do ar de forma sustentável.
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Fonte: The Guardian