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Golfinhos e baleias não poderão mais evoluir de volta à terra

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Twenty20photos/Envato Elements
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Análises evolucionárias feitas em mamíferos aquáticos como golfinhos, orcas e baleias mostram que os animais já passaram de um ponto que não permite voltarem à terra — ou seja, é praticamente impossível que seus descendentes, por mais tempo que passe, consigam viver no ambiente terrestre. As adaptações feitas para a vida na água já ultrapassaram uma “barreira” biológica, como mostrado pelo estudo de quase 6 mil espécies mamíferas, tanto aquáticas quanto terrestres e híbridas.

Os mamíferos aquáticos são o resultado de um curioso vai-e-vem evolutivo. Entre 350 milhões e 400 milhões de anos atrás, os primeiros peixes se arrastaram para fora da água, como o famoso tiktaalik, graças a membros e adaptações respiratórias que permitiam ficar fora dos rios e mares. Inicialmente desajeitados, esses vertebrados foram evoluindo até se tornarem os completamente adaptados tetrápodes atuais.

Tetrápodes são vertebrados com quatro membros e dedos distintos, um grupo que inclui anfíbios, mamíferos e répteis. A maioria deles ficou na terra, se adaptando perfeitamente ao ambiente, mas alguns, há 250 milhões de anos, acharam de bom tom retornar às origens aquáticas. Isso pediu novas adaptações para conseguir viver novamente no mar ou nos rios, já que agora precisavam respirar por pulmões, por exemplo.

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Embora a transição para a terra tenha acontecido apenas uma vez, a volta para a água aconteceu em muitas ocasiões, o que faz os pesquisadores se perguntarem se um novo retorno terrestre seria possível. Caso não, porque? É isso que a pesquisa buscou responder.

Tarde demais para voltar atrás

A ideia de que a evolução não seria reversível foi proposta pela primeira vez pelo paleontólogo belga Louis Dollo, no século XIX. Conhecida como Lei de Dollo, ela afirma que, uma vez que um traço complexo é perdido em uma linhagem e muito tempo se passa, é improvável que reapareça nas gerações seguintes. Para testar a ideia em mamíferos, foram divididos milhares de espécies em 4 categorias:

  • Espécies totalmente terrestres;
  • Espécies com adaptações aquáticas mas ainda com mobilidade terrestre possível;
  • Espécies com locomoção terrestre limitada;
  • Espécies completamente aquáticas.

O modelo montado pelos cientistas apontou e examinou relações evolucionárias entre as espécies com ramificações indicando ancestralidade comum. Comparando traços entre as espécies, foram calculadas as probabilidades de evoluir características específicas, montando um gradiente de adaptações entre o “totalmente terrestre” e o “completamente aquático” — e testada a irreversibilidade delas.

Foi descoberto um limiar entre o semiaquático e o totalmente aquático, um limite que, depois de ultrapassado, torna as adaptações à água irreversíveis. Essas adaptações são associadas a múltiplas mudanças, como o aumento de massa corporal para ajudar a reter calor em ambientes mais frios, e uma dieta carnívora que ajuda a manter o metabolismo aumentado.

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Isso torna difícil competir com espécies terrestres, segundo Bruna Farina, doutoranda brasileira da Universidade de Fribourg e autora do estudo contou ao site Live Science.

Embora seja possível ir do totalmente terrestre ao semiaquático em passos pequenos, há uma linha irreversível para algumas dessas adaptações. A chance de mamíferos como baleias e golfinhos voltarem à terra é praticamente 0 — basta ver como os animais, quando encalhados, não conseguem sustentar o peso do próprio corpo sem o empuxo da água. Reverter uma adaptação como essa não é apenas difícil, como pouco necessário do ponto de vista evolutivo.

Fonte: Proceedings of the Royal Society B, Evolution, com informações de Live Science