Evidência mais antiga de sífilis é encontrada em esqueletos no Brasil
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 26 de Janeiro de 2024 às 11h20
Em um sítio arqueológico localizado na cidade de Laguna, região costeira de Santa Catarina, uma equipe internacional de pesquisadores encontrou e analisou ossos pertencentes a quatro indivíduos que morreram há aproximadamente 2.000 anos. Alguns dos ossos apresentavam alterações patológicas visíveis e foram levados para o laboratório, onde se descobriu uma infecção semelhante à sífilis, conhecida como bejel.
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Para verificar os achados, os cientistas usaram ferramentas de perfuração, adotadas por dentistas, para remover minúsculas amostras dos ossos, incluindo partes de uma tíbia, o osso da canela. Em seguida, isolaram o material genético (DNA antigo) pertencente ao patógeno para análise.
Entre outros fatos, a descoberta aponta para algo, no mínimo, curioso: as treponematoses, grupo de doenças que incluem a sífilis e o bejel, já eram comuns entre os nativos do Brasil, antes mesmo da chegada dos primeiros europeus, há cerca de 500 anos.
Doenças antigas do Brasil
Diferente da sífilis que é uma infecção sexualmente transmissível (IST) e é classificada como uma doença venérea disseminada por todo o globo, o bejel é transmitido pelo contato direto com a pele infectada e está concentrado, hoje, apenas em regiões muito áridas da África e da Ásia.
Em alguns lugares, a condição provocada pela bactéria Treponema pallidum endemicum é conhecida como sífilis endêmica não-venérea. Entretanto, ela é normalmente adquirida nos primeiros anos de vida de um indivíduo e afeta inicialmente as mucosas da boca, mas, ao longo dos anos, feridas podem surgir no tronco e nos membros, o que lembra a sífilis.
“Nosso estudo conseguiu mostrar que a sífilis endêmica já estava presente nas zonas úmidas do Brasil há cerca de 2 mil anos”, afirma Verena Schünemann, da Universidade de Basileia, na Suíça, em nota. Atualmente, a condição é rara por aqui.
Qual a origem da sífilis?
Apesar da descoberta feita no Brasil, ainda não se sabe dizer onde a sífilis venérea surgiu. “Como não encontramos qualquer [sinal da] sífilis sexualmente transmissível na América do Sul, a teoria de que Colombo trouxe a sífilis para a Europa parece mais improvável”, afirma Schünemann. Para se chegar a uma conclusão, mais pesquisas ainda são necessárias.
Anteriormente, o mesmo grupo de pesquisadores também identificou outras treponematoses antigas, na Finlândia e na Polónia, sem ligação com as ISTs.
Os achados envolvendo a doença parecida com sífilis de Santa Catarina, no sítio Jabuticabeira II, foram publicados na revista científica Nature e envolveram o trabalho de diversos pesquisadores, incluindo José Filippini e Sabine Eggers, da Universidade de São Paulo (USP).
Fonte: Nature e Universidade de Basileia