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Esqueletos de ratos revelam segredos de viagem marítima mercante há 1.400 anos

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Amir Yorman/Recanati Institute for Maritime Studies
Amir Yorman/Recanati Institute for Maritime Studies

Recentemente, pesquisadores da University of Haifa encontraram os restos de um navio de comércio que naufragou na costa de Israel entre 648 e 740 d.C., há cerca de 1.400 anos. Preservados no casco da embarcação estão diversos itens de comércio levados pelos mercadores da época, alimentos preservados e o esqueleto de seis ratos — que dizem mais sobre a vida da época do que imaginamos.

O período em que o navio afundou é conhecido pela história como a Idade Média, ou Idade das Trevas, e se acreditava que fosse uma época de isolacionismo e pouca comunicação entre civilizações: os registros pouco falam além de conflitos navais entre o Império Bizantino e os muçulmanos no Mediterrâneo, região por eles compartilhada e por onde a embarcação navegou. Sua descoberta, no entanto, desafia essa crença.

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Ratos turistas

Os restos naufragados foram chamados "Navio "Ma’agan Michael B", já que foram encontrados próximos à comunidade judaica de Ma'agan Michael e representam o segundo achado local, sendo o primeiro uma embarcação menor encontrada em 1980. Sierra Harding, uma zooarqueóloga que participou do projeto de pesquisa, afirma que os restos de roedores encontrados no navio são a evidência mais antiga de uma infestação de ratos em um navio, e a única direta em um naufrágio no Mediterrâneo — ou seja, não deriva de um relato.

Alguns dos espécimes presentes no navio são de ratos pretos (Rattus rattus), uma espécie que acompanhava comerciantes do Oriente Médio vindos do sul da Ásia e da Índia há mais de 2.000 anos. A questão é que a morfologia dentária dos roedores mostrou que pelo menos dois deles eram exóticos à região do naufrágio — resultados preliminares demonstram que a origem deles pode ser da Tunísia ou da Córsega, no centro do Mediterrâneo.

Isso, segundo os pesquisadores, quer dizer que havia muito mais comunicação, comércio, trocas e transporte nessa época do que se representa na historiografia, que foca nos embates entre os povos da época. Além disso, o reporte preliminar da universidade, publicado em 2020, conta que a carga do navio é a maior coleção de cerâmica do período bizantino e início do período islâmico já encontrada.

Há pelo menos 200 ânforas cheias de moedas, artefatos de madeira, utensílios de cozinha, nozes da Turquia, tâmaras, figos, azeitonas, garum (molho romano feito de fermentado de peixe) e uma carga de vidro no navio, além de outros achados muito interessantes: cruzes cristãs, dizeres em grego e árabe estavam esculpidos nas paredes. Além de indicar que pelo menos parte da tripulação era alfabetizada — algo raro para a época —, isso demonstra sua diversidade. Uma das palavras escritas no local é "Bismillah", que significa "o nome de Deus", em árabe.

O navio tinha 25 metros de comprimento e foi encontrado numa profundidade de 3 metros, sob 1,5 metros de areia, explicando seu sumiço por tantos anos, mas também a preservação dos bens em seu interior. Mergulhadores amadores haviam notado os restos naufragados em 2005, mas a areia voltou a escondê-los por uma década, quando a equipe da universidade os reencontrou. Não há restos humanos no naufrágio, indicando que a tripulação aproveitou a proximidade da costa para escapar do afundamento.

Os pesquisadores planejam continuar investigando os restos mortais do navio e seus bens, que revelam muitos outros aspectos da vida da época. Algumas das descobertas visadas são a origem e destino da embarcação, que já se sabe ter sido cara e feita com tecnologias das mais modernas da época. Apesar de se saber pouco da tripulação, que deixou apenas os escritos e desenhos esculpidos na madeira, se estima que era de cerca de oito pessoas.

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Fonte: University of Haifa