É possível teletransportar pessoas? Equipe de cientistas diz que sim
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Apesar do teletransporte ter cara de ficção científica, algo que só veríamos em filmes à la Star Trek, saiba que o primeiro teletransporte foi feito em 1993 — uma equipe da IBM conseguiu o feito com um estado quântico, não um objeto em si, publicando sobre o assunto na revista científica Physical Review Letters.
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Mas daí para o teletransporte de um humano, o salto é muito, muito grande. Cinco anos depois da pesquisa da IBM, físicos do Instituto de Tecnologia da Califórnia e da Universidade de Gales conseguiram teletransportar um fóton, partícula que carrega luz, por um cabo coaxial, linha usada em satélites e internet banda larga. Em 2020, os primeiros elétrons foram teletransportados. Mas... e pessoas?
Teletransporte de matéria
Para teletransportar matéria complexa, a ciência ainda terá de se esforçar um pouquinho. O problema do teletransporte, no entanto, não é só físico, ou seja, não é uma questão apenas da possibilidade material de transportar algo. O que chegará no destino lado será a mesma coisa que saiu da origem? É aí que entra a computação quântica.
Esse conceito é baseado na ciência complicada do emaranhamento quântico, algo bem diferente da física clássica como a conhecemos. Na escala subatômica, menor do que um átomo, onde a mecânica quântica age, as coisas são bizarras, para dizer o mínimo.
As propriedades físicas da matéria — posição, polarização, spin, momentum —, nessa escala, são transferidas de uma partícula para outra por algo que parece mágica, independente da distância entre elas.
Isso é importante para a computação quântica — enquanto nossos computadores comuns funcionam em bits eletrônicos, ou seja, têm um estado ou outro (1 ou 0), apenas, a computação quântica funciona com bits quânticos, ou qubits, que existem em dois estados ao mesmo tempo. É o que se chama de superposição coerente. Assim, são capazes de computar duas coisas ao mesmo tempo.
Para se ter uma ideia do poder de computação, um estudo de 2019, feito pela Google, mostrou que um computador quântico faria um cálculo em 200 segundos que o computador mais potente do mundo levaria 10.000 anos para fazer. Como única aplicação prática do emaranhamento quântico até o momento, a computação quântica seria a chave para a engenharia do teletransporte.
Foi com base nisso que cientistas da Universidade de Innsbruck e do Instituto Nacional de Padronização e Tecnologia dos Estados Unidos teleportaram partículas com emaranhamento quântico em 2002, sem qualquer conexão entre a origem e o destino.
Em 2016, na Universidade de Calgary, pesquisadores teletransportaram uma partícula por seis quilômetros pelos cabos de fibra óptica da cidade. No ano seguinte, cientistas chineses enviaram um fóton da Terra a um satélite a 300 km da Terra.
Problemas do teletransporte
Apesar disso tudo ser animador, há um problema. Quando o estado quântico é aplicado a uma partícula emaranhada, o estado quântico da partícula original é destruído — a função de onda é direcionada para um resultado só, eliminando a incerteza, mas destruindo uma das partículas no processo.
Em outras palavras, o teletransporte funciona, mas destrói a informação da partícula “original”. Será que teletransportar uma pessoa destrói seu eu inicial? Além disso, contabilizar todos os átomos de um humano seria muito, muito difícil.
Temos cerca de 10^27 deles no corpo, cada um com elétrons, prótons e nêutrons, feitos de partes menores ainda, como quarks e múons, cada um com seu estado quântico específico.
Imagine ter que computar todos esses estados quânticos para mandar todo um corpo do ponto A ao ponto B exatamente como era antes. Ao contrário da ficção científica, onde a matéria é desintegrada, transportada e rearranjada em outro lugar, o emaranhamento quântico transporta, na verdade, informação sobre a matéria, com tudo o que torna “você”, “você”.
Para piorar, o princípio da incerteza dita que só podemos conhecer a velocidade ou a posição de uma partícula, então nunca saberíamos, com 100% de fidelidade, todas as informações de um corpo. Isso quer dizer que erros estranhos poderiam ocorrer num teletransporte — você poderia chegar “normal” em outro lugar após o processo, mas passar a gostar de pepino, que não gostava antes.
Mas o que é engraçadinho pode acabar sendo trágico, caso o erro seja mais catastrófico. Ainda há todas as questões éticas e filosóficas sobre se essa “cópia” das suas informações ainda é realmente você. Sabendo de tudo isso, você ainda se teletransportaria?
São essas questões que pautam as pesquisas e ocupam as mentes dos cientistas — e devem continuar por décadas, até que a tecnologia seja possível.
Fonte: Nature 1, 2, Google, N. Communications