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Como parasitas controlam cérebro de formigas e as torna zumbis?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 25 de Setembro de 2023 às 18h33

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Luke Elstad/CC-BY-3.0
Luke Elstad/CC-BY-3.0

É comum que se faça pouco caso dos parasitas, criaturas que se aproveitam de hospedeiros para prosperar no mundo animal. Os mais impressionantes, no entanto, fazem coisas impensáveis para passar os genes à frente — são os que “zumbificam” outros animais, ou seja, tomam controle de seu cérebro e fazem com que sua movimentação favoreça os invasores. Cientistas acabaram de desvendar segredos do método de um desses parasitas, os trematódeos, que controlam formigas ao seu bel prazer.

O bicho em questão é o Dicrocoelium dendriticum, cujo ciclo de vida é longo e cheio de atividade. Ele costuma infectar herbívoros ao invadir o cérebro de formigas, levando-as ao topo das gramíneas das quais se alimentam vacas, cavalos e cervos, por exemplo. A novidade, publicada na revista científica Behavioral Ecology, está nos detalhes do controle cerebral, mais elaborado do que se pensava.

Um zumbi com autopreservação

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Estudar parasitas é uma tarefa científica difícil. Os pesquisadores tiveram de marcar, com cores e números, centenas de formigas (da espécie Formica polyctena) infectadas pelo D. dentriticum, observando seu comportamento em relação à luz, umidade, temperatura e hora do dia. A influência mais clara foi a da temperatura — quando era baixa, os insetos iam até o topo das folhas de grama, e, quando alta, desciam para a sombra. Em tom de brincadeira, os cientistas disseram ter encontrado o “interruptor da zumbificação”.

Apesar de induzir a formiga a um comportamento que levará à sua morte, sendo ingerida por herbívoros, os parasitas têm alguma autopreservação — caso fiquem no sol quente por muito tempo, tanto a formiga quanto a equipe de invasores em seu abdômen e cérebro morrerão, tornando inútil o esforço parasítico. Para que o Cavalo de Troia seja bem-sucedido, ele tem de ser levado para dentro dos portões, afinal de contas.

É a partir daí que o processo de reprodução e ciclo de vida dos trematódeos começa — enquanto um dos parasitas controla o cérebro da formiga, os outros ficam no abdômen, protegidos por uma cápsula que não derrete nos ácidos estomacais. Uma vez que o inseto é ingerido, o parasita cerebral morre, enquanto os outros seguem até o intestino, onde finalmente a cápsula derrete.

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Muitas vezes, o processo danifica o fígado dos animais infectados, já que os parasitas transitam pelo órgão e pelos dutos biliares após liberados. Os bichos sugam o sangue do fígado e se tornam adultos, quando começam a soltar ovos, excretados em seguida junto às fezes do herbívoro infectado.

Já no chão, o próximo passo ocorre quando caramujos consomem as fezes, ingerindo os ovos. Dentro do molusco, eles se tornam larvas, que se reproduzem assexuadamente e se multiplicam até chegar aos milhares. Em seguida, forçam o caramujo a tossir, os expelindo em uma bola de muco. Esse muco atrai as formigas, que o consomem junto às larvas, recomeçando o processo.

Hackeando a cadeia alimentar

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Os trematódeos são apenas um tipo entre muitos parasitas que alteram o comportamento animal, dos quais o mais famoso é o fungo cordíceps, protagonista da pandemia de The Last of Us. Ao longo da história da ciência, pouco foco foi dado aos parasitas e sua evolução, por mais que sejam descritos por algumas fontes como as formas de vida mais comuns do mundo.

Seu papel na biodiversidade é único — ao “forçar” as formigas a serem comidas por herbívoros, os trematódeos basicamente hackeiam a cadeia alimentar, ditando quem é ingerido por quem.

Parasitas podem ter um papel muito mais importante do que atribuímos a eles. Estudos como esse, comentam os cientistas, ajudam a dar um pouco de holofote a criaturas tão negligenciadas pelos estudos. Agora, ainda é preciso descobrir qual coquetel químico é utilizado para tomar conta do cérebro das formigas, entre outros aspectos biológicos do comportamento.

Fonte: Behavioral Ecology, Science Daily