Cerveja pode inspirar criação de novos repelentes; a gente explica
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Algumas pesquisas parecem não ter nenhuma finalidade aparente, como um estudo que buscou descobrir quais as cervejas preferidas das moscas. Sim, tal investigação foi realizada por cientistas da Alemanha e da Bélgica e, curiosamente, pode resultar em novas fórmulas para repelentes de insetos.
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Desenvolvida por pesquisadores do Instituto Max Planck e do Instituto Vlaams de Biotecnologia (VIB), o estudo improvável sobre o interesse de moscas por cervejas avaliou o olfato de duas espécies diferentes:
- Drosophila melanogaster, conhecida como mosca-da-fruta ou mosca-do-vinagre, comum em residências;
- Drosophila suzukii, chamada popularmente de mosca-da-asa-manchada, que é uma praga em plantações.
Moscas que curtem cervejas
O grupo internacional de pesquisadores iniciou os trabalhos analisando a composição de 250 cervejas belgas. Desse total, 45 foram escolhidas por causa de seus aromas únicos (e inconfundíveis para as moscas), como detalha o estudo publicado na revista iScience.
Em um ambiente controlado, as moscas de diferentes espécies poderiam escolher o aroma que mais as atraíssem. Detalhe: foi incluída uma cerveja “neutra”, sem uma assinatura aromática, para funcionar como grupo de controle. Se eles estivessem testando remédios, esta bebida seria o placebo (substância sem ação).
Segundo os autores, as moscas da espécie D. melanogaster se interessavam mais por cervejas tipo Brown Ale. De modo geral, a preferência era por fragrâncias produzidas por leveduras, como acetato de pentila (com cheiro similar ao da banana) e acetato de etila (um aroma doce e frutado).
Entre as moscas D. suzukii, a predileção foi pelas cervejas do tipo Blond Ale. Também eram mais atraídas por bebidas com aromas derivados de plantas, como linalol (cítrico e doce) e geraniol (floral e frutado).
Para além do monitoramento das escolhas etílicas, os cientistas também examinaram a atividade cerebral. Por exemplo, “observamos atividade cerebral mais forte na D. melanogaster do que na D. suzukii quando expostos ao geraniol”, explica Silke Sachse, pesquisadora do Instituto Max Planck, em nota.
“A atividade foi observada em uma região do cérebro responsável pela aversão ao cheiro”, acrescenta a cientista. “Isso sugere que o geraniol pode servir como um repelente para D. melanogaster”, complementa. Entretanto, a outra espécie não tem aversão por esse aroma, já que o prefere.
Novos repelentes naturais
“Ao entender quais substâncias atraem [ou repelem] insetos específicos, podemos desenvolver armadilhas direcionadas. Isso beneficia tanto os consumidores quanto os agricultores, ao mesmo tempo em que minimiza o impacto sobre outros insetos benéficos”, afirma Kevin Verstrepen, pesquisador do VIB. Entre os possíveis produtos, estão uma nova leva de repelentes.
Devido às mudanças climáticas, a espécie D. suzukii está ampliando o seu território de atuação e aumentando o seu impacto destrutivo nas plantações. Neste ponto, uma solução não tóxica para o ambiente, baseada em cervejas, pode ser interessante e efetiva.
Fonte: VIB