A impressão 3D pode ajudar pesquisadores cegos a enxergarem dados
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas lançaram uma nova maneira para ajudar pesquisadores com deficiências visuais a ler e examinar dados: é a litofania gerada por impressoras 3D, que consegue transcrever informações de maneira tátil e ainda embutir imagens para que quem consiga ver possa ver o mesmo na impressão.
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A vida não é fácil para pesquisadores com deficiências visuais: para ler artigos online, a única opção é baixar o texto, utilizar um leitor de tela para lê-lo — o que pode ser problemático caso as colunas não sejam transferidas corretamente —, que irá ditar tudo devagar, dado que há termos científicos complicados que podem não ser reconhecidos. As figuras de gráficos e outros elementos estudados, no entanto, são o maior problema, abordado na nova técnica.
Imprimindo dados em 3D
O trabalho vem de um esforço conjunto entre o bioquímico Bryan Shaw e equipe, da Baylor University, o PhD Matthew Guberman-Pfeffer, que sofre de baixa visão, e Mona Minkara, que é cega, além de outros co-autores. Entre as pesquisas que os inspiraram, está uma que trabalhou acerca de pequenas representações de objetos colocados na boca e sentidos com a língua, que dá mais sensações táteis do que com os dedos.
Os litofanos são muito antigos: há teorias que colocam os primeiros já fabricados entre os séculos VI e VII, na China, durante a dinastia Tang, feitos de porcelana ou cera. Na Europa, ficaram famosos nos anos 1820, e são caracterizados por uma camada fina que bloqueia ou deixa passar a luz: quando trabalhados, podem gerar imagens em escala de cinza. Guberman-Pfeffer recriou os litofanos com impressora 3D, inclusive sem saber de sua existência, como contou em entrevista à revista Science.
A novidade é que, pela primeira vez, a tecnologia está sendo utilizada para tornar imagens 2D acessíveis a pessoas com deficiência visual. A técnica é, também, muito mais barata: um livro técnico em braile, feito por um transcritor especializado, pode custar de US$ 50.000,00 (cerca de R$ 263.330,00) a US$ 100.000,00 (cerca de R$ 526.675,00). Uma impressora 3D topo de linha custa US$ 3.500,00 (cerca de R$ 18.430,00).
A utilidade, segundo os cientistas, facilita muito a ciência. É possível que tanto pessoas que podem ver quanto as que têm deficiência visual possam ver e comentar sobre os mesmos dados, algo sem precedentes. Em aulas, por exemplo, os autores relatam já ter de recorrer a explicações sobre gráficos desenhados no quadro ou em slides que, muitas vezes, foram pouco satisfatórias.
A esperança é de que a tecnologia permita que muito mais pessoas tenham acesso à ciência, já que as barreiras visuais podem manter muitos pesquisadores em formação longe de dados, artigos e até mesmo campos científicos inteiros. Guberman-Pfeffer comenta, em especial, sobre um litofano de uma asa de borboleta: visível a quem enxerga, ele também pode ser sentido e medido pelo cientista, o que ele considera "extremamente legal". "Revoluciona tudo", completa.
Fonte: Science Advances, Science