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A língua pode ajudar pessoas de baixa visão e cegos a ver mundo com o tato

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Agosto de 2022 às 08h30

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Nicole Elliott/Unsplash
Nicole Elliott/Unsplash

A língua é um dos órgãos mais sensoriais do corpo humano, e pode ser usada para ajudar pessoas de baixa visão a enxergar melhor. É isso mesmo: alguns pesquisadores vêm trabalhando em aparelhos que conseguem converter informações visuais em sensações táteis para a língua. Isso é possível porque ela tem mais sensibilidade do que a ponta dos dedos, além de ajudar em muitas outras funções corporais.

O campo que trabalha com esse conceito curioso é chamado de "substituição sensorial", uma combinação de psicologia, neurociência, computação e engenharia para criar aparelhos que fazem essa conversão propriamente dita — conhecidos como SSD (sensory substitution devices). E a língua não está sozinha nessa jornada.

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Vendo com a língua

A ideia, na verdade, não é de hoje: uma tecnologia que converte informações visuais contínuas em padrões de estímulos elétricos na superfície da língua já existe desde 1998, e se chama BrainPort. A "exibição na língua" consiste em um aparelho no formato de um pirulito com 400 pequenos eletrodos, cada um correspondendo a um pixel da câmera, criando uma espécie de tela tátil em baixa resolução.

Desde então, o aparelho tem sido usado para ajudar vítimas de acidente vascular cerebral (AVC) a manter o equilíbrio. Em 2015, a FDA — Food and Drug Administration, agência americana de saúde similar à Anvisa, no Brasil — aprovou seu uso para o auxílio a pessoas de baixa visão. Imagine que você levanta sua mão para a câmera e, ao mesmo tempo, sente uma pequena mão na ponta da língua: é assim que o dispositivo funciona, "desenhando" formas no órgão.

Mas, apesar de ser dez vezes mais barato do que um implante de retina, há pouco uso do BrainPort por aí. Mesmo assim, os cientistas o usam para uma infinidade de pesquisas: um deles é Mike Richardson, especialista em psicologia que utiliza o aparelho para testes de atenção, e notou as diferenças em percepção que podem explicar porque ele não é tão utilizado.

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Atenção e sentidos

Na psicologia, há o paradigma de dicas preditivas, que serve para estudar e medir a atenção: não o tempo que conseguimos mantê-la, mas sim o manejo de seu foco. Estímulos visuais são ótimos indicativos — se algo sai do nosso campo de visão rapidamente, nossa atenção será voltada para o lado do objeto. O mesmo acontece com a audição, ao ouvir um mosquito próximo, por exemplo, ou com o tato.

E os sentidos se intercalam e influenciam um ao outro: ouvindo um mosquito próximo a nós, o reflexo é de bater nele ou se abaixar para evitá-lo. Isso é chamado de atenção modal cruzada. Mas e a língua? Bem, é o que Richardson e equipe buscaram descobrir. Sabemos muito sobre atenção visual e tátil, mas pouco sobre o sentido da língua.

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Eles descobriram que sim, o órgão responde assim como as mãos ou os olhos, mas sua grande sensibilidade pode atrapalhar: é fácil estimular demais a língua, a sobrecarregando com sensações e dificultando nossa detecção do que está acontecendo por ali. Mais importante, a equipe notou que outros sentidos ajudam. Ouvir algo no lado esquerdo do corpo auxilia na atenção do lado esquerdo da língua.

O que vem pela frente

Estímulos auditivos, portanto, podem guiar a atenção e evitar sobrecarga sensorial. A importância disso está na possibilidade de aliar aparelhos como o BrainPort com interfaces auditivas, como a vOICe, que traduz formas e expressões corporais em sons.

Com alguns ajustes, será possível criar dispositivos para que pessoas cegas ou surdas consigam navegar melhor pelo mundo usando a língua — ou até mesmo paraplégicos, que, sem poder usar as mãos, terão formas mais eficientes de se comunicar e explorar o mundo. O potencial, mostram os especialistas, é enorme.

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Fonte: The Conversation 1, 2