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Por que o Fiat Marea não deu certo no Brasil?

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Divulgação/ Fiat
Divulgação/ Fiat

O ano era 1998 e a Fiat vivia um dilema no Brasil. A montadora italiana, conhecida por seus carros populares como o Uno, a Elba e o Palio, precisava manter, ao menos, a tímida presença entre modelos de maior valor agregado, algo que era feito com a dupla Tipo e Tempra.

Ambos sofreram com a má-fama de serem carros problemáticos e de manutenção complicada, mas a verdade é que o problema não era do carro em si, e sim do ambiente em que eles conviviam. Os mecânicos da época não conseguiam realizar procedimentos básicos, dado ao avanço de engenharia visto nesses modelos.

O Fiat Marea veio para tentar subir o patamar da Fiat no mercado, juntamente com seu irmão hatch, o Brava. Elegante, com ótimo porte, excelente acabamento e vasto pacote de equipamentos, o sedan era objeto de desejo de executivos e entusiastas. O principal motivo para isso, além de todos os já listados, era o seu motor: o 2.0 Fivetech.

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Esse propulsor de cinco cilindros em linha e 20 válvulas era muito avançado para a época. Em sua primeira versão no Brasil, o motor entregava 142cv e 18,1 kgf/m de torque na versão aspirada e impressionantes 182 cv e 27kgf/m na variante turbo.

O que deu errado com o motor do Marea?

O motor extremamente tecnológico do Fiat Marea tinha um funcionamento nunca antes visto na indústria nacional. O cabeçote e o cárter eram de alumínio, com as entranhas munidas de comando duplo (DOHC) com quatro válvulas por cilindro, comando variável de admissão com tempo de abertura das válvulas alternado e um dissipador de calor do óleo refrigerado à água.

"O primeiro grande problema estava no manual do veículo. Lá trazia a informação de que o óleo lubrificante a ser utilizado no motor era um 15w40 semissintético com trocas a serem efetuadas a cada 15 mil km (o ideal eram 5 mil km). Em uma época em que tínhamos altos teores de enxofre no combustível, aliado a uma baixa qualidade dos óleos lubrificantes, a tendência de formação de borra nos motores Fivetech do Marea era altíssima, trazendo consequências catastróficas", explica Felipe Cardoso, mecânico profissional e cofundador da MSR Consultoria Automotiva, além de ter sido proprietário de um Marea, em entrevista ao Canaltech.

A falha da Fiat na comunicação foi preponderante para que o Marea não tivesse o devido sucesso. A manutenção do carro na concessionária também era bem cara e isso fez com que os proprietários procurassem ajuda de mecânicos, que não possuíam, na esmagadora maioria das vezes, as informações necessárias para administrarem o carro.

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"O motor requeria um conhecimento alto e ferramentas específicas para manutenções simples, como a troca da correia dentada. A falta disso tudo resultava em uma manutenção errônea por parte dos reparadores, levando a falhas que poderiam ser também catastróficas, com explosões, por exemplo", disse Cardoso.

Por que o Marea não deu certo no Brasil?

O Fiat Marea sobreviveu no mercado brasileiro entre 1998 e 2007, quando foi substituído pelo Fiat Línea, um sedan feito com base no Punto. Os problemas no motor foram, aos poucos, resolvidos com um forte investimento na linha de concessionários e o maior acesso à informação por parte dos profissionais independentes. Mas isso, claro, não foi suficiente.

O Brasil tem suas peculiaridades e a má-fama dos carros é sempre perpetuada, algo que afeta a Fiat até hoje, mesmo com modelos reconhecidamente confiáveis. O Fiat Marea era um carro espetacular, extremamente divertido de ser guiado, muito bem acabado e pensado, mas, talvez, a preparação para trazê-lo ao país não tenha sido feita da melhor maneira.

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Muitos donos de Marea, com mais conhecimento do produto e tomando as precauções necessárias, conseguiram desfrutar do carro sem problemas. Prova de que o automóvel era, sim, muito bem feito.

5 motivos pelos quais o Fiat Marea não deu certo no Brasil

  1. Informação errada no manual da Fiat, pedindo trocas de óleo a cada 15 mil km, sendo que o ideal era com 5 mil km;
  2. Falta de conhecimento dos mecânicos na hora da manutenção
  3. Má preparação da rede de concessionários
  4. Alta complexidade do motor
  5. Custo de manutenção
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