Karmann-Ghia: A história de um dos carros mais clássicos do Brasil
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |

O Karmann-Ghia é um dos carros mais clássicos da indústria automobilística, tanto no Brasil quando na Europa. Afinal, ele nasceu no Velho Continente, em um projeto que uniu três empresas distintas: as alemãs Volkswagen e Karmann, e a italiana Carrozzeria Ghia.
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A ideia da fabricação do Karmann-Ghia surgiu em meados da década de 1950, à medida que o mundo começava a se recuperar economicamente dos estragos causados pela Segunda Guerra e, com isso, aumentava gradativamente a demanda por carros mais luxuosos.
A Volkswagen cedeu o conjunto mecânico e ficou responsável pela comercialização do modelo, que contava com a carroceria italiana da Ghia e toda a parte de engenharia da Karmann, por meio de Wilhelm Karmann Junior.
Apresentado à imprensa em sua versão coupé, e ainda sem nome oficial, o Karmann-Ghia, à época conhecido pelo nome do projeto — Type 14 —, entrou em produção em agosto de 1955, pouco depois de ter sido definitivamente “batizado”.
Como é o Karmann-Ghia?
O processo de produção do Karmann-Ghia na linha de montagem de Osnabrück, na Alemanha, era praticamente artesanal, com os painéis da carroceria feitos à mão, com uma liga especial e uso abundante de estanho para esconder as soldas.
O Karmann-Ghia compartilhava da plataforma do Fusca e herdou do modelo configurações de freios (a tambor), transmissão e suspensão, além, claro, do motor, que inicialmente era de 1.200 cilindradas — posteriormente foi trocado por um de 1.500 e, quase no fim da produção, por um de 1.600 cilindradas.
Por dentro, o Karmann-Ghia oferecia um nível de acabamento e sofisticação diferenciados, além de também inaugurar a linha de carros com transmissão automática e ar-condicionado da marca Volkswagen, ambos vendidos como opcionais.
Aceitação do público foi imediata
O design diferenciado e o interior refinado transformaram o Karmann-Ghia em um sucesso imediato, com as vendas alcançando o expressivo número de 10 mil unidades em menos de um ano de mercado.
A resposta do público foi a confirmação que a Volkswagen precisava para “liberar” mais novidades na linha do Karmann-Ghia, opção de luxo para os demais modelos da marca, o Fusca e a Kombi, carros “sóbrios”, resistentes e mais baratos.
As vendas, até então restritas à Alemanha e à Áustria, engataram ainda mais em 1957, ano em que a versão conversível passou a ser produzida. Nessa época, o carro já estava sendo vendido em outros centros da Europa, assim como no Canadá e na Austrália.
Karmann-Ghia no Brasil
O sucesso do Karmann-Ghia se repetiu no Brasil. Por aqui, o modelo foi lançado em 1962, dois anos após a Karmann abrir sua fábrica própria em São Bernardo do Campo para atender ao projeto de expansão da Volkswagen.
O Karmann-Ghia conversível chegou ao mercado verde-amarelo 5 anos mais tarde, e logo se tornou um dos carros mais cobiçados do país. Como somente 177 unidades da versão “descapotável” foram produzidas, a valorização acabou sendo quase que imediata.
O modelo clássico passou por algumas mudanças no Brasil. O sistema elétrico de 6V foi substituído por um de 12V, a bitola traseira ficou maior, assim como o corte dos para-lamas, que tornaram as rodas mais visíveis. Por fim, o desenho das lanternas foi alterado e o motor de 1600 cilindradas ganhou mais torque (10,8 kgf/m contra 10,2 kgf/m).
Foram produzidas 23.570 unidades do Karmann Ghia no Brasil, incluindo as 177 conversíveis. O carro ficou no mercado nacional entre 1962 e 1971 e, até hoje, é considerado um dos maiores clássicos da indústria nacional.
Fim da linha
Lá fora, o modelo ficou “vivo” por mais algum tempo, e se aposentou em 1974, com 445 mil unidades fabricadas. O fim da linha, aliás, ocorreu por um motivo inusitado: a falta de matéria-prima para produção da carroceria, que era de fibra de vidro.
Curiosamente, o uso do material por pouco não impediu o carro de ser fabricado, já que, inicialmente, ele foi vetado por “não ser adequado para carros”, mas acabou liberado depois que o governo alemão entrou em cena e derrubou o veto. Para sorte da indústria automotiva, que viu nascer um dos maiores clássicos de sua história.