Great Wall vai conquistar o coração brasileiro, promete executivo da montadora
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |
A Great Wall Motor (GWM) está prestes a colocar seus automóveis para rodarem no Brasil e está confiante de que não chegará para ser apenas mais uma no já concorrido de carros híbridos e elétricos.
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Em entrevista exclusiva para o Canaltech, o Chief Commercial Officer da Great Wall, Oswaldo Ramos, confirmou a intenção da marca de lançar ao menos 10 carros por aqui nos próximos três anos e, mesmo sem revelar quais os modelos que virão, fez uma aposta ousada: a marca conquistará o coração do consumidor brasileiro.
“Brasileiro lê muito sobre carro, adora ler sobre tecnologia. Todo mundo sabe o que está acontecendo lá fora. Existe interesse por mais oferta de produto”, comentou Ramos, que tem em seu escopo de trabalho acompanhar estudos sobre o que o consumidor do Brasil procura em um carro novo.
O executivo também mostrou confiança em jogar por terra um tabu que, verdade seja dita, ainda existe no mercado automotivo, mas que já foi maior: o de que carro chinês é de baixa qualidade. E a aposta para enterrar o mito de uma vez por todas é simples: profissionalismo.
“O brasileiro é carente e adepto às novas tecnologias. Talvez seja o menos fiel às marcas tradicionais, pois é extremamente aberto às marcas novas de TVs, celulares. O consumidor vai no time que entregar o que ele quer com qualidade”, argumentou.
Great Wall quer derrubar tabu
O preconceito contra carros chineses, na visão do executivo, pode ter nascido por experiências frustradas do consumidor com outras marcas que passaram por aqui, mas sem a infraestrutura necessária. E esse será um ponto de atenção máximo no planejamento da Great Wall para o Brasil.
“Talvez isso (preconceito contra carro chinês) gere incerteza porque algumas marcas vieram como importadoras ou com veículos com pouca tecnologia ou sem rede de assistência”, argumentou.
“A resposta é qualidade e rede profissional, com foco no consumidor. Precisamos aprender a atender o novo consumidor. Precisa ter qualidade, serviço em pós-vendas, e vir para ficar. A gente vindo com todos esses fatores, temos certeza de que o brasileiro será aberto a marcas novas. Não queremos ser mais do mesmo”.
A infraestrutura prometida pela GWM para o país é gigante. Segundo Oswaldo Ramos, a estratégia adotada será a chamada new retail model (novo modelo de revendas). Para isso, contará com o apoio de parceiros regionais para fazer a distribuição de pontos de venda e de pós-vendas.
“Será o famoso ‘figital’, ou seja, o suporte digital misturado ao físico, tradicional. Teremos 30 grupos, ou partners, cada um em uma região do país; e em São Paulo, que é imensa, partners por região. Cobriremos 100% do território nacional até o final de 2022 e teremos 133 pontos de venda e assistência até o segundo semestre de 2023, não só nas regiões metropolitanas, mas também para outros polos de consumo”.
Foco no híbrido
O CCO da Great Wall não adiantou quais serão os modelos que virão ao Brasil, mas jogou uma pá de cal em quem esperava ver o Punk Cat, da subsidiária Ora, também conhecido como “clone” do Fusca, desembarcando por aqui.
“O foco é total em SUVs e picapes. Essa é a tendência do mercado brasileiro. A marca Ora é 100% elétrica, para o consumidor que pode se dar ao luxo de ser premium. O que vem da marca Ora para o Brasil ninguém viu qualquer imagem ainda”.
Segundo Oswaldo Ramos, não há uma proporção definida sobre quantos híbridos e quantos 100% elétricos vão compor o pacote de 10 lançamentos da marca no Brasil nos próximos três anos, mas o plano é “educar” o consumidor, que ainda tem medo de trocar um veículo a combustão por um elétrico.
“Não há conta exata de híbridos e elétricos. Os carros estão em desenvolvimento levando em conta inputs do mercado brasileiro, explorando cada cluster. Carro elétrico puro tem o ponto da infraestrutura, mais do que o preço. Ela começa a se multiplicar com o carro plug-in híbrido. Ele é a forma de educação, de aprendizagem, e de multiplicar postos de recarga. Quando perder o medo, vai para o carro elétrico”.
Híbridos “com gostinho” de elétricos puros
Os carros híbridos da Great Wall que estão sendo preparados para desembarcar no mercado brasileiro, aliás, serão diferentes dos que o consumidor se acostumou a ver por aqui: com autonomia elétrica pequena em comparação à propulsão comum.
“Autonomia de 40 quilômetros no modo elétrico para o brasileiro é a mesma coisa de ter um carro a gasolina”, comparou. “Os híbridos no mercado têm muita gasolina e bateria como suporte. O nosso é ao contrário. Você vai dirigir um carro elétrico e ter a gasolina para dar suporte”, explicou o executivo.
Segundo ele, a bateria dos carros híbridos da GWM terá autonomia para, no mínimo, 200 quilômetros, e esse padrão é o que fará com que o brasileiro tenha a oportunidade de sentir o real prazer, como ele próprio definiu, de dirigir um veículo elétrico.
“Se você não quiser mais por gasolina, andará com ele só no elétrico. O diferencial do produto que traremos para o Brasil é esse. Você terá a real experiência de dirigir um carro 100% elétrico. Quando quiser uma viagem mais longa, aí sim terá o suporte da gasolina. Ninguém investe 200 mil para ter carro de uso restrito na cidade”, opinou.
Tecnologia semiautônoma, 5G e reconhecimento facial
Além de uma tecnologia híbrida que privilegia o motor elétrico, os carros da Great Wall Motor também serão dotados de um pacote de acessórios e recursos capaz de conquistar até mesmo o cliente mais exigente. Pelo menos se tudo o que o executivo da marca revelou ao Canaltech for tão bom na prática quanto na propaganda.
“A GWM tem todos os níveis de tecnologia, mas não vamos trazer tecnologia de entrada. Vamos trazer mais de topo”, adiantou.
Entre os recursos que sairão de série em todos os veículos que virão para o Brasil estão direção semiautônoma nível 2 “com upgrade” que, segundo ele, medirá também a distância dos veículos que passarem pelas laterais do carro.
Além disso, os carros oferecerão conectividade 5G e uma grande novidade: o sistema de reconhecimento facial. O executivo explicou que o recurso funcionará como o login do carro: “Quando identifica o condutor, bancos, posição de volante, espelhos e central multimídia ajustam todo o setup, inclusive tocando a playlist que tiver em seu smartphone”.
Toda essa tecnologia de ponta terá um preço a ser pago, mas, de acordo com Oswaldo Ramos, nada que afaste do consumidor comum o sonho de entrar em um segmento novo e crescente no mercado de automóveis.
“Lógico que tem produtos que vão brigar no mercado premium, mas a grande jogada é entrar no mercado central, na parte superior. Não estamos falando de carro popular, claro, mas de picapes e SUVs na faixa em que o consumidor está hoje”, concluiu.