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0 a 100km/h em 1 segundo? Aceleração brutal pode afetar saúde

Por| Editado por Jones Oliveira | 04 de Abril de 2022 às 09h00

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Samuele Errico Piccarini/Unsplash
Samuele Errico Piccarini/Unsplash

Quem gosta de carros superesportivos, elétricos ou a combustão normalmente busca a ficha técnica do modelo para saber em quanto tempo ele acelera de 0 a 100 km/h, não é mesmo? Mas será que essa aceleração, cada vez mais forte e imediata, pode ser perigosa para a saúde?

Foi essa uma das perguntas que a reportagem do Canaltech direcionou para Felipe Siciliani Scalco, médico Ortopedista e Traumatologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Regional do Rio Grande do Sul (SBOT-RS).

O primeiro tópico do bate-papo com o especialista foi relacionado a um modelo específico de carro elétrico: o Tesla Roadster, que chega aos 100 km/h em impressionantes 1,9 segundos. O "problema" é que há um protótipo modificado que recebeu um propulsor do SpaceX e vai do 0 aos 100 km/h em um tempo menor ainda: apenas 1,1s.

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Não há, ao menos por enquanto, qualquer indício de que este carro com propulsor de foguete entre em linha de fabricação, mas, em se tratando da montadora do bilionário Elon Musk, tudo é possível. E se por acaso isso vier a ser real? Acelerar esse carro/foguete é para qualquer um?

“É um assunto que mistura física com medicina e cotidiano. Na transição dos carros a combustão para os elétricos, não nos preocupamos com potência, mas agora já há condições mais desafiadoras”, comentou o traumatologista, indicando que há, sim, preocupação com o tema e o avanço da tecnologia.

Força G em ação: os riscos à saúde

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A explicação para os efeitos que a aceleração cada vez mais forte e imediata disponibilizada em alguns carros causam no ser humano baseia-se em um único princípio: a força G.

De uma forma simples e direta, ela pode ser definida como a aceleração relativa à gravidade da Terra. Ou seja: é a aceleração que age sobre nós. Segundo o traumatologista ouvido pelo Canaltech, a força G normal, ou seja, com impacto 1G, não tem efeito algum sobre o corpo.

“Podemos ter a força G em planos, positividade e negatividade. No caso dos caças, ela atua em três planos e, nos carros, de forma linear, para frente e para trás. Quando acelera, exerce a força sobre o banco e joga o motorista para trás. Na frenagem, ele é jogado para a frente, contra o cinto de segurança”, explicou.

O doutor Felipe Scalco revelou que a aceleração de 0 a 100 km/h, quando alcançada em aproximadamente 2,75 segundos, equivaleria à força 1G, ou seja, seria segura para a saúde. No caso específico do Tesla Roadster equipado com propulsor de foguete, chegar aos 100 km/h em 1,1 segundos é diferente, pois ela equivaleria a 2,5G.

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“Alteraria alguma capacidade cognitiva na direção, pois o motorista perderia a visão periférica e poderia causar um acidente. Haveria o borramento visual e outros efeitos”, explicou o especialista

Coluna, cabeça e até acidente vascular

A lista de problemas que a aceleração brutal dos carros pode causar ao corpo humano é extensa e pode atingir uma série de órgãos, especialmente em quem não tem condições físicas ideais, ou seja, não é piloto de Fórmula 1, aviões caças, etc.

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“Pessoas com lesões de coluna, como estenose de canal cervical ou mielopatia, que forem dirigir um veículo com grande força G de aceleração e frenagem sem capacete apropriado, vão jogar a cabeça para frente, para trás, para o lado. Pode dar lesão”, alertou.

O médico não atestou de forma categórica que algum órgão, além dessas partes do corpo, diretamente afetados pela força G, possam sofrer os efeitos da aceleração quase imediata que alguns carros hoje disponibilizam, mas não descartou a possibilidade:

“Temos que pensar no deslocamento do sangue nas estruturas. Vamos perder oxigênio no cérebro e, por isso, na força máxima (4G a 6G em foguetes ou montanhas-russas), até pilotos desmaiam. Uma pessoa idosa, ou alguém com certo grau de estenose arterial ou isquemia, pode sofrer algum acidente vascular transitório”.

Riscos além da saúde

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Os principais riscos de ver nas ruas e avenidas carros com a capacidade quase instantânea de sair do 0 aos 100 km/h, no entanto, vão além da saúde. Na visão do médico ouvido pelo Canaltech, é a segurança de outras pessoas, que nada têm a ver com o supercarro, que também passa a estar em jogo.

“O maior risco em um veículo atingir essa velocidade em tão pouco tempo não é nem a força G. Imagina chegar em 1 segundo a 100 quilômetros por hora quando abrir o farol, por exemplo. Se houver uma pessoa na faixa de segurança, ou se um carro frear de repente, o motorista provavelmente não vai ter tempo hábil para olhar o evento adverso, checar o retrovisor para desviar ou começar a frear para evitar uma tragédia maior. Vejo que esse é o grande problema de ter na cidade um veículo que te coloca a 100 por hora quase que de forma imediata”.

Combustão x Carro elétrico

De acordo com o doutor Scalco, essa evolução no arranque dos carros é ainda mais preocupante no segmento dos elétricos, que vem evoluindo dentro e fora do Brasil. A diferença está justamente na forma em que essa explosão da inércia aos 100 km/h acontece.

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“Nos carros a combustão, o desempenho da força de torque e de arranque evolui conforme vai andando e trocando de marchas. O elétrico tem uma única marcha, e desenvolve toda a potência no momento em que você pisa no acelerador. Há uma grande discussão sobre o que isso pode gerar”, comentou.

“Essa capacidade do motor elétrico de entregar toda a potência de pronta mão, sem necessidade de trocar marchas para chegar lá, é um tanto quanto perigosa na cidade, sem preparo físico, pista ou atendimento médico de prontidão”, complementou.

Segundo o traumatologista, não é o caso de fazer uma cruzada contra a tecnologia, muito menos contra a adoção massiva de carros elétricos, comprovadamente mais amigos do meio ambiente do que os veículos a combustão. O desafio, para ele, está em definir limites para esta evolução.

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“Não vejo com bons olhos esse desenvolvimento tecnológico ao extremo. Acho que o carro elétrico é extremamente importante e necessário, mas sempre com moderação”, alertou Scalco. "Não vejo com bons olhos toda essa tecnologia à disposição de qualquer pessoa com poder aquisitivo para adquirir e utilizar na cidade”.