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Daguerreótipo | Como era a primeira câmera fotográfica?

Por  • Editado por  Wallace Moté  | 

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Mick Haupt/Unsplash
Mick Haupt/Unsplash

Registrar momentos importantes em imagens é uma prática comum desde os primórdios da humanidade. Partindo das pinturas rupestres, passando por obras de grandes artistas e chegando às câmeras modernas, figuras históricas e grandes acontecimentos ficaram marcados em algum tipo de gravura.

Atualmente, as câmeras ganharam uma importância ainda maior, agora que estão presentes no bolso de praticamente todas as pessoas: os celulares modernos trazem sensores cada vez mais potentes, com resolução crescente e zoom com magnificação de mais de 100 vezes. No entanto, o processo para chegarmos ao avanço tecnológico moderno passa por uma jornada longa, iniciada na França do século XIX com o Daguerreótipo — dispositivo considerado a primeira máquina fotográfica.

Daguerreótipo, a primeira câmera fotográfica

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Pintor, físico e inventor, o francês Louis Jacques Mandé Daguerre tinha um interesse especial em reproduzir com mais precisão a iluminação e a perspectiva dos cenários que pintava, empregando a câmara escura para produzir suas obras. Precursoras das câmeras fotográficas e muito utilizadas para pinturas e desenhos realistas, as câmaras escuras direcionam a luz através de um pequeno orifício em uma caixa escura para projetar a imagem em uma superfície, facilitando então o trabalho dos artistas.

Em 1826, Daguerre conheceu o trabalho do também francês Joseph Nicéphore Niépce, inventor que buscava desenvolver uma maneira de tornar permanentes as imagens obtidas pelas câmaras escuras e, no mesmo ano, registrou o quintal de sua casa no que é considerada a primeira fotografia do mundo. Para isso, Niépce revestiu uma placa de estanho com um composto conhecido como betume da Judeia, uma espécie de “asfalto natural” que endurecia em contato com a luz.

Os trechos que não haviam endurecido eram retirados com essência de alfazema, gerando assim uma espécie de foto primitiva. O processo, que levava 8 horas, foi chamado pelo cientista de Heliografia. Após conhecer Daguerre, a dupla seguiu testando novos materiais na tentativa de agilizar o processo de captura, descobrindo, por exemplo, a importância da combinação de prata nas placas, bem como o uso de iodo (presente no sal de cozinha) para aprimorar os resultados, que se tornaram permanentes.

Após a morte de Niépce em 1833, Daguerre herdou os dados dos experimentos diante do contrato que havia sido estabelecido entre os dois e seguiu com os estudos. Nesse período, um acidente levou o francês a descobrir que o vapor de mercúrio de um termômetro quebrado acelerava o processo de fixação da imagem de 8 horas para apenas 30 minutos. Combinando tudo o que havia estudando nesses anos, o pintor desenvolveu então o daguerreótipo.

Como funcionava o Daguerreótipo

Mesmo com a agilidade de revelação da imagem obtida pelos estudos de Daguerre, o processo do daguerreótipo ainda exigia muitos preparativos, e levava múltiplas etapas até que as imagens capturadas estivessem prontas. A primeira delas se iniciava com a limpeza e o polimento da folha de cobre revestida por uma fina camada de prata, que serviria como “o filme da câmera”.

Essa fase durava até que a placa estivesse com o acabamento similar ao de um espelho. O material era então transferido para uma caixa fechada, onde era exposto em uma solução de iodo para ficar mais sensível à luz até apresentar uma coloração mesclada entre rosa e amarelo, momento em que seria então colocado na câmara escura.

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Após um período de exposição à luz, que poderia durar até 15 minutos nos primeiros modelos de daguerreótipo, a folha de cobre era tratada com mercúrio quente para que a imagem registrada fosse revelada. A finalização consistia na imersão da placa em solução de tiossulfato de sódio, seguida da aplicação de cloreto de ouro, para que a figura fosse fixada permanentemente.

Daguerre apresentou oficialmente seu daguerreótipo em 19 de agosto de 1839, em uma conferência realizada na Academia Francesa de Ciências — data que acabou se tornando o dia mundial da fotografia. Em vez de patentear a tecnologia, o pintor francês a liberou para domínio público, solicitando apenas uma pensão vitalícia do governo da França, o que levou o dispositivo a ser reproduzido em todo o mundo, inclusive no Brasil.

A chegada do Daguerreótipo ao Brasil

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Diferente do que possa se esperar, o daguerreótipo chegou rapidamente ao Brasil considerando o período, apenas quatro meses após sua apresentação, ainda em 1839. A novidade estava a bordo do navio L’Oriental, sob responsabilidade do abade francês Louis Comte, que havia estudado a tecnologia com o próprio Daguerre.

A embarcação atracou no Rio de Janeiro em 23 de dezembro de 1839, e pelas semanas seguintes, Comte registrou diversos daguerreótipos (nome também dado às imagens produzidas pelo dispositivo). Em janeiro de 1840, o religioso apresentou a técnica a Dom Pedro II, então imperador do Brasil, que adquiriu uma unidade em março daquele ano — provavelmente o primeiro da América do Sul — e instituiu a daguerreotipia como meio de divulgação oficial do governo.

Um fato curioso é que Machado de Assis, autor de importantes produções literárias nacionais como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, nasceu no mesmo ano em que o daguerreótipo foi inventado, e chegou a escrever sobre o aparelho em uma coluna ao Diário do Rio de Janeiro em 1864, questionando “até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?”.

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Fonte: Insta Arts, iPhoto ChannelBrasiliana Fotográfica