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Reprodução assexuada: filhotes de camundongos nascem de óvulo não fecundado

Por| Editado por Luciana Zaramela | 11 de Março de 2022 às 08h30

Bilanol/Envato Elements
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Através da edição genética, uma equipe de cientistas chineses induziu um caso de reprodução assexuada em camundongas. O experimento controverso não envolveu o uso de células reprodutivas masculinas (espermatozoides) e o óvulo não foi fecundado, mas gerou descendentes férteis. Mais pesquisas ainda são necessárias para o aperfeiçoamento da técnica.

Publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), o estudo foi liderado por Yanchang Wei, pesquisador de medicina reprodutiva do Hospital Ren Ji, em Xangai. Membros da Universidade da Califórnia, nos EUA, e da Universidade Jiao Tong de Xangai também participaram da pesquisa.

Experimento com roedores desenvolve óvulos não fecundados (Imagem: Reprodução/Wei et al., 2022/PNAS)
Experimento com roedores desenvolve óvulos não fecundados (Imagem: Reprodução/Wei et al., 2022/PNAS)

"O sucesso da partenogênese em mamíferos abre muitas oportunidades na agricultura, pesquisa e medicina", explicam os autores no artigo. No futuro, as descobertas poderão impactar os conhecimentos sobre a reprodução humana.

Mamíferos se reproduzem de forma assexuada?

Na natureza, mamíferos não se reproduzem sozinhos, de forma assexuada. É necessário que o espermatozoide do macho fecunde o óvulo da fêmea e, dessa forma, o embrião começa a se desenvolver.

"Nos mamíferos, uma nova vida começa com a fusão de um óvulo e um espermatozoide. A partenogênese, uma forma de gerar descendentes exclusivamente a partir de gametas femininos, é limitada devido a problemas decorrentes do imprinting genômico [impressão genómica]", detalham os autores do estudo.

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A situação é diferente para algumas espécies que não precisam se acasalar no processo de reprodução. O caso mais conhecido é o das abelhas. No entanto, algumas cobras ou o dragão de Komodo podem realizar a partenogênese de forma facultativa. Na maioria dos casos, isso ocorre quando são criados em cativeiros.

Como um óvulo não fecundado cresceu?

Na pesquisa com os camundongos, os cientistas usaram uma técnica de edição de genes muito semelhante ao CRISPR — também chamada de tesoura genética —, o Cas9. No experimento, a equipe não alterou algumas letras do DNA, mas operou mudanças químicas nelas. Precisamente, foram mudanças epigenéticas, que podem ativar ou desativar determinados genes.

Com a ferramenta de edição genética, os pesquisadores simularam a impressão genética em sete pontos diferentes do genoma de um óvulo que já tinha duas cópias de cada gene. Segundo os autores, a intervenção desencadeou um processo bioquímico semelhante ao da fertilização. O óvulo passou de uma única célula a um blastocisto de 140 células.

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No total, 192 embriões foram transferidos para as cobaias. Apenas 14 deles evoluíram para a gravidez e somente três nasceram como filhotes vivos. Os pesquisadores explicam que os filhotes pesavam menos que o normal. No final do experimento, apenas um animal chegou até a idade adulta. O camundongo sobrevivente era viável e conseguiu gerar uma prole própria e saudável.

Descoberta faz sentido para humanos?

"Este trabalho é um primeiro passo muito preliminar para a autonomia reprodutiva das mulheres", explica Xavier Vendrell, membro da Associação Espanhola de Genética Humana e especialista em saúde reprodutiva, para o jornal El País.

“Traduzir esses resultados para humanos está longe de ser automático. Na Espanha, por exemplo, seria ilegal manter embriões desse tipo além dos três dias de idade. Mas também é que o programa de impressão genética humana é muito mais complexo do que o do camundongo. Não conhecemos nem todas as famílias de genes envolvidas”, completa.

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Fonte: PNAS e El País