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Pesquisadores da Unicamp descobrem por que a COVID-19 é mais cruel em diabéticos

Por| 26 de Maio de 2020 às 18h56

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Pessoas que possuem diabetes estão mais vulneráveis aos riscos da contaminação pelo novo coronavírus, fazendo com que a doença se agrave e seja fatal. Para entender por que isso acontece, cientistas brasileiros fizeram testes em laboratório para esclarecer os efeitos da COVID-19 em diabéticos.

O trabalho possui o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp, sob liderança do professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), Pedro Moraes-Vieira, contando ainda com a equipe de estudos contra a COVID-19 da universidade, sob coordenação do professor Marcelo Mori.

De acordo com os pesquisadores, os monócitos, células de defesa que servem como fonte extra de energia, captam o teor mais alto de glicose no sangue, dando espaço então à replicação do novo coronavírus de forma mais intensa que a de um organismo saudável. Os cientistas dizem ainda que, respondendo ao aumento de uma carga viral, esses monócitos acabam liberando uma quantidade alta de citocinas (proteínas inflamatórias), que provocam consequências graves, como a morte das células do pulmão.

A equipe de pesquisadores contou com a ajuda de ferramentas de bioinformática para analisar os dados públicos de células pulmonares, vindos de pacientes que apresentavam quadros médios e severos da COVID-19. Essa análise chegou a uma superexpressão de genes envolvidos na via de sinalização de interferon alfa e beta, relacionada à resposta viral do organismo.

Pesquisadores da Unicamp descobrem por que a COVID-19 é mais cruel em diabéticos
Imagem: Reprodução

Então, foi observado no pulmão de pacientes graves uma quantidade alta de duas células que atuam na defesa e controle da homeostase do organismo, monócitos e macrófagos, sendo as mais abundantes nas amostras. A análise mostrou ainda que a via glicolítica, que metaboliza a glicose, apareceu consideravelmente aumentada.

Foram feitos diversos ensaios com monócitos infectados com o novo coronavírus, sendo cultivados com diferentes concentrações de glicose. Os experimentos foram realizados no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve), que conta com o nível 3 de biossegurança, sob coordenação do professor José Luiz Proença Módena.

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"Quanto maior a concentração de glicose no monócito, mais o vírus se replicava e mais as células de defesa produziam moléculas como as interleucinas 6 e 1 beta e o fator de necrose tumoral alfa, que estão associadas ao fenômeno conhecido como tempestade de citocinas, em que não só o pulmão, como todo o organismo, é exposto a essa resposta imunológica descontrolada, desencadeando várias alterações sistêmicas observadas em pacientes graves e que pode levar à morte", explica Moraes-Vieira, líder do estudo.

Então, os cientistas usaram em células infectadas uma droga que auxilia na inibição do fluxo de glicose, conhecida como 2-DG, que foi capaz de bloquear a replicação do vírus de forma completa, bloqueando também o aumento da expressão das citocinas e da proteína ACE-2, usada pelo novo coronavírus para afetar as células humanas.

Pesquisadores da Unicamp descobrem por que a COVID-19 é mais cruel em diabéticos
Imagem: Reprodução/Pixabay

Os pesquisadores aplicaram também uma droga que vem sendo testada em pacientes com determinados tipos de câncer, chamada de 3PO, responsável por suprimir a captação de glicose pelas células. O resultado mostrou conclusões semelhante à 2-DG, com menos replicação viral e menos expressão de citocinas inflamatórias.

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Os cientistas concluíram que, ao utilizar antioxidantes sobre as células infectadas pelo novo coronavírus, o metabolismo de glicose ficava limitado. Dessa forma, observaram que o vírus parou de se replicar nos monócitos, que por sua vez, deixavam de produzir citocinas, tóxicas para o paciente.

"Quando intervimos no monócito com antioxidantes ou com drogas que inibem o metabolismo da glicose, nós revertemos a replicação do vírus e também a disfunção em outras células de defesa, os linfócitos T. Com isso, evitamos ainda morte das células pulmonares", complementa o autor do estudo.

As drogas usadas nas pesquisas vêm sendo testadas para alguns tipos de câncer e, no futuro, podem também passar por pacientes infectados com a COVID-19. O estudo completo está disponível para consulta online.

Fonte: Agência FAPESP