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Afinal, o que é sono profundo? Estudo questiona nossa percepção sobre ele

Por| Editado por Luciana Zaramela | 19 de Novembro de 2021 às 08h30

AnnaStills/Envato Elements
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O que explica a sensação de sono profundo, após uma boa noite de descanso? A principal ideia era que esta sensação é alcançada quando as ondas cerebrais diminuem o seu ritmo e, ao chegarem a esse estágio, os indivíduos conseguiriam relatar um bom período de descanso ao despertarem. No entanto, um estudo suíço observou que nem sempre as pessoas têm a real compreensão do sono e podem se sentir "acordadas" ou agitadas mesmo durante o sono profundo.

Para investigar as causas da insônia, uma equipe de pesquisadores do Centro Hospitalar Universitário Vaudois (CHUV), na Suíça, identificou evidências que desafiam a teoria de que ondas cerebrais lentas e menor atividade cerebral durante o sono indicam que a pessoa está se sentindo profundamente adormecida. Os resultados do estudo foram publicados na revista científica Current Biology.

Sensação de sono profundo pode divergir do estado fisiológico do cérebro, segundo estudo (Imagem: Reprodução/Zohre Nemati/Unsplash)
Sensação de sono profundo pode divergir do estado fisiológico do cérebro, segundo estudo (Imagem: Reprodução/Zohre Nemati/Unsplash)

Como o cérebro funciona enquanto dormimos?

Antes de seguirmos para as descobertas dos cientistas suíços, vale compreender como o sono funciona. O ciclo do período de descanso é divido em dois grandes grupos: o sono NREM (movimento não-rápido dos olhos, traduzido do inglês) e o REM (movimento rápido dos olhos). Durante a noite, o ciclo completo costuma ser repetido de quatro até seis vezes.

Conhecido como a primeira parte do descanso, o sono NREM possui quatro diferentes estágios. Através dele, o indivíduo consegue recuperar a energia física, já que a atividade neural é reduzida e o descanso profundo ocorre. A seguir, confira os seus estágios:

  • Estágio 1: o processo de relaxamento começa, mas a pessoa ainda está na transição entre o estado de vigília e o sono. Por isso, qualquer estímulo do meio pode acordá-la;
  • Estágio 2: de forma gradual, o sono se torna mais profundo e a pessoa nem sempre responderá a algum estímulo do meio. Além disso, a atividade cardíaca é reduzida, os músculos relaxam e a temperatura abaixa;
  • Estágio 3: é o início da fase mais profunda do sono, sendo considerada um momento de transição;
  • Estágio 4: de fato, começa a fase mais profunda do sono. Nesse momento, diferentes hormônios podem ser liberados e o indivíduo deve estar pleno.

Após o último estágio do sono NREM, a pessoa retoma aos estágios 3 e 2. Em seguida, é iniciado o sono REM. Agora, os olhos fechados se movimentam rapidamente e os sonhos ocorrem. Há o máximo relaxamento muscular, mas também ocorre uma intensa atividade cerebral. Inclusive, a frequência cardíaca e a temperatura voltam a subir. Aqui, não há descanso profundo. Só que habilidades, como memória e criatividade, estão conectados com esse momento.

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Experimento sobre o sono profundo

Para investigar as origens da insônia e, talvez, encontrar uma cura, os pesquisadores recrutaram 10 pessoas com insônia e 20 pessoas que costumam dormir bem para integrarem o estudo. Estes 30 indivíduos se submeterem a uma série de exames do tipo EEG (eletroencefalograma, em sono e vigília), enquanto dormiam em um laboratório. O exame investiga anormalidades que envolvem a atividade cerebral e é bastante usado em quem apresenta distúrbios do sono.

Estudo contou com 30 voluntários que dormiram no laboratório, enquanto cientistas avaliavam a atividade cerebral (Imagem: Reprodução/Engagestock/Envato Elements)
Estudo contou com 30 voluntários que dormiram no laboratório, enquanto cientistas avaliavam a atividade cerebral (Imagem: Reprodução/Engagestock/Envato Elements)

Durante o estudo, os pesquisadores interromperam o sono dos participantes por 787 vezes. Nesse momento, o voluntário era questionado sobre a qualidade do sono naquele momento e como ele se sentia. As perguntas ajudavam os cientistas a entender se a autopercepção do sono cruzava com a experiência vivida pelo cérebro.

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O que o estudo francês descobriu?

Ao examinar os dados obtidos pelo ECG e pelos questionários, os pesquisadores fizeram novas descobertas. "Surpreendentemente, em pessoas que dormiam bem, o sono era subjetivamente mais leve nas primeiras 2 horas do sono NREM, geralmente considerado o sono mais profundo, e [o sono era subjetivamente] mais profundo no sono REM". Esta é a percepção oposta do que ocorre no corpo.

Em comparação com pessoas que dormem bem, as pessoas com insônia relataram o sono REM como sendo menos profundo, ou seja, mais leve. "Essas descobertas desafiam a noção amplamente difundida de que o sono de ondas lentas é o responsável pela sensação de sono profundo", escrevem os pesquisadores no artigo.

"A profundidade subjetiva do sono está inversamente relacionada a um processo neurofisiológico que predomina no início do sono NREM, torna-se quiescente no sono REM e se reflete na atividade do EEG de alta frequência. Em pessoas com percepção incorreta do sono, esse processo é mais frequentemente ativo, mais espalhado espacialmente e persiste anormalmente no sono REM", concluem os autores sobre as diferenças da qualidade do sono entre os indivíduos.

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A partir dessas descobertas, o grupo de pesquisadores sugere que as ondas lentas do cérebro não necessariamente indicam um sono pesado e nem garantem a sensação de um bom descanso.

Fonte: Current Biology, com infomações da USP