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PSOL pede anulação do Cadastro Base do Cidadão por "violar LGPD"

Por| 25 de Outubro de 2019 às 17h00

Camara-e.net
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Na última terça-feira (22), a bancada do PSOL na câmara dos deputados propôs o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 675/2019, que tem como a anulação do Decreto 10046/2019, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 10 de outubro e que cria o Cadastro Base do Cidadão, uma central única onde ficarão salvos num único cadastro todos os dados dos brasileiros que estejam ligados a algum órgão público, como CPF, Renavam, cadastro de exames do SUS e previdência.

O partido discorda do modo como ela foi criada, sem nenhum tipo de discussão com o congresso ou com especialistas de banco de dados, o que acaba deixando algumas pessoas preocupadas. Os críticos do decreto alegam que o texto permite a criação de um aparato de vigilância parecido com o usado na China, e por isso não deveria ser aprovado sem mudanças que garantam que essa opção não exista.

Outro problema com o atual texto do decreto é que a centralização pode trazer também sérios problemas de segurança, pois qualquer vazamento ou invasão hacker que ocorra no servidor permitirá a coleta de um verdadeiro dossiê sobre a vida das pessoas, que pode ser usado para criar fraudes bastante complexas que podem enganar até mesmo as pessoas mais atualizadas sobre esses golpes.

PSOL pede anulação do Cadastro Base do Cidadão por "violar LGPD"

Outro motivo para a dissolução do decreto seria que, ao estabelecer regras para o compartilhamento de dados entre diferente órgãos da administração pública, ele entre em conflito com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), pois desconsidera o direito dos cidadãos à autodeterminação informativa (a possibilidade de controlar e proteger os próprios dados pessoais) e coloca o estado como o único agente de controle desses dados. Além disso, o texto também usa termos como “atributos biográficos” e “atributos biométricos”, terminologias completamente estranhas à LGPD e que não fazem uma clara definição dos tipos de dados que esse sistema irá armazenar.

Outro questionamento do PSOL está na em como será estruturado o Comitê Central de Governança de Dados, que é o órgão responsável por garantir a segurança e o funcionamento deste cadastro único. Ao contrário da tradição brasileira de criar um comitê multissetorial, com representantes do setor público, do setor privado e da população (como acontece no Comitê Gestor da Internet e no recém-formado Conselho Nacional de Proteção de Dados e da Privacidade), o Comitê Central de Governança de Dados será formado apenas por membros do executivo, gerando um claro caminho para abusos, já que apenas o governo poderá definir quem poderá acessar esse banco de dados, e é ele mesmo que deve se auto-policiar para garantir que tudo esteja sendo feito de forma ética e correta. Além disso, o texto ainda define que o Comitê é o responsável por solucionar qualquer controvérsia no compartilhamento de dados entre órgãos públicos e privados, mas não estabelece critérios para a resolução de tais conflitos, o que é outra abertura para possíveis abusos do poder público.

PSOL pede anulação do Cadastro Base do Cidadão por "violar LGPD"

Por fim, o texto do PSOL ainda aponta um conflito de atribuições entre o Comitê Central de Governança de Dados e a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), pois como o segundo órgão já foi criado para ser o responsável por fornecer todas as diretrizes e orientações sobre como os órgãos públicos devem tratar os dados dos cidadãos em todo o território nacional, o Comitê criado pelo decreto presidencial deveria ser uma subsidiária da ANPD — mas o texto do decreto permite que o órgão não siga suas regras, colocando o Comitê Central de Governança de Dados acima do órgão que foi criado especificamente para garantir a segurança no armazenamento e o uso ético de dados privados dos cidadãos pelo governo.

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O projeto do PSOL não é o primeiro a pedir a dissolução do Decreto 10046/2019, e se soma ao PSL 661/2019, apresentado pelo deputado André Figueiredo (PDT) no dia 10 de outubro — o mesmo dia que o decreto de Bolsonaro foi publicado. O pedido dos dois partidos é mais uma entre as diversas críticas feitas por ONGs de segurança na internet e privacidade de dados, todas apresentando muitas preocupações não apenas como o Cadastro Base do Cidadão foi criado, mas sobre como o texto vago do decreto pode servir de abertura para abusos do setor público.

Fonte: Câmara dos Deputados