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Por que saber se neandertais podiam meditar é tão importante para a ciência?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Julho de 2022 às 15h16

sgrunden/Pixabay
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Será que um neandertal conseguiria meditar? Essa é uma das perguntas que move a pesquisa de Emiliano Bruner, um paleoneurologista do Centro Nacional de Investigación sobre la Evolución Humana (CENIEH), na Espanha. Seu estudo, publicado na revista Intelligence, na verdade trata de como foi a evolução da atenção no gênero humano a partir de evidências paleontológicas e arqueológicas, o que inclui tantos nós, humanos, quanto nossos parentes extintos.

No trabalho, são discutidas as mudanças evolutivas em nossa capacidade de atenção e a relação disso com o nascimento do gênero humano: foi só com o Homo sapiens, no entanto, que a capacidade cognitiva ficou complexa o suficiente para causar uma revolução no comportamento, na complexidade tecnológica e na estrutura social da espécie.

A capacidade de concentração dos neandertais era boa, mas não tanto quanto a do Homo sapiens (Imagem: sgrunden/Pixabay)
A capacidade de concentração dos neandertais era boa, mas não tanto quanto a do Homo sapiens (Imagem: sgrunden/Pixabay)

Mindfulness do paleolítico

Ao nível paleoneurológico, o estudo se dedicou a verificar o papel da evolução dos lobos parietais do cérebro na atenção — definida pela capacidade de manter o processo cognitivo centrado em apenas um objetivo ao longo do tempo e no espaço frente a distrações internas e externas.

Arqueologicamente falando, a pesquisa avaliou dados sobre a indústria lítica (fabricação de ferramentas de pedra) e ecologia dos hominínios extintos, considerando os comportamentos que pudessem sugerir mudanças evolutivas na memória e nas capacidades visuais e espaciais.

Os lobos parietais são uma parte fundamental da rede de atenção, e também estão envolvidos na nossa capacidade de imaginação visual associada à habilidade de projeção no passado — memória — e futuro — previsão.

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Quando essa capacidade de projeção e a rede de atenção não estão bem sincronizadas, o equilíbrio entre a percepção do momento presente e as ruminações internas pode ser afetado, o que é uma das principais causas de estresse, ansiedade e depressão em humanos.

A meditação é uma boa maneira de trabalhar com esses conceitos, dado que é um treinamento cognitivo para os sistemas de percepção e atenção: recentemente, na neurociência, a atividade tem sido estudada por conta de seus efeitos na habilidade de direcionar e manter a atenção no momento presente.

O gênero humano, que envolve nós mesmos e nossos parentes extintos, como os neandertais, foram evoluindo a atenção ao longo da seleção natural das espécies (Imagem: DEA Picture Library)
O gênero humano, que envolve nós mesmos e nossos parentes extintos, como os neandertais, foram evoluindo a atenção ao longo da seleção natural das espécies (Imagem: DEA Picture Library)

Não à toa o mindfulness, uma das modalidades mais conhecidas da meditação no ocidente, também seja chamada de "atenção plena". Foi notando a proximidade da capacidade de atenção com a meditação que Bruner e sua equipe tiveram a ideia de investigar se os hominínios extintos teriam conseguido praticar a atividade, ou seja, se poderiam selecionar e manter estímulos mentais pretendidos.

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Antes desse estudo, a atenção nunca havia sido estudada a partir de uma perspectiva paleoantropológica, apesar de sua importância para o processo cognitivo. Apesar de ainda rumar no campo especulativo — afinal, não temos um cérebro neandertal para dissecar —, o campo de estudo revela sua importância para podermos entender e lidar com problemas de saúde mental na sociedade atual.

Já que os humanos foram a espécie que realmente desenvolveu capacidades cognitivas — inclusive de atenção — capazes de mudar o jogo da seleção natural, a resposta à manchete desta matéria seria um grande talvez. Caso fizesse um esforço muito grande, um neandertal até poderia conseguir meditar: seu mestre de atenção plena, no entanto, com certeza seria um Homo sapiens.

Fonte: Intelligence