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Cabos submarinos de Internet são mais sensíveis do que você imagina

Por| 07 de Dezembro de 2015 às 12h32

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Cabos submarinos de Internet são mais sensíveis do que você imagina
Cabos submarinos de Internet são mais sensíveis do que você imagina

Recentemente, militares e oficiais da inteligência dos Estados Unidos manifestaram sua preocupação em relação à possibilidade dos russos estarem planejando atacar cabos submarinos vitais responsáveis por quase todas as comunicações globais de internet.

Estes cabos de fibra óptica são responsáveis por 99% de todas as comunicações transoceânicas – telefonemas, e-mails, páginas da web, entre outras. Graças a eles, você consegue conversar com seu amigo que está morando no Canadá, por exemplo.

Mas, muito além da sua videoconferência para colocar o papo em dia, os cabos submarinos são infraestruturas essenciais para a economia global. Não é à toa que as autoridades norte-americanas tenham ficado extremamente desconfortáveis e receosas quando descobriram que submarinos e navios de espionagem russos estão operando agressivamente perto destas instalações.

Apesar da importância desta rede submarina, a maioria das pessoas nunca imagina que algo errado pode acontecer com ela – mesmo sabendo que a interrupção na comunicação destes cabos pode cortar instantaneamente as comunicações no Ocidente.

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"Eu acho que as pessoas ficariam surpresas ao saber que há um pouco mais de 200 sistemas que transportam todo o tráfego da Internet através do oceano, e eles estão, de modo geral, concentrados em poucas áreas. Os cabos acabam sendo canalizados através dos pontos de pressão mais estreitos ao redor do globo", explica Nicole Starosielski, uma pesquisadora na Universidade de Nova York focada na distribuição global de mídia digital.

Starosielski passou seis anos viajando pelo mundo para estudar a história da rede de cabos submarinos e as forças culturais, políticas e ambientais que a moldaram. Suas impressões e descobertas foram registradas no livro "The Undersea Network" (A Rede Submarina), publicado no início deste ano. Um site complementar ao livro permite explorar a rede de cabos do Oceano Pacífico por meio de mapas interativos, histórias dos vários cabos existentes e fotos de algumas instalações.

As razões para esta rede ser tão "pequena" vão desde política à topografia submarina e riscos sísmicos. No entanto, uma das partes mais interessantes do seu trabalho é a que destaca a vulnerabilidade deste sistema tão importante.

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Imagem: Reprodução

Um pouco de história

O primeiro cabo transoceânico metálico foi estabelecido no Atlântico em 1858 e era usado para o tráfego telegráfico. Ele interligava a América do Norte e a Inglaterra e seu sistema era extremamente lento, com uma largura de banda capaz de transportar apenas duas palavras por minuto. Apesar desta e de outras tentativas, o lançamento do primeiro cabo submarino transatlântico a operar com sucesso aconteceu apenas em 1866.

Na década de 1950, o cabo coaxial, um tipo de cabo condutor usado para transmitir sinais, tornou-se padrão. Já em meados dos anos 1990, estes cabos analógicos tornaram-se obsoletos perante a moderna fibra óptica, capaz de transportar grandes quantidades de dados digitais na forma de luz.

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O primeiro sistema óptico, precursor dos sistemas de cabos submarinos atuais, foi implantado nas Ilhas Canárias em 1982. A primeira rede de fibra ótica projetada para utilização da técnica DWDM (Multiplexagem Densa por Divisão de Comprimento de Onda) foi implementada em 1988 para interligar os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Alemanha e Holanda.

Problemas de segurança

Apesar desta evolução tecnológica que aconteceu no fundo do mar, desde meados de 1959 os cabos submarinos têm sido objeto de intriga internacional. Na ocasião, a Marinha dos Estados Unidos embarcou em submarinos para procurar um navio de pesca russo suspeito de ter adulterado os cabos. Eles não encontraram nenhuma evidência incriminadora.

Mas os russos não são os únicos interessados nessas redes. Na década de 1970, a Marinha dos EUA (mais uma vez) recrutou mergulhadores experientes e se uniu à Agência de Segurança Nacional (NSA) e à CIA para trabalhar na ultrassecreta “Operação Ivy Bells”. A ideia era explorar as linhas de comunicação soviéticas submarinas a fim de encontrar informações sobre suas tecnologias e ter alguma vantagem na Guerra Fria.

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Mas não é preciso ser um mergulhador altamente treinado da Marinha para mexer nestes cabos, que atualmente possuem mais ou menos o mesmo diâmetro de uma mangueira de jardim. Em 2006, um terremoto cortou um cabo e interrompeu o acesso à Internet em Taiwan. Em 2007, 100 toneladas de cabos submarinos que conectavam Tailândia, Vietnã e Hong Kong foram roubados. Os ladrões tentaram vendê-los como sucata e a região ficou sem internet por vários meses.

Nem mesmo a natureza dá uma trégua para a rede submarina, pois os tubarões também já foram apontados como uma ameaça para as redes que ficam no fundo do mar. No ano passado, o Google anunciou um investimento de cerca de US$ 300 milhões para ajudar na construção de cabos submarinos de fibra óptica que vão ligar cidades na costa oeste dos Estados Unidos a duas cidades no Japão. Mas o que a gigante das buscas não esperava é que tubarões acabariam mordendo várias partes da estrutura desses cabos, comprometendo seu funcionamento.

Apesar de tantos incidentes, a maior ameaça – cerca de 60% dos cortes de cabos subaquáticos – é proveniente de âncoras de navios e redes de pesca. Devido a estes problemas, os cabos estão devidamente marcados nas cartas de navegação por meio de linhas onduladas rosas, sinais de aviso que mostram aos velejadores onde eles não devem ancorar.

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Exemplo de carta náutica mostrando os cabos submarinos do Rio de Janeiro (Imagem: Reprodução)

Apesar da advertência ser necessária, ela também pode ser vista como uma potencial dica para aqueles que desejam sabotar uma rede de comunicação, uma vez que aponta exatamente sua localização. Este tipo de sabotagem era comum durante as duas Guerras Mundiais, mas nenhum incidente recente foi registrado.

Enquanto cortar um cabo localizado próximo da costa pode ser algo relativamente fácil de fazer, seu reparo também não é algo difícil. No entanto, a maior preocupação está na possibilidade dos cortes realizados em cabos localizados em partes mais remotas do oceano, o que dificulta o acesso de quem precisa recuperar o prejuízo de uma possível sabotagem.

Situação no Brasil

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No Brasil, existem seis cabos em atividade: SAM 1, SAC, Globenet, Americas II, Atlantir-2 e Unisur. O primeiro cabo submarino do país fez parte da primeira linha telegráfica brasileira e foi inaugurado em 1857, interligando a Praia da Saúde, no Rio de Janeiro, com a cidade de Petrópolis. A linha tinha extensão total de 50 km, sendo 15 km em cabo submarino.

Nenhum cabo novo foi inaugurado por aqui desde 2001, mas isto deve mudar por causa da exigência de banda ter crescido nos últimos tempos graças à população cada vez mais conectada. A previsão é que o Brasil receba cinco novos cabos nos próximos anos.

Em junho deste ano, a União Europeia anunciou que irá investir € 26,5 milhões (cerca de R$ 92 milhões) no projeto de construção de um cabo submarino de fibra óptica para ligar Brasil e Portugal. A expectativa é que toda a estrutura do projeto do cabo submarino, que irá de Lisboa até Fortaleza, aumente a oferta de internet e barateie o custo para o consumidor, além de melhorar significativamente a velocidade da conexão.