The Blacklist usa técnica de animação para encerrar a 7ª temporada
Por Laísa Trojaike | 07 de Maio de 2020 às 08h20
Desde o princípio da pandemia da COVID-19, produções audiovisuais de todo o mundo foram suspensas por tempo indeterminado. Ao contrário dos filmes, que são produções únicas e fechadas em si, as séries, que costumam ir ao ar antes que a temporada esteja completamente finalizada, sofreram com o isolamento de uma forma diferente: as emissoras e demais plataformas de exibição precisaram interromper as temporadas na metade pela impossibilidade de dar continuidade às gravações.
A 7ª temporada de The Blacklist teve 22 episódios encomendados, mas somente 18 deles puderam ser aprontados para exibição, com o último destes indo ao ar em 8 de maio. Um 19º episódio estava parcialmente pronto e, para dar um encerramento digno, os produtores decidiram animar parte do episódio, que irá ao ar no dia 18 de junho no canal AXN.
Segundo informações oficiais do canal, a ideia de completar o episódio com animação foi fruto de uma reunião entre os produtores executivos Jon Bokenkamp e John Eisendrath em março, logo após as filmagens em Nova York serem interrompidas. Durante uma entrevista à Associated Press, Bokenkamp comentou sobre o início desse processo criativo:
“Começou meio como uma piada, falando sobre como deveríamos fazer o episódio em questão como uma radionovela das antigas, em que colocaríamos a imagem de uma lareira ou de um rádio na TV, com os atores falando.”
Essa ideia levou os produtores a revisitarem os quadrinhos que surgiram a partir de The Blacklist e, a partir disso, começaram a trabalhar a possibilidade de realizar um episódio híbrido. Embora seja viável trabalhar animação em isolamento, a alternativa não é necessariamente mais fácil que o trabalho de um live-action, como comentou Bokenkamp: “Mas é possível que, se tivéssemos noção da demanda de trabalho que teríamos para transformar em animação metade desse episódio, talvez não tivéssemos seguido com a ideia.”
James Spader, que interpreta o protagonista Raymond 'Red' Reddington e é um dos produtores-executivos da série, apoiou a ideia. “Achei curioso”, disse o ator para a Associated Press. “Pensei que seria a decisão correta, tentar de qualquer maneira finalizar o episódio dentro das nossas possibilidades, e não só esse episódio, mas concluir satisfatoriamente a temporada”.
O roteiro precisou ser revisado para transformar o episódio 19 em uma grande season finale, com um gancho poderoso o suficiente para fisgar os espectadores para uma oitava temporada, prevista para estrear em 2021. Em entrevista, Eisendrath falou um pouco mais sobre o processo ao dizer que “Uma cena que seria gravada com Red e Liz (coprotagonista Megan Boone) sentados em uma sala foi transformada numa cena com os dois andando pelo Passeio Nacional em Washington, com o Capitólio ao fundo”. O processo, ao invés de parecer apenas que a produção estava tapando os buracos deixados pelas gravações interrompidas, na verdade adicionou qualidade ao episódio: “Conseguimos dar um tom ainda mais cinematográfico… Mais próximo de uma graphic novel”, completou Eisendrath.
Bokenkamp explicou que The Blacklist é “como uma versão mais cartunesca de uma série”, isso porque, esteticamente, “já parece um pouco com um quadrinho… O nosso protagonista é um vilão de chapéu. A série é violenta, e também muito emotiva.”
James Spader, que precisou fazer algumas gravações em sua casa durante o isolamento, comentou sobre os desafios de trabalhar no seu ambiente familiar. “Até o momento, não havia interpretado Raymond Reddington com o meu filho entrando de fininho na cozinha para pegar um lanche”, disse. “Mas você faz o que é preciso. Desliga o aquecedor para não fazer barulho e tenta lembrar de não ligar a máquina de lavar pratos”. Além disso, o ator precisou recorrer a gambiarras dignas de cinema estudantil para realizar as gravações de áudio e garantir o isolamento sonoro necessário para a qualidade da série, chegando a utilizar um jogo americano embaixo do microfone, além de bloquear acusticamente as janelas “para impedir a entrada do barulho forte de chuva lá fora”.
O trabalho de animação está nas mãos da Proof, em Londres, respeitando o isolamento, o que dificulta o trabalho de todos os envolvidos que estiveram trabalhando no episódio até o princípio de maio, já muito próximo da data de lançamento do material. “É meio que um processo de 24 horas”, disse Bokenkamp. “Enquanto a gente dorme, Londres está trabalhando, e vemos o que fizeram quando nos enviam o material já pela noite. Analisamos e enviamos nossas recomendações de mudanças, que são feitas por eles rapidamente, num processo que envolve muita gente em diferentes fusos horários, trabalhando sem parar para finalizar o episódio a tempo”.
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Em uma situação ideal, os arranjos para a animação são feitos antes das gravações, com todo planejamento possível sendo executado na pré-produção. O esforço dos produtores de The Blacklist diz respeito a não abandonar os fãs da série, que ficariam sem um fechamento, uma vez que poderia ser prejudicial para a narrativa deixar a temporada com um lapso de tempo entre a exibição da sua primeira parte e dos últimos episódios. Diante disso, Eisendrath comentou que “Foi importante darmos o nosso melhor numa situação adversa para tentar completar o episódio”. Os produtores, assim como o canal AXN, esperam que os fãs compreendam o tamanho do esforço feito para que todos ficassem satisfeitos dentro das possibilidades das consequências de uma pandemia.