Prévia Upload 3ª temporada | Todos merecem o paraíso digital
Por André Mello | Editado por Durval Ramos | 23 de Outubro de 2023 às 15h05
Upload começou sua vida no Prime Video como uma comédia com um conceito interessante, ainda que meio bizarro. Pessoas literalmente fazem upload de sua consciência em paraísos digitais, que são mantidos por seus familiares, que podem visitá-los através de realidade virtual.
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A ideia de vencer a morte e passar a eternidade com seus entes queridos em um local facilmente personalizável é interessante, mas a série mostra o quão problemático é isso quando tudo está nas mãos de corporações que essencialmente só querem tirar dinheiro das pessoas.
Upload teve em sua primeira temporada esse pano de fundo para mostrar, de maneira mais cômica, esse pós-vida digital, misturando com uma trama de romance entre um Upload e uma pessoa viva. Na segunda temporada, a série explorou mais a forma como o mundo realmente vê esse processo e a falta de acesso de pessoas mais pobres a esses paraísos.
Em sua terceira temporada, Upload traz alguns elementos que mudam a maneira como vemos a história, ainda que continue leve e abordando os temas de classe, embalado com ficção-científica e o uso da tecnologia no nosso dia a dia.
Dois Nathan, duas linhas de história
No final da segunda temporada, Nathan, interpretado por Robbie Amell (The Flash), conseguiu ter a sua consciência instalada em um clone seu, deixando para trás o paraíso digital de Lakeview. Ao mesmo tempo, ao perceber que o morador havia sumido, um backup de sua consciência foi reintroduzido no sistema, essencialmente criando outro Nathan.
Por conta disso, a terceira temporada de Upload consegue explorar duas linhas distintas de histórias, mostrando Nathan e Nora (Andy Allo) tentando encontrar um jeito de solucionar de vez o problema com as corporações, enquanto a versão de Lakeview lida com Ingrid (Allegra Edwards) e os habitantes do local.
Essa divisão é bem-vinda e traz um bom equilíbrio para a temporada, deixando um lado lidar com temas mais complexos, como luta entre classes, o uso indiscriminado da tecnologia e corporações comandando as escolhas do povo, enquanto mantém a leveza e o lado cômico do outro.
Em entrevista ao Canaltech, Greg Daniels, criador de Upload e produtor de séries como The Office e Parks & Recreation, comentou que desde a primeira temporada da série, a ideia era abordar vários gêneros diferentes, passando pela comédia, romance, um mistério de assassinato, além de fazer comentários sociais.
Conforme a história sobre a morte de Nathan e sobre quem eram as pessoas por trás dessa conspiração começou a se desenrolar, isso acabou ganhando mais destaque, mas eles ainda tentam buscar um equilíbrio na forma como tocar a série. Daniels afirma que, apesar de nunca ter sido a intenção de deixar a trama mais séria, alguns elementos assim acabam ganhando mais destaque, mas acredita que a porção de comédia na terceira temporada é bem representada.
Mais personagens em destaque
Enquanto a primeira temporada tinha um foco bastante claro em Nathan, Nora e Ingrid, aos poucos, alguns personagens secundários passaram a ganhar mais destaque, o que é natural. Enquanto eles ainda seguiam muito na sombra do trio da primeira temporada, a terceira temporada mostra mais de Luke (Kevin Bagley), Aleesha (Zainab Johnson) e Ivan (Josh Banday).
Greg Daniels comentou que é importante mostrar mais desses personagens pois, através deles, consegue explorar os temas principais da série de uma forma diferente, às vezes mais cômica, do que vista na trama principal.
"Uma das vantagens desse tipo de meio, de ter uma série com mais episódios e chegando à terceira temporada, é que esses personagens que você se apaixonou em doses menores agora se mostram capazes de ter suas próprias histórias, em vez de precisar estar sempre em função dos personagens principais", comentou Daniels.
O preço que a tecnologia cobra de nossas vidas
Desde o primeiro episódio de Upload, existe uma crítica clara à forma como a tecnologia envolve a vida de todos os indivíduos daquele universo, com corporações basicamente escolhendo o caminho que todos vão seguir baseado em hábitos de consumo.
Quem escolhe ficar de fora, é considerado um pária, ou quem nem consegue consumir por conta de seu poder aquisitivo, é excluído. Nada disso é absurdo para a realidade em que vivemos, mas a série trata isso de forma cômica, ainda que exista ali esse questionamento do quanto somos reféns da tecnologia.
Na terceira temporada da série, isso consegue ir até além, já que com o "download" da consciência de Nathan em um corpo clonado no final da segunda temporada, o próprio conceito de morte, que antes já era visto de maneira bastante trivial por conta dos uploads, agora se torna ainda mais frívolo.
Greg Daniels comentou que existem algumas questões filosóficas sobre o que é realmente estar vivo desde os primeiros episódios da série, mas que vê o uso da tecnologia e seus efeitos na série de uma forma que mostre os dois lados da moeda.
"É como quando surgiu o Facebook. Era muito legal poder entrar em contato com pessoas com quem eu estudei no colégio. Só que ao mesmo tempo, não existe qualquer tipo de controle e ninguém evitando que notícias mentirosas sejam difundidas. Talvez a democracia desmorone e eu não sei se valeu a pena ter contato com o pessoal da escola para depois ter isso", disse o criador da série.
Porém, o uso dessa ideia na série faz bastante sentido quando Daniels coloca em perspectiva.
"O mesmo vale para Upload, pois seria ótimo ter os seus avós disponíveis, te dando conselhos, quando eles teriam 130 anos no mundo real. Mas ao mesmo tempo, se essa tecnologia está disponível apenas para algumas pessoas com dinheiro, isso cria problemas. Acho que uma série como Upload ajuda a mostrar de uma forma divertida um pouco do que pode acontecer no futuro, no sentido do uso ético da tecnologia".
A terceira temporada de Upload já está em exibição no Prime Video, com novos episódios estreando toda quinta-feira.