Crítica | 3ª temporada de Ozark destaca conflitos de ideias na família Byrde
Por Natalie Rosa | 31 de Março de 2020 às 09h52
Mais de um ano e meio depois da chegada da segunda temporada de Ozark, finalmente a terceira está entre nós. Os novos episódios estrearam na Netflix no último dia 27 de março, trazendo à tona todos os problemas do casal Marty (Jason Bateman) e Wendy Byrde (Laura Linney) e seu envolvimento com um cartel mexicano.
Como já era de se esperar, o caso vira uma bola de neve em cada episódio, tornando-se mais difícil ver um futuro fora da ilegalidade. Essa esperança, no entanto, ainda existe dentro de Marty, que na terceira temporada começa a duvidar da esposa e agir por contra própria — e ela faz o mesmo. Enquanto o marido se mostra iludido de que se fizerem tudo "certinho" um dia conseguirão fugir para viver em paz, a esposa se entrega de vez para a criminalidade e começa a agir sem escrúpulos.
Atenção: esta crítica contém spoilers da terceira temporada de Ozark!
Na terceira temporada, o cassino está aberto e pronto para começar a lavagem de dinheiro, mas fazer isso de forma discreta acaba sendo um grande desafio para o casal e sua aliada Ruth Langome (Julia Garner). Com o FBI envolvido mais uma vez, a chegada do irmão de Wendy, Ben (Tom Pelphrey), a mudança da "chefona" Helen Pierce (Janet Mc Teer) para a cidade e os conflitos da guerra de traficantes acontecendo, Ruth e Wendy se mostram mais eficientes do que nunca, enquanto Marty faz tudo errado. Sua decisão de monitorar a conversa da esposa se mostrou tão amadora que não foi surpresa o seu sequestro e tortura, sendo visto como um possível traidor.
O jogo passa a ser quase que completamente controlado pelas mulheres da série, mostrando uma reviravolta em comparação com o início da trama, quando tudo começa com o envolvimento de Marty com organizações criminosas. Isso é retratado com a nova investigadora do FBI, Maya Miller (Jessica Frankes Dukes), atormentando a vida do patriarca da família, Ruth se impondo a absolutamente tudo e não abaixando a cabeça para ninguém, nem mesmo para o assassino do cartel que é contratado para fazer o trabalho sujo, e Wendy conseguindo controlar Helen e todos em sua volta para crescer cada vez mais na ilegalidade.
Darlene (Lisa Emery), por outro lado, após ter assassinado o seu marido, não aparece mais na trama como uma personagem tão perigosa assim, ficando em segundo plano nesta temporada. Ainda cuidando do bebê do pastor assassinado, ela começa a se envolver romanticamente com Wyatt (Charlie Tahan), primo de Ruth, e surpreendentemente se torna uma pessoa romântica e capaz de fazer tudo pelo garoto, que tem idade para ser seu neto. Isso envolve defender seja quem for para deixá-lo feliz, como Ruth e Ben, e até mesmo matar Frank Cosgrove Jr. (Joseph Sikora), que espancou a garota.
Mas quem esperava que a trama traria mais à tona um envolvimento pesado com o cartel e o processo de lavagem de dinheiro, além da guerra de traficantes que está colocando tudo em risco, se enganou assim que o irmão de Wendy, Ben, desembarcou na cidade. Tudo o que a família Byrde não precisava era a chegada de mais uma pessoa para, em algum momento, acabar descobrindo o que está acontecendo. A partir desse acontecimento, toda a história se volta para a proteção do rapaz.
Apaixonado por Ruth logo à primeira vista, os dois começam a entrar em um relacionamento, fazendo com que Ben parasse de tomar a sua medicação, o que acaba trazendo a sua bipolaridade à tona. Wendy, que sempre faz tudo, tentou alertar a todos sobre as consequências de seus atos sem estar medicado, mas não foi ouvida. Não demora para que ele se desespere ao saber que sua irmã está envolvida com ilegalidades, tornando os episódios extremamente agoniantes, nos fazendo esquecer do desenvolvimento do cassino.
Ben, em uma atitude equivalente ao suicídio, conta para Erin (Madison Thompson), filha de Helen, que a mãe é uma das pessoas mais importantes e cruéis neste perigoso esquema. Logo, começa a busca pela sua cabeça e Wendy tentando protegê-lo. Boa parte dos episódios mostram todo o pavor da irmã com o caso, com Ben parecendo não entender o quão grave é a situação, contrariando e desobedecendo-a a todo momento. Até mesmo Ruth, que sempre foi fria e pé no chão, não consegue acreditar na doença, sua gravidade e nas consequências que ela pode trazer quando se está envolvido com um caso tão sério.
Por mais que a história tenha se perdido um pouco levando em questão as atitudes do rapaz, o final serviu para mostrar que Wendy, mais do que nunca, está 100% comprometida com o cartel ao entregar o irmão. A capacidade dela nessa perigosa profissão também é exaltada no final, quando ela "mexe os pauzinhos" para mudar a ideia de Omar Navarro, o líder do cartel, colocando-o contra Helen e fazendo com que a confiança seja toda na família Byrde, algo que jamais seria arriscado por Marty.
É difícil imaginar um futuro feliz para a família Byrde, uma vez que até os seus filhos adolescentes estão cada vez mais envolvidos com as atividades ilegais, mostrando seus rostos a todos que, de alguma forma, fazem parte do esquema, seja contra ou a favor dele. O sangue frio já tomou conta de todos os integrantes da família, mesmo que ainda tenha existido sensibilidade em relação ao acontecido com Ben, mas seguindo a linha de histórias do gênero, o desejo por vingança e tomada de poder será maior do que qualquer coisa.
Ainda não há a confirmação de uma quarta temporada, mas, se acontecer, veremos a família Byrde mais envolvida do que nunca com o cartel, agora que ganharam a confiança total do líder que está apostando no trabalho da família. Para o bem de Marty, a decisão certa a se fazer para evitar que todos sejam assassinados será se entregar aos planos de Wendy e entender, de uma vez por todas, que não há como sair desse esquema.
A terceira temporada de Ozark está disponível na Netflix em 10 episódios.