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Crítica | Euphoria, da HBO, retrata a Geração Z de forma imprópria para menores

Por| 09 de Agosto de 2019 às 10h58

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Divulgação: HBO
Divulgação: HBO

Em sua estreia na categoria de produções adolescentes, a HBO comemora o sucesso da série Euphoria. Sob direção de Sam Levinson, a trama tem como foco a personagem Rue (Zendaya), uma adolescente viciada em drogas que, após uma overdose e passar um bom tempo internada, está de volta à escola e precisa se adaptar a uma vida "limpa". Porém, não há a mínima vontade por parte da jovem em ficar longe das drogas.

Imagine qualquer drama ou comédia romântica adolescente que você já tenha assistido. Euphoria vai falar dos mesmos assuntos: sexo, drogas, rejeição, bullying, conflito com a família, descoberta da sexualidade, gravidez e aborto. O que diferencia a série deste padrão da categoria, no entanto, é a forma como os temas são abordados, com muita técnica de filmagem e edição, estética e representações teatrais dignas de aplausos.

Com baixa iluminação, cenas escuras e muito contraste, conferimos a história de uma forma um tanto quanto sombria, visto que cada personagem tem a sua escuridão dentro de si, muitas vezes com situações que se tornam até macabras. Euphoria acaba se tornando o oposto das tramas adolescentes dos anos 1990 e 2000, que contam com muitas cores e toques de comédia.

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Nascidos após os anos 2000, esses personagens pertecem a um novo grupo de jovens, os da Geração Z, viciados em smartphone, internet e que conseguem compreender as questões vividas na escola e na família e relacioná-las com as suas tristezas. Como é mostrado na série, eles já têm consciência de que todo esse sofrimento fica na adolescência, que as coisas passam e mudam, e o que aconteceu antes dos 18 anos não vai mais importar tanto aos 30.

Cuidado! Daqui em diante este texto contém spoilers de Euphoria.

Imprópria para menores de 18 anos

Euphoria é uma série com temática adolescente, mas indicada apenas para maiores de 18 anos. Considerada por alguns como "pesada" ou "chocante", a série não hesita em mostrar cenas de sexo, nudez completa masculina e muitos, mas muitos pênis. O que não seria espantoso para uma série da HBO.

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O uso de drogas também não é nada moderado, mostrando não só o consumo em si, como também o tráfico, seus fornecedores e motivos tristes para entrar nesse mundo. E é justamente esta temática e a forma como ela é abordada que faz Euphoria ser tão incrível na apresentação de sua proposta.

Por abordar bastante a questão do sexo e a descoberta da sexualidade, o que não falta na série é nudez. Mas, como sempre tem sido, vemos nus frontais masculinos e não femininos, em um mundo no qual mamilos de mulheres são censurados o tempo todo. Em uma cena com o personagem Nate (Jacob Elordi), vemos o jovem entrando no vestiário masculino com diversos homens pelados, totalizando 30 pênis em uma cena só. Nos Estados Unidos, a cena causou bastante polêmica e desconforto.

Também vemos a sexualidade exibida de forma explícita quando Kat (Barbie Ferreira) descobre o mundo das "camgirls" para ganhar dinheiro, e em seu primeiro trabalho se depara com um homem se masturbando com seu micropênis de frente para a câmera, pedindo para ser humilhado pela sua condição.

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A cena não é, de fato, algo que gostaríamos de ver e é uma pequena surpresa para todo mundo, inclusive para a atriz. Barbie contou em entrevista que a reação que a personagem teve na frente do seu notebook foi completamente real pois ela não esperava e nem nunca havia visto aquilo antes.

A história sob a perspectiva de Rue

Assistimos tudo sob a narração de Rue, com suas suposições e conclusões sobre tudo o que acontece na sua vida, de familiares e de amigos. Mas como dificilmente ela está sóbria, não há como ter certeza da veracidade de seus comentários e acontecimentos, se ela está alucinando ou não.

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Rue nasceu três dias após o 11 de setembro e, ainda criança, foi diagnosticada com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o que é mostrado como uma forma de justificar suas ações e relação com as drogas. O efeito das pílulas que ingere a faz esquecer das crueldades do mundo e a viver em um universo paralelo, onde nada disso existe.

O vício fez com que Rue gostasse de ficar sozinha, mas isso muda com a chegada de Jules (Hunter Schafer), uma garota trans. O protagonismo, então, se divide entre as duas jovens que acabam se apaixonando, mas de uma forma diferente. Vemos que a interação entre as duas transcende da atração física e sexual, sendo algo mais de identificação, respeito e carinho.

Em um determinado momento da série, descobrimos o motivo de Rue ter se viciado em drogas. Seu pai, com câncer terminal e recebendo tratamento em casa, tomava muitos remédios pesados para aguentar essa batalha, e eles eram facilmente acessíveis para a jovem.

Violência e pornografia

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Ao contrário de Rue, Jules tem uma vida sexualmente ativa, com encontros sexuais com vários homens, inclusive com Carl Jacobs (Eric Dane), um homem casado, importante e que possui grande parte da cidade em que vivem.

Após uma cena de sexo bastante violenta entre Carl e Jules, descobrimos que o empresário mantém uma coleção de CDs com gravações de suas relações sexuais, em sua maioria com homens homossexuais menores de idade. As gravações mostram um estilo de sexo violento e que segue um padrão.

Seu filho Nate tem acesso a esses CDs desde criança e passa a entender o sexo como aquilo que ele está vendo: com um homem dominante e com violência. Isso acaba explicando muito da personalidade do rapaz, que é uma pessoa extremamente confusa com seus sentimentos e sexualidade, tornando-se violento e abusivo.

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Em uma crítica chocante à violência doméstica, que também acontece com adolescentes, Nate tenta enforcar a sua namorada Maddy (Alexa Demie), deixando o pescoço da garota com uma marca. Mesmo após tentar esconder, a escola acaba descobrindo o hematoma e chamando a polícia. Em meio a depoimentos de alunos e a tentativa de Maddy de esconder o caso para não incriminar o namorado, ele acaba sendo denunciado formalmente como agressor.

Nate, então, acaba armando um esquema de chantagem com Tyler (Lukas Gage), um jovem maior de idade que já tinha transado com Maddy, e com Jules, por quem Nate tinha uma certa fixação. Toda essa situação é bastante perturbadora, visto que a vítima não consegue desprender o amor das agressões, fazendo de tudo para que o namorado não seja pego.

Cena final

Euphoria encerrou a primeira temporada com maestria. Ao desistir de fugir com Jules, Rue acaba deixando a namorada entrar sozinha em um trem e ir embora, e volta a pé para casa, sozinha. Depois de algumas lembranças do passado, como a morte de seu pai e o seu contato com as drogas após isso, além de cenas de uma homenagem de sua mãe a ela, Rue volta para casa, deita na cama e, então, começa a última cena.

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Rue levanta de uma forma como se a sua alma estivesse saindo do corpo, talvez uma representação de uma nova overdose, insconsciência ou possível morte, e passeia pela casa esbarrando em tudo o que está pela frente. Com a personagem visivelmente alterada, Zendaya interpreta a última cena mostrando, de uma vez por todas, o seu verdadeiro talento para a atuação. Como um musical sombrio, ela interpreta uma música cantada por ela mesma em meio a várias pessoas que, em um certo momento, também a carregam.

Independentemente de qual situação foi representada nesta cena final, não vamos ficar curiosos por muito tempo, pois a série já foi renovada para a segunda temporada.

A primeira temporada de Euphoria conta com oito episódios, todos disponíveis no HBO GO.