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Crítica | Assassinato em Middle Beach tem história contada pelo filho da vítima

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Divulgação: HBO
Divulgação: HBO

A dor de perder um ente querido só pode ser sentida por completo por quem, de fato, vivenciou essa perda, que deixa cicatrizes por uma vida inteira. Madison Hamburg, o foco desta crítica, perdeu sua mãe quando tinha apenas 18 anos, e vem lidando com o luto na criação da série documental Assassinato em Middle Beach, lançado no ano de aniversário da morte da pessoa mais importante de sua vida.

O documentário poderia, facilmente, fazer parte de um episódio de Mistérios sem Solução, série documental que estreou neste ano na Netflix contando casos de crimes que não foram solucionados. Até hoje, nem Madison, nem a família, e talvez nem a polícia, sabe quem matou Barbara Beach Hamburg, e os sete últimos anos da vida do jovem foram dedicados à produção do programa e em uma investigação autônoma e privada do que pode ter acontecido.

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Atenção: esta crítica contém spoilers da série documental Assassinato em Middle Beach!

A coragem de Madison é um fator que, por si só, já merece o mérito de todo o documentário. Em quatro episódios, ele tenta decifrar o que motivou a morte de Barbara, quem mandou matar ou quem a matou, e durante esse processo ele acaba descobrindo acontecimentos e detalhes da vida da mãe antes desconhecidas por ele e que poderiam ter sido cruciais para as investigações da época, mas que por algum motivo foram negligenciados pela polícia da cidade.

Há de se respeitar a ambição de tentar solucionar o assassinato da própria mãe, reabrindo feriadas para que, um dia, elas possam ser fechadas em paz. O mérito se torna ainda maior quando duas pessoas da família são suspeitas: o seu pai, Jeffrey Hamburg, e sua irmã, Ali Hamburg. O documentário conta com diversas entrevistas com esses familiares e pessoas relacionadas à vida de Barbara, com Madison mantendo a sua postura profissional como o comandante do documentário, mas também se permitindo sentir qualquer sentimento que seja em frente a essas informações.

Jeffrey, o principal suspeito, teve seus depoimentos gravados escondidos, dizendo que sabe de muita coisa, mas que não pode contar, o que o torna mais suspeito ainda. Porém, como nunca houve provas concretas, não há como ele ser indiciado, e o mesmo acontece com Ali. A relação de Madison com pai e irmã ganham um grande destaque na produção, mostrando o quanto o divórcio, os problemas de alcoolismo da mãe e as atividades ilícitas do pai que fizeram a família se separar. Ali vive na Argentina, e Jeffrey quase nunca tem contato com eles.

Os momentos mais impactantes da série documental é quando Madison, avisando previamente que precisa fazer isso, pergunta a seus familiares mais próximos, mesmo que não haja a suspeita, se eles têm algo a ver com o assassinato. Todos eles, com exceção de Jefrrey, se mostram compreensivos com a pergunta. O pai, em todas as suas aparições, está sempre na defensiva e nunca deixa de citar que sabe de coisas que não podem vir a público.

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É interessante o quanto nos sentimos próximos de Madison ao assistir o documentário e podemos sentir o baque sofrido por ele cada nova informação. Mas admiramos, principalmente, o fato de ele não se permitir ser levado pela emoção, ficando sem apontar dedos ou deixar de tratar todo mundo bem. Mas a grande conquista do jovem, hoje com 29 anos, é ter conseguido reunir novas informações ao longo dos últimos oito anos de investigação, que podem colaborar para que haja novas pistas do culpado e fazer com que o caso não seja fechado sem solução.

Madison, em momento algum, demonstra medo por estar fazendo uma investigação sem o envolvimento da polícia. O diretor e principal condutor do documentário está, por assim dizer, pisando em um território desconhecido e cheio de surpresas sobre a vida da mãe, e mesmo descobrindo de situações ilegais envolvendo ela e o pai, de forma independente uma da outra, não recua e está disposto a fazer o possível, mas dentro da legalidade, para investigar o crime, sem pensar em qualquer ameaça que possa surgir com o documentário indo ao ar.

Conforme vamos conhecendo melhor as pessoas que fazem parte da família Hamburg, suas relações, o esquema de pirâmide em que Barbara era envolvida, a suposta perigosa lavagem de dinheiro do pai, entre outras situações, nos envolvemos no caso e tentamos tirar as nossas conclusões, mesmo que seja praticamente impossível chegar a uma resposta sem que existam provas concretas.

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Em Assassinato em Middle Beach, vemos uma forma diferente de contar uma história de crime que, por si só, já traz uma mistura de sentimentos por nos aproximar com a vítima. Com tudo sendo conduzido pelo filho da pessoa brutalmente assassinada, a sensação de empatia toma conta do espectador, que em meio à fatos, informações estranhas e detalhes do crime, não deixa de admirar Madison pela coragem e pela perseverança em transformar a memória da mãe em uma produção que será assistida por milhares de pessoas, que conhecerão o legado de uma mulher que, apesar dos problemas pessoais e dos vícios, sempre colocou os filhos em primeiro lugar.

Ao final do último episódio, a série documental traz informações mais recentes sobre a sua investigação, que agora será trabalhada junto à polícia para que, finalmente, o caso receba novamente a atenção desejada até que possa ser solucionado. Todos esperamos que, um dia, a resposta de quem assassinou Barbara Hamburg surja, mas mesmo se não acontecer, ao menos tão cedo, tivemos o prazer de conferir uma série documental de crime real produzida com atenção, cuidado e repleta de sentimentos.

Assassinato em Middle Beach está disponível em quatro episódios no HBO GO.