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A incrível história da GameStop que virou série da Netflix

Por| Editado por Jones Oliveira | 27 de Setembro de 2022 às 19h30

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CNBC
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Alguns chamam de oportunismo e especulação, outros de um movimento dos pequenos investidores na Bolsa de Valores contra as grandes empresas do setor e um dedo do meio ao mercado de ações como um todo. Seja de que lado da abordagem você esteja, a verdade é que a história recente da GameStop entrou para a história, e não por causa de sua trajetória como uma das maiores varejistas de jogos eletrônicos do mundo.

A história real, de janeiro de 2021, é o tema de GameStop Contra Wall Street, nova série documental da Netflix que estreia em 28 de setembro. Em três episódios liberados de uma só vez no serviço de streaming, vamos conhecer como um grupo na rede social Reddit conseguiu inverter a lógica da Bolsa de Valores, a ponto de deixar especialistas desesperados, bater recordes de movimentação e até chamar a atenção da Casa Branca.

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Entre palavras fortes, como “destruição da economia” e “roubar dos ricos para dar aos pobres”, junto com trollagens e muita cultura de internet, está uma trama de enriquecimento e movimentação de milhões de dólares em ações. A diferença é que, naquela ocasião, todo esse dinheiro não estava indo para os bolsos dos engravatados de sempre.

Ganhando dinheiro na baixa

A ideia mais básica e comum do mercado de ações é da compra de papéis de uma empresa por um valor e sua venda, gerando lucro, por um preço mais alto, após valorização. Acompanhar o noticiário em busca de possíveis movimentos ou um cenário econômico favorável ou não é visto como caminho padrão para entender as movimentações da Bolsa, que muitos também entendem como aposta em um setor muito suscetível a emoções e comportamento de manada.

Esta não é a única forma de fazer dinheiro no mercado, porém. Outra possibilidade é o chamado “operar vendido”, ou short stock em inglês: nome esquisito que indica a aposta na queda de uma ação. É uma operação de risco alto, ou não, no caso de uma grande varejista de games que já vinha sofrendo diante da distribuição digital de jogos e via, com a pandemia e as lojas físicas fechadas, a falência no horizonte.

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Funciona como um aluguel, conforme explica a XP Investimentos no vídeo acima. Os investidores, neste caso uma empresa chamada Melvin Capital, apostou na queda da GameStop e fez opções vendidas nas ações, as vendendo em nome de seus donos e pagando uma taxa a eles, ficando com a diferença. É uma movimentação perfeitamente legal, ainda que mal vista pelos day traders, os investidores individuais que operam na Bolsa de casa, a partir de seus próprios computadores.

Eles se reuniram em um fórum no Reddit chamado Wall Street Bets, onde analisavam o mercado e indicavam as ações mais lucrativas para compra ou em queda, para que fossem vendidas. Quando a aposta da Melvin Capital na queda da GameStop veio à público, os membros decidiram trollar o mercado, adquirindo ações da varejista de forma massiva e iniciando uma cadeia de eventos que se traduziu em perdas para os poderosos e ganhos para gente comum.

Muito dinheiro mudando de mãos

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Quando a movimentação começou, no dia 27 de janeiro de 2021, as ações da GameStop eram negociadas abaixo da marca dos US$ 20 (cerca de R$ 105 nos valores de hoje). Ao fechamento do pregão, elas estavam valendo US$ 454, ou aproximadamente R$ 2.380 em uma conversão direta, e continuaram subindo após o fechamento do mercado, em transações que seriam computadas no dia seguinte.

Enquanto isso, no Wall Street Bets, os usuários que participaram da primeira onda comemoravam o investimento lucrativo, que serviria para a compra de uma casa própria ou o pagamento de débitos estudantis. Tudo, acima de tudo, perfeitamente legal, já que, apesar de ser uma ação combinada, a compra de ações pode ser feita por qualquer pessoa a todo momento. Novamente, o que se via era a boa e velha especulação financeira, mas feita por gente diferente do usual.

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O incêndio tomou proporções ainda maiores quando Elon Musk, empreendedor e dono de empresas como Tesla e SpaceX, tweetou sobre o assunto. Usando um meme conhecido e uma única palavra, ele demonstrou o caminho do problema para analistas que se acotovelavam nas redes de televisão tentando entender o que acontecia e trouxe mais gente para uma onda que parecia não parar de crescer.

Diante da proporção dos ganhos, o Wall Street Bets rapidamente começou a buscar outras ações operando vendidas, que poderiam gerar lucros semelhantes. No mesmo 27 de janeiro, a rede de cinemas americana AMC viu suas cotas na Bolsa de Valores mais do que triplicarem em valor, enquanto a antiga rede de locadoras Blockbuster teve seus papéis valorizando mais de 700% enquanto se encontrava em pleno processo de liquidação.

Enquanto isso, as investidoras que faziam as apostas em short stocks destas companhias viam o valor de mercado despencando. A estimativa é que, na semana do chamado “Gamestonk”, apenas a Melvin Capital tenha perdido mais de 30% de seu valor de mercado, assim como outras empresas do setor. Foi aí que os olhos dos engravatados se arregalaram.

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Economia em jogo (ou não)

Ninguém se importa quando um cidadão perde dinheiro após fazer um negócio. Mas quando estamos falando de gente poderosa, com contatos e gravatas caras, a coisa muda de figura, e foi exatamente o que aconteceu nas horas e dias que seguiram ao movimento desencadeado pelo Wall Street Bets.

Afinal de contas, o que se viu no dia anterior foi o recorde em volume de transações nas Bolsas de Valores dos Estados Unidos, uma marca que se mantém até hoje, e a terceira maior movimentação de dólares da história do pregão. Por outro lado, foi dia de fechamento em baixa de 2% e muito temor quanto à volatilidade do mercado, caso a movimentação acelerada continuasse nos dias seguintes.

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Já no dia seguinte, 28 de janeiro, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos pediu um congelamento na compra e venda de ações da GameStop durante 10 dias, como forma de interromper o movimento de subida e descida das Bolsas e suas investidoras. Enquanto isso, apps de day trade bloquearam por conta própria a negociação de papéis da varejista, enfurecendo os investidores individuais e deixando claro a quem, no fim das contas, o mercado protege.

Enquanto isso, em um pronunciamento, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o próprio Joe Biden estava monitorando a situação junto a seus especialistas em economia. A declaração, entretanto, veio em tom de calma, já que a ideia era que a Bolsa de Valores não era o único indicador da saúde financeira do país e acompanhou a ideia de que o frenesi não demoraria a passar.

E foi exatamente assim. Uma semana depois, as ações da GameStop já eram negociadas a US$ 82, cerca de R$ 431, e seguiam em queda até o retorno à normalidade. Movimentos combinados pela internet levariam a novas altas repentinas nas ações da varejista entre janeiro e março de 2021, mas com uma movimentação nem de longe próxima da vista anteriormente. O mercado, afinal de contas, estava vacinado.

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Os reflexos de janeiro de 2021 podem ser sentidos até hoje. Em junho de 2022, um comitê de serviços financeiros da Câmara dos EUA enviou à Comissão de Valores Mobiliários um documento de 140 páginas pedindo regras mais rígidas quando à compra e venda de ações de empresas liquidadas ou operadas em vendido. Enquanto isso, no Senado, democratas se posicionam a favor de uma taxação sobre operações na Bolsa como forma de impedir a especulação e o movimento de manada.

Trata-se de uma história ainda em andamento que, como dito, será contada em três capítulos. GameStop Contra Wall Street estreia nesta quarta, 28 de setembro, exclusivamente na Netflix. A produção original é dirigida por Theo Love (A Lenda da Ilha do Pó) e produzida por Liz Garbus (What Happened, Miss Simone?) e Dan Cogan (O Convite).