Quem criou a deep web?
Por Roseli Andrion • Editado por Claudio Yuge |
Antes mesmo de a internet existir, já havia redes secretas para a circulação de informações sigilosas. Chamadas de darknets, elas surgiram ainda no tempo da Arpanet e seus endereços não apareciam nos índices oficiais de laboratórios, bases militares e universidades. Embora recebessem dados da Arpanet, elas não estavam abertas nem enviavam informações para fora.
Na década de 1980, o compartilhamento de conteúdos privados ou até ilegais passou a usar servidores de países com leis mais flexíveis — localidades do Caribe costumavam hospedar esse material, que podia envolver apostas, pornografia e outros. Atualmente, essa estratégia é usada por sites de pirataria.
Quando a internet começou a se popularizar, nos anos 1990, o surgimento de uma rede centralizada levou à criação de novas estratégias para proteger determinadas informações. Para evitar toda essa exposição surgiu a deep web — em tradução livre: internet profunda. Ela é diferente das páginas ocultadas intencionalmente por, por exemplo, governos totalitários, que desindexam links com informações públicas.
A deep web é considerada uma internet invisível, já que seu conteúdo não é de fácil acesso e seus criadores optam por manter o anonimato. Basicamente, é uma zona da internet que não pode ser detectada facilmente por motores de busca tradicionais — o que garante essa privacidade. Ela é formada por sites, fóruns e comunidades, e engloba a dark web, que costuma ter conteúdos ilegais.
A parte visível já indexada da internet é conhecida como web de superfície e o que está fora do alcance dos varredores de links é a deep web. A criação desse ambiente veio da necessidade de ter um sistema de comunicações secreto na internet.
Quem o desenvolveu foi o Laboratório de Pesquisas da Marinha dos EUA: que criou o The Onion Routing — "onion" significa "cebola" e o nome é uma alusão às camadas que devem ser atravessadas para chegar ao conteúdo em um site da deep web. A ideia inicial foi dos cientistas Paul Syverson, Michael G. Reed e David Goldschlag para mascarar a identidade online de agentes em missões de campo ou infiltrados.
Em 2002, foi lançada uma alternativa do projeto para fins não-governamentais. Ela recebeu o nome de Tor (a sigla de The Onion Routing) e sua primeira versão estável foi liberada para uso no ano seguinte. Hoje, a organização The Tor Project licencia gratuitamente o código da plataforma e mantém tudo funcionando.
Tor é o navegador da deep web
O Tor, então, se tornou o navegador usado nos confins da internet — muitas vezes, para praticar crimes. Os domínios das páginas navegadas no Tor não são construídos em formato HTML, justamente para dificultar o acesso, e terminam em ponto onion (.onion).
Na deep web, cada roteador pelo qual a conexão passa criptografa uma camada. Isso quer dizer que, para chegar à mensagem original, é preciso solucionar todas as outras codificações — as camadas. A The Hidden Wiki (a wiki escondida) é o índice mais famoso com links para navegação na deep web.
O Federal Bureau of Investigation (FBI) tenta vigiar a deep web em parceria com outras instituições com o objetivo de capturar criminosos ou solucionar crimes expostos nos fóruns dessa versão invisível da internet.
Por não ser indexado, o espaço é mais seguro e permite liberdade de expressão. A própria Wikileaks já recebeu muito material via deep web, já que quem envia esses documentos tem medo de ser rastreado. Na China, muitos escapam do firewall do país a partir do Tor.
De acordo com a legislação brasileira, o acesso à deep web não é ilegal. Ilegal pode ser, em alguns casos, o tipo de atividade ou interação desenvolvido por lá. O palpite dos estudiosos é de que a deep web seja 500 vezes maior do que a web de superfície.