Operação da PF derruba pirâmide internacional que gerou R$ 4,1 bi de prejuízos
Por Claudio Yuge | •

Os crimes de pirâmide financeira voltaram contudo. Embora sejam conhecidos há quase um século no Brasil, os bandidos têm usado novas modalidades de investimentos, ampla divulgação em redes sociais e criptomoedas para maquiar e esconder os atos ilícitos. Mas, nesta quarta-feira (19), os criminosos levaram um duro golpe.
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A Polícia Federal (PF), em atuação conjunta com a Receita Federal e a Agência Nacional de Mineração (ANP), deflagrou a Operação “La Casa de Papel” para desarticular organização criminosa responsável por implementar um esquema de pirâmide financeira transnacional em mais de 80 países. A investigação apurou a a existência de um modelo ilegal de negócios que captou recursos de mais de 1,3 milhão de pessoas, em mais de 80 países. O prejuízo aos investidores é estimado em R$ 4,1 bilhões, em atividades que tiveram início de 2019 e se mantinham até hoje.
Os investigados irão responder, na medida de suas responsabilidades, pela prática dos crimes de organização, crimes contra o sistema financeiro por operar sem autorização, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, usurpação de bem mineral da União Federal, execução de pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, falsidade ideológica e estelionato por meio de fraude eletrônica. As penas máximas somadas podem chegar a 41 anos de prisão.
Segundo comunicado da própria PF, foram cumpridos seis mandados de prisão preventiva contra os líderes da organização criminosa e 41 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 3ª Vara da Justiça Federal de Campo Grande/MS, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão e Santa Catarina. Os agentes também cumpriram mandados de bloqueio no valor de US$ 20 milhões (R$ 105,4 milhões na conversão direta) e sequestros de dinheiro em contas bancárias, imóveis de altíssimo padrão, gado, veículos, ouro, joias, artigos de luxo, mina de esmeraldas, lanchas e criptoativos em posse das pessoas físicas e jurídicas investigadas.
Como funcionava o esquema de pirâmide da organização?
Assim como toda pirâmide, os “team leaders” de várias regiões em diversos países recrutavam novos investidores, a partir do uso massivo de de redes sociais, marketing e reuniões. Todos promoviam pacotes de investimentos/aportes financeiros desde US$ 15 (R$ 79) a US$ 100, com promessa de ganhos diários em percentuais altíssimos.
Para tornar a “maquiagem” do negócio ainda mais elaborada e parecer autêntica, a pirâmide começou a diversificar seus investimentos, incluindo lucros advindos de minas de diamantes e esmeraldas que a empresa teria no Brasil e no exterior; em mercado de vinhos, de viagens, em usina de energia solar e usina de reciclagem, entre outros. O grupo até mesmo criou duas criptomoedas em 2021, sem qualquer lastro financeiro, que, além de serem infladas artificialmente, eram usadas para pagar investidores.
E a organização foi muito além: tudo era rodeado de uma imagem de luxúria e ostentação em lugares paradisíacos, e ainda tinha a “bênção” de uma entidade religiosa, que ajudou o grupo a manter as aparências. Até um ataque cibercriminoso a gangue internacional chegou a usar, como uma desculpa para não pagar os investidores, já que os cofres teriam esvaziado por (outros) ladrões).
A polícia conseguiu chegar aos criminosos a partir de agosto de 2021, em Dourados (MS), após a autuação de duas pessoas que viajavam para o Paraguai com escolta armadas. Ao serem abordados, foram encontradas esmeraldas avaliadas em US$ 100 mil (R$ 527,2 mil), que estavam com uma nota fiscal cancelada. A partir daí, as investigações se aprofundaram, e, somados aos vários indícios, como reclamações de usuários e dados públicos sobre os participantes e suas empresas ilegais, os esquemas foram aos poucos revelados.