EUA quer banir venda do antivírus Kaspersky no país
Por André Lourenti Magalhães • Editado por Douglas Ciriaco |
O governo dos Estados Unidos revelou a intenção de barrar a venda dos softwares da Kaspersky no país, sob acusação de envolvimento da empresa com o governo da Rússia. Em conversa com a imprensa local, a Secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, disse que a influência do Kremlin sobre a empresa mostraria “um risco significativo”.
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Uma fonte ouvida pela agência Reuters diz que o antivírus poderia roubar informações sensíveis de computadores da população estadunidense, visto que o app tem acesso privilegiado ao sistema de cada dispositivo — isso seria encarado como um risco à segurança nacional e foi um dos motivos que impulsionou o veto ao app.
A punição vai banir downloads, atualizações, vendas e licenças comerciais do antivírus no país a partir do dia 29 de setembro (ou seja, daqui a 100 dias) para que todas as pessoas e empresas tenham tempo de buscar alternativas. Ainda não há confirmação de quais produtos foram afetados, mas é provável que inclua o antivírus, o serviço de VPN e o gerenciador de senhas da empresa.
A Secretária de Comércio também revelou que algumas partes da empresa serão adicionadas a uma lista de restrições de negócios, segundo a Reuters, o que também pode afetar os lucros da Kaspersky em outros países.
Confusão de longa data
Os problemas da Kaspersky com o governo dos EUA existem há muito tempo: em 2017, a companhia foi acusada de vazar dados da Agência Nacional de Segurança (NSA) do país ao governo russo. A empresa confirmou que teve acesso às informações, mas negou que tenha roubado o conteúdo.
Outra polêmica surgiu cinco anos depois, em 2022, quando a Comissão Federal de Comunicações (FCC) dos EUA acusou a Kaspersky de espionagem e adicionou a empresa a uma lista de entidades que apresentam riscos à segurança nacional da Terra do Tio Sam. Novamente, a empresa negou as acusações.
Além disso, a companhia de cibersegurana também foi acusada de espionagem pelo Escritório Federal de Segurança da Informação (BSI) da Alemanha, que recomendou que as pessoas desinstalassem o antivírus de seus respectivos computadores por conta das ligações com a Rússia.
O que diz a Kaspersky
A Kaspersky enviou um comunicado ao Canaltech em que vai buscar as medidas legais cabíveis para "preservar suas operações e relações atuais" e que permanece "comprometida em proteger o mundo das ciberameaças". Confira a nota na íntegra:
A Kaspersky está ciente da decisão do Departamento de Comércio dos Estados Unidos de proibir o uso do software Kaspersky no país. A decisão não afeta a capacidade da empresa de vender e promover produtos de inteligência contra ciberameaças e/ou treinamentos nos EUA.
Apesar de propor um sistema no qual a segurança dos produtos da empresa pode ser verificada de forma independente por empresas terceiras de confiança, a Kaspersky acredita que o Departamento de Comércio tomou sua decisão com base no atual cenário geopolítico e preocupações teóricas, em vez de uma avaliação técnica sobre a integridade dos produtos e serviços da Kaspersky. A Kaspersky não se envolve em atividades que ameacem a segurança nacional dos Estados Unidos e, na verdade, fez contribuições significativas com relatórios e proteção contra uma variedade de ameaças que visavam os interesses dos EUA e seus aliados. A empresa pretende buscar todas as opções legais disponíveis para preservar suas operações e relações atuais.
Por mais de 26 anos, a Kaspersky tem cumprido sua missão de construir um futuro mais seguro, protegendo mais de um bilhão de dispositivos. A Kaspersky fornece produtos e serviços líderes de mercado para clientes ao redor do mundo para protegê-los de todos os tipos de ciberameaças, demonstrando repetidamente sua independência frente a qualquer governo. Além disso, a Kaspersky implementou medidas de transparência inéditas entre seus pares da indústria de cibersegurança, com o objetivo de demonstrar seu forte comprometimento com a integridade e confiabilidade. A decisão do Departamento de Comércio ignora injustamente as evidências.
O principal impacto dessa medida é uma vantagem para o cibercrime. A cooperação internacional entre especialistas de cibersegurança é crucial na luta contra o malware e a decisão restringirá esses esforços. Além disso, tira a liberdade que, consumidores e organizações, grandes e pequenas, deveriam ter de usar a proteção que desejam. Neste caso, forçando-os a se afastar da melhor tecnologia antimalware do setor, de acordo com testes independentes. Isso causará uma interrupção dramática para os clientes da empresa, que serão forçados a substituir urgentemente a tecnologia que preferem e na qual confiaram para sua proteção por anos.
A Kaspersky continua comprometida em proteger o mundo das ciberameaças. O negócio da empresa permanece resiliente e forte, marcado por um crescimento de 11% nas vendas em 2023. Estamos ansiosos pelo que o futuro reserva e continuaremos a nos defender contra ações que buscam prejudicar injustamente nossa reputação e interesses comerciais.
Fonte: Reuters