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Governo brasileiro monitora usuários para evitar protestos durante a Copa

Por| 10 de Fevereiro de 2014 às 12h47

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No último ano, o Brasil foi destaque em vários veículos de comunicação (nacionais e internacionais) devido às manifestações que ocorreram em várias cidades – as maiores dos últimos 25 anos. Mas o governo brasileiro quer evitar que esses eventos aconteçam novamente, pelo menos aqueles que terminam em violência. Segundo informações da Reuters, forças de segurança nacionais possuem agentes que monitoram os e-mails e redes sociais dos usuários para garantir que protestos violentos não prejudiquem a Copa do Mundo.

Apesar das manifestações das últimas semanas serem menores que as de junho do ano passado, época em que o Brasil sediou a Copa das Confederações, alguns protestos ainda acabam com atos de vandalismo contra bancos, lojas e outros estabelecimentos, além dos confrontos entre a polícia e um grupo de manifestantes mais exaltados. A preocupação do governo da presidente Dilma Rousseff é que tais protestos – os mais recentes não apoiam o mundial de futebol sob o slogan "Não vai ter Copa" – possam interferir na competição, que começa em 12 de junho, em São Paulo, e termina com a partida final em 13 de julho, no Rio de Janeiro.

Além disso, o governo acredita que as manifestações mais violentas, nas quais lojas são atacadas e manifestantes e policiais saem feridos, poderiam manchar a imagem do evento esportivo, que deve receber aproximadamente 600 mil visitantes de outros países e tem o objetivo de mostrar a ascensão do Brasil como potência mundial. As autoridades brasileiras estão ainda mais alertas porque estão sendo organizadas manifestações em todas as 12 cidades que vão sediar jogos da Copa.

Para tentar conter protestos e evitar o quebra-quebra, a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), uma divisão do Ministério da Justiça encarregada da segurança na Copa do Mundo, encaminhou perguntas sobre iniciativas de vigilância para o Ministério da Defesa. Essa divisão tem vigiado as atividades online de pessoas que integram o Black Bloc, uma estratégia de manifestação que se autodenomina anarquista e prega a desobediência civil na internet. Em alguns casos, os grupos não têm líderes e são desprovidos de qualquer organização, unindo-se somente pelas táticas e a maneira de se vestir – em geral, inteiramente de preto e alguma máscara ou capuz. Em outros há alguma coordenação.

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De acordo com dois funcionários do órgão, os integrantes do movimento são vigiados pelo Facebook e outras redes sociais, e agentes secretos da inteligência se infiltraram no grupo para repassar informações à polícia antes e durante as recentes manifestações. Um outro funcionário disse que o governo também tem usado tecnologia avançada para localizar os computadores de manifestantes violentos e ter acesso às suas comunicações, com o objetivo de identificar líderes e monitorar suas atividades.

A justificativa para monitorar os Black Blocs seria que, ao contrário das manifestações em grande parte pacíficas do ano passado, os integrantes do grupo representam um problema criminal e devem ser tratados como tal. Não foram especificadas quais agências ou forças policiais fazem a vigilância em cima dos Black Blocs, nem como os dados coletados estão sendo utilizados. Contudo, os funcionários garantem que a população brasileira em geral não está sendo monitorada.

A medida do governo nacional traz lembranças da Ditadura Militar que aconteceu entre os anos de 1964 e 1985, quando as autoridades espionavam intensamente esquerdistas suspeitos – incluindo a própria Dilma Rousseff que, na época, integrava um grupo guerrilheiro marxista. Fernando Grella Vieira, secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, não detalhou como funcionam os procedimentos da área de inteligência, mas disse que as forças de segurança "respeitam completamente o direito das pessoas protestarem em paz".

"Nós estamos agindo para garantir a segurança das pessoas contra aqueles que buscam a violência", afirmou Grella. No último dia 25 de janeiro, aniversário da capital paulista, aconteceu um protesto pacífico com cerca de 1.500 pessoas, mas algumas dezenas de manifestantes se separaram e bloquearam grandes avenidas, provocaram incêndios e tentaram virar um carro de polícia. Algumas pessoas chegaram a invadir o saguão de um hotel e se misturaram com os hóspedes para evitar a identificação dos policiais.

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Novos protestos

A Reuters destaca que o maior medo do governo brasileiro é que o tamanho e a violência de alguns protestos explodam novamente quando a Copa do Mundo começar. Muitos acreditam que, se o Brasil for um dos primeiros times a serem eliminados do mundial, os brasileiros ficarão menos ligados nos jogos e mais propensos a sair às ruas.

Grella disse que a polícia estuda como outros países lidaram com o Black Bloc. Segundo o secretário, as autoridades de São Paulo vão acompanhar nas próximas semanas a estreia de uma nova "Brigada de Captura" da polícia uniformizada, sem armas de fogo, que será encarregada de deter manifestantes violentos. A tática também quer evitar que os policiais usem força bruta contra os manifestantes para reduzir os riscos de protestos ainda maiores, como aconteceu em junho do ano passado. Na época, durante as primeiras manifestações pequenas, militantes comuns e até a imprensa foram agredidos, o que multiplicou o número de participantes nos protestos seguintes.

Uma integrante anônima do Black Bloc afirmou que muitos membros acreditam que o vandalismo é o único meio de atrair a atenção da mídia para os seus pontos de vista. "É um grupo extremamente diverso, mas a única coisa que nos une é a crença em que não podemos aceitar silenciosamente o que os políticos estão fazendo conosco", disse.

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Rafael Alcadipani, professor da escola de negócios da Fundação Getúlio Vargas, estuda a ideologia do grupo e entrevistou alguns de seus membros. Para ele, os Black Blocs "acreditam que o sistema político brasileiro está quebrado e não os representa". O professor ainda afirma que "nada mudou desde junho" do ano passado e que, "enquanto o governo não enfrentar as principais questões, as pessoas vão continuar protestando".