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Testes de anticorpos no sangue revelam detalhes sobre imunidade à COVID-19

Por| 31 de Março de 2020 às 11h33

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European Pharmaceutical Review
European Pharmaceutical Review

Um dos maiores problemas encontrados atualmente na contagem de casos confirmados do novo coronavírus (SARS-CoV-2) é que muita gente pode estar com o patógeno ou até mesmo pode tê-lo superado com seu próprio sistema imunológico, sem que os atuais testes disponíveis consigam identificar essas pessoas — seja por indisponibilidade, pela ausência de sintomas e até pelas limitações desse exame. Para encontrar uma solução e uma contagem mais realista, é preciso realizar análises aprofundadas, que envolvem os anticorpos no sangue.

Isso é o que propõe uma nova abordagem de exames, que já vem sendo aprimorada por laboratórios e cientistas em todo o mundo. Para compreender melhor como isso funciona, é necessário entender como acontecem os diagnósticos atuais, baseados no RNA do vírus. Com esses testes, os médicos procuram a presença de genes virais em uma amostra coletada no nariz ou na garganta, em busca de um sinal da infecção ativa.

A maior diferença na avaliação de anticorpos no sangue é que ela pode realizar a mesma função e também identificar se a pessoa foi infectada pelo coronavírus no passado, pois o corpo retém anticorpos contra as ameaças que já venceu. Algumas empresas conseguiram criar esses testes, inclusive com aprovação comercial e observação em grandes grupos em Wuhan, na China — alguns até indicariam a imunidade em pacientes da COVID-19.

Como funciona?

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Bem, é preciso cumprir certos protocolos de exames e passar pelas fases burocráticas para que esses testes de anticorpos no sangue saiam dos laboratórios e regiões controladas para chegar ao mundo todo. E isso vem acontecendo neste momento. Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai Health System, de Nova Iorque, publicou recentemente ao lado de sua equipe uma documentação preliminar sobre um teste de anticorpos para o novo coronavírus, incluindo instruções de como replicá-lo.

Primeiramente, os pesquisadores produziram uma versão ligeiramente diferente da proteína em forma de espinho (ou "spike") do novo coronavírus, que é a que o ajuda a penetrar nas células. Essa estrutura é essencial para que o corpo identifique a ameaça e crie anticorpos para reagir antes da infecção. Eles também isolaram um outro pedaço dessa mesma proteína, chamada de RBD, que serve como “ponte” para ligar o vírus à célula. A partir daí, o próximo passo foi introduzir grandes quantidades de células nesses recortes, para examinar como seria a reação.

As moléculas produzidas em laboratório forneceram a base para um teste de detecção de anticorpos específicos (também conhecido por ELISA, Enzyme-Linked Immunoabsorbent Assay), no qual é possível reconhecer as proteínas do novo coronavírus por meio de uma mudança de cor. As avaliações iniciais de quatro amostras de sangue de três pacientes confirmados com COVID-19 e de 59 amostras de soro depositadas antes do início do surto indicaram que esse processo deu certo.

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Foram utilizadas amostras de sangue de pessoas entre 20 e 70 anos, muitas das quais haviam sido infectadas anteriormente por outros vírus, entre eles um diferente coronavírus, chamado de NL63, responsável pelos nossos tradicionais resfriados. Os pesquisadores esperavam que isso pudesse causar confusão no rastreamento do novo coronavírus e gerar falsos positivos. Mas os anticorpos contra o NL63 não reagiram às proteínas responsáveis pela COVID-19 — o que é uma ótima notícia.

Teste passou a ser usado no hospital de Nova Iorque

O novo coronavírus pode desencadear uma perigosa e exagerada reação de anticorpos caso o infectado também apresente outras doenças virais, como a dengue. Esse fenômeno é conhecido como Aprimoramento Dependente de Anticorpos (ou ADE, na sigla em inglês) — e o fato dos anticorpos do coronavírus NL63 não reagirem às proteínas do SARS-CoV-2 é bom, justamente porque o resfriado comum, então, não é algo que possa ameaçar tanto a saúde de um paciente que contrair a COVID-19 ao mesmo tempo.

Alguns pesquisadores sugeriram que o ADE poderia explicar por que o vírus é mais mortal em idosos e menos em crianças, que tiveram menos exposição a outros coronavírus. Krammer afirma que já vem usando esse teste de anticorpos no Mount Sinai Health System, justamente para entender com que rapidez os infectados com a COVID-19 começam a criar defesa contra o patógeno.

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Em breve, isso pode ajudar a identificar pacientes recuperados, que poderiam doar seu soro rico em anticorpos contra o novo coronavírus para ajudar os doentes com COVID-19 em estado grave. Outra aplicação importante, diz Krammer, seria identificar pessoas que desenvolveram provável imunidade ao vírus, o que contribuiria para desenvolver tratamentos mais seguros e até mesmo criar outras linhas de trabalho para conter a pandemia.

De acordo com essas pesquisas, testes generalizados de anticorpos no sangue também podem fornecer dados importantes, pois eles poderiam indicar quanto da população já está imune às infecções leves do novo coronavírus. Essas informações podem, por exemplo, determinar as razões pelas quais o contágio em crianças é mais brando e quanto tempo duraria a imunidade ao patógeno — o que é fundamental para a viabilização de uma vacina.

O que acontece agora?

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A equipe de Krammer espera testar o maior número possível de amostras de sangue, mas como Nova Iorque ainda sofre com um forte impacto da pandemia, seu laboratório não pode se dar ao luxo de realizar os experimentos enquanto a COVID-19 se espalha pela cidade. Muitos membros de sua equipe também evitam deslocamentos.

Na Alemanha, assim como na China, pesquisadores também vêm realizando testes de anticorpos em pequenos grupos. Esses são os primeiros passos dos protocolos exigidos pelas autoridades, antes que os exames sejam amplamente realizados. O procedimento é relativamente simples e a expectativa dos cientistas é de que os vários laboratórios possam escalar sua realização em milhares de pessoas por dia, o que geraria dados mais rapidamente — e isso seria essencial para encontrar uma resposta precisa e mais rápida ao novo coronavírus.

Fonte: Science Mag