Ozempic manipulado: versão alternativa do remédio é eficaz?
Por Fidel Forato | •

Com benefícios para pacientes com diabetes tipo 2 e que buscam reduzir o peso, os remédios que têm a semaglutida como princípio ativo são cada vez mais prescritos por médicos, como o Ozempic e o Wegovy. No entanto, o alto custo é uma barreira que desperta o interesse por soluções alternativas, como o "Ozempic manipulado". Hoje, especialistas questionam a eficácia e a segurança dessas versões, que são contraindicadas. Em paralelo, a farmacêutica responsável, a Novo Nordisk, informa que o princípio ativo (semaglutida) não está à venda no mercado para o uso em manipulações.
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Nas farmácias, o tratamento com a caneta de Ozempic por um mês custa cerca de mil reais. Então, as versões alternativas aparentemente seriam capaz de baratear a produção e reduziriam o preço para o paciente. A questão é que todo o processo não é tão simples quanto parece e muito menos seguro no momento, já que não há semaglutida disponível. Nos EUA, já foram relatadas graves complicações com o manipulado (que é diferente do orginal).
Produção de remédios manipulados
Antes de seguir, vale explicar que as farmácias de manipulação servem para produzir remédios que não existem na formulação pronta e adequada para um paciente específico. Seguindo este princípio que permite a personalização do tratamento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autoriza o uso de manipulados de remédios com ativos patenteados.
Entretanto, a produção de um remédio manipulado somente pode ser feito com um princípio ativo comprado de um fornecedor já autorizado pela Anvisa (após avaliação interna de dados), seguindo as orientações da dose incluídas na receita médica.
No caso do Ozempic e do Wegovy, a versão manipulada somente existiria se fosse possível comprar a semaglutida, aturizada pela Anvisa. O ponto é que a farmacêutica responsável (e detentora da patente até 2026, quando ocorrer a queda da patente) não comercializa nenhuma versão para terceiros. Então, o que é anunciado como Ozempic manipulado é, na verdade, um falsificado.
Além desta questão, "as versões manipuladas [de remédios no geral] podem apresentar variações na dosagem e na pureza da substância, o que compromete a segurança e a eficácia do tratamento", explica a médica nutróloga Ana Luisa Vilela, em nota enviada ao Canaltech. Isso pode implicar em ineficácia do tratamento e o risco de efeitos colaterais, por exemplo.
Acompanhamento médico no uso do Ozempic
Para além de todas essas questões envolvendo o Ozempic manipulado, a médica lembra que a automedicação traz riscos. “Cada paciente tem necessidades específicas, por isso, é crucial fazer uma avaliação completa para determinar a dosagem adequada, identificar contraindicações e acompanhar os resultados ao longo do tratamento de emagrecimento", completa.
Posicionamento da Novo Nordisk
Em nota enviada ao Canaltech, a farmacêutica se manisfesta sobre o fato de que não há versão manipulada no país:
A Novo Nordisk, empresa líder global em saúde, informa que o princípio ativo semaglutida não foi desenvolvido, em nenhum lugar do mundo, para uso em formato injetável em frascos, em cápsulas orais, pellets absorvíveis, fitas, chip ou implantes de hormônios, conforme tem sido divulgado e associado erroneamente aos seus medicamentos. A empresa desconhece a origem das matérias-primas e a forma de fabricação desses produtos e reforça que é a única detentora da patente do princípio ativo semaglutida, de forma exclusiva, até pelo menos o ano de 2026. Assim, não fornece ou autoriza a distribuição desse princípio ativo a nenhuma farmácia de manipulação ou outro fabricante. A importação, manipulação, fabricação e comercialização dos medicamentos fora das apresentações originais registradas pela companhia no Brasil são consideradas irregulares, conforme a Agência Nacional de Segurança Sanitária (Anvisa), podendo representar sérios riscos à saúde, sem garantias de eficácia, segurança ou qualidade exigidas para produtos sob vigilância sanitária.
A Novo Nordisk também explica que todos os remédios que têm como princípio ativo a semaglutida foram desenvolvidos e testados para uso seguro em patologias específicas, sem alterações que poderiam ocorrer em uma manipulação. Assim, o uso seguro e eficaz é somente na formatação a seguir:
- Ozempic (semaglutida injetável 0,25 mg, 0,5mg e 1mg), em sistema de aplicação preenchido, multidose e descartável: indicado para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2, insuficientemente controlada;
- Rybelsus (semaglutida oral em comprimidos de 3 mg, 7 mg e 14 mg): indicado para o tratamento de adultos com diabetes mellitus tipo 2 inadequadamente controlado e para melhora do controle glicêmico
- Wegovy (semaglutida injetável 0,25 mg, 0,5mg, 1mg, 1,7mg e 2,4mg) em sistema de aplicação preenchido, multidose e descartável: indicado para adultos e adolescentes acima de 12 anos que vivem com obesidade ou com sobrepeso com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso.
"A companhia reitera que o uso seguro de qualquer medicamento só é garantido ao seguir as indicações de bula de produtos registrados e aprovados pela Anvisa, sob orientação médica", completa.
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