O que é propilenoglicol?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

O propilenoglicol é um composto químico, muito usado em diferentes setores da indústria e está presente na fórmula de alguns alimentos processados. Nas últimas semanas, a substância começou a ser discutida no Brasil, porque foi associada com a morte de dezenas cachorros. Só que, na verdade, ela não estava pura e tinha sido contaminada por etilenoglicol — algo realmente tóxico e proibido para consumo.
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Em temperatura ambiente, a pergunta "O que é propilenoglicol?" pode ser respondida da seguinte forma: um líquido incolor e sem nenhum cheiro específico. Nessas circunstâncias, é espesso ao ponto de lembrar um xarope. Caso seja aquecido (alta temperatura) ou agitado rapidamente, o composto passa para o estado gasoso.
Com a confusão causada pela contaminação dos petiscos de cachorros e a morte dos animais, criou-se a ideia de que o propilenoglicol faz mal — o que é falso, desde que respeitados os limites seguros de uso. A seguir, veja em quais situações esse composto pode ser usado, incluindo a indústria alimentícia.
Propilenoglicol faz mal à saúde? É tóxico?
Embora tenha surgido o mal-entendido de que o propilenoglicol faz mal à saúde e é tóxico, já sabemos que isso não é verdade. Inclusive, a substância é usada pelas indústrias química, alimentícia e farmacêutica, segundo artigo na plataforma PubChem, mantido pelo Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, nos Estados Unidos.
Além disso, o texto pontua que "a Food and Drug Administration (FDA) classifica o propilenoglicol como um aditivo 'geralmente reconhecido como seguro' para uso em alimentos". No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também autoriza o seu uso em alguns produtos.
Para que serve o propilenoglicol nos alimentos?
No Brasil, "o propilenoglicol é um aditivo alimentar autorizado pela Anvisa para uso em 21 categorias de alimentos para consumo humano, com quatro funções de uso", explica a agência. "Para todas as categorias de alimentos há limite de uso (mg/kg) do propilenoglicol, conforme legislação específica", reforça a Anvisa.
Entenda os usos do propilenoglicol em alimentos
A seguir, confira as quatro funções de uso do propilenoglicol nos alimentos:
- Agente carreador: é uma forma de uso para dissolver, diluir, dispersar ou modificar fisicamente outros aditivos ou nutrientes do alimento, sem alterar sua função;
- Estabilizante: função para manter ou intensificar a cor de um alimento;
- Glaceante: muito usado na confeitaria, esta função confere ao alimento uma aparência brilhante ou um revestimento protetor;
- Umectante: função que preserva a umidade dos alimentos ou que facilita a dissolução de uma substância seca em meio aquoso.
Quais aliamentos podem conter propilenoglicol?
Entre as 21 categorias de alimentos que podem conter o propilenoglicol, confira quais são as principais, segundo a Anvisa:
- Suplementos alimentares;
- Cobertura de empanamento para pescado e produtos de pescado;
- Aperitivos à base de batatas, cereais, farinha ou amido (derivado de raízes e tubérculos, legumes e leguminosas);
- Sementes oleaginosas e nozes processadas, com cobertura ou não
- Frutas in natura (embaladas e com tratamento de superfície);
- Doces de frutas ou de vegetais;
- Frutas secas ou desidratadas;
- Mistura para o preparo de bolos, tortas, doces e massas de confeitaria, com fermento químico, com ou sem recheio/cobertura;
- Biscoitos e similares com recheio/cobertura ou sem;
- Bolos, tortas, doces e massas de confeitaria, com fermento biológico/fermento químico, com ou sem recheio/cobertura;
- Alimentos com cacau para preparo de bebidas;
- Balas de goma e balas de gelatina;
- Balas e caramelos;
- Coberturas e xaropes para produtos de panificação ou de confeitaria;
- Confeitos;
- Bombons;
- Pastilhas;
- Torrones, marzipãs ou pastas de sementes comestíveis.
Usos além do setor alimentício
Segundo o artigo da PubChem, o propilenoglicol é basicamente uado para absorver água extra e manter a umidade, independente da indústria. Além disso, "é um solvente para corantes e aromatizantes de alimentos e nas indústrias de tintas e plásticos", explica. Por fim, a substância também está entre os componentes da fumaça artificial, adotada em produções teatrais e em treinamento de combate a incêndios.
A seguir, veja em quais produtos o propilenoglicol pode ser encontrado:
- Perfumes;
- Tintas;
- Fumaça artificial;
- Hidratantes;
- Produtos de limpeza;
- Detergentes;
- Desodorantes;
- Batons;
- Lubrificantes;
- Shampoos;
- Gelo seco;
- Cartuchos de cigarro eletrônico;
- Petiscos para cachorros.
Todo propilenoglicol tem etilenoglicol?
No caso dos petiscos para cachorros, o propilenoglicol foi contaminado, em alguma etapa do processo de fabricação, por etilenoglicol — também conhecido como monoetilenoglicol. Até o momento, as investigações apontam que foi essa contaminação a responsável por matar dezenas de cães no Brasil.
"O etilenoglicol é um solvente orgânico altamente tóxico que causa insuficiência renal e hepática, podendo inclusive levar à morte, quando ingerido", explica a Anvisa. Inclusive, é a mesma substância estava envolvida na contaminação de cervejas artesanais, em 2020, na qual pessoas também teriam morrido por intoxicação.