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O que acontece se deixarmos as pessoas dormirem quando elas quiserem?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 12 de Abril de 2022 às 09h30

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twenty20photos/envato
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Muitos costumes humanos foram afetados pela pandemia de covid-19, que atingiu a rotina de praticamente todo o mundo. Um desses costumes é o sono — mais especificamente, o padrão do sono, característica essencial dessa atividade que recebeu modificações, por vezes, drásticas, a depender do indivíduo afetado.

As restrições, home-offices e toda a sorte de isolamentos acabaram criando um experimento social acidental sobre os hábitos de sono, que foram modificados pela nova flexibilidade de agente. Um estudo recente buscou descobrir como essas mudanças nos afetaram: às vezes, para o bem.

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Ciclos do sono e jetlag social

Cerca de 15.000 adultos de 14 países diferentes responderam questionários sobre seus padrões de sono para a pesquisa, publicada na revista científica Nature and Science of Sleep em 2021. Quase metade dos indivíduos reportaram desenvolver uma rotina mais alinhada com seus ciclos naturais de sono e vigília (conhecidos como "ritmo circadiano") durante a pandemia do que antes dela.

Parte do que afeta esse ritmo é o chamado "jet lag social". Ele ocorre quando há variações entre a rotina social e o ritmo circadiano natural, e, quando essa discrepância é alta, o indivíduo fica mais suscetível à insônia, depressão, ansiedade e mal-estar do que quem tem uma rotina consistente.

Pessoas mais noturnas, que preferem dormir até mais tarde e ficar acordadas até mais tarde durante o final de semana, mas precisam obedecer a horários diferentes por conta do trabalho, têm um jet lag social alto. Já as pessoas diurnas, que conseguem manter a rotina do sono no final de semana, têm um jet lag social baixo ou mesmo inexistente.

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Cerca de 46% das pessoas estudadas reportaram ter reduzido o jet lag social durante a pandemia: quase todos fizeram isso ajustando o horário de acordar para mais tarde, jantando mais tarde e indo para a cama mais tarde. Ainda, 20% dos respondentes aumentaram o jet lag social, e o restante não apresentou mudanças na rotina do sono.

Segundo esses dados, metade da população segue uma rotina que vai contra o cronótipo natural, ou seja, a tendência mais noturna ou diurna. O que os pesquisadores não esperavam era descobrir que as pessoas que reduziram o jet lag social tiveram mais insônia e estresse durante a pandemia do que os que mantiveram o jet lag social constante. Uma das hipóteses explica isso apontando que ficar muito tempo na cama reduz a eficiência do sono e torna dormir mais difícil durante a noite.

Perspectivas para o futuro

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Os pesquisadores apontam que os próximos estudos devem investigar as mudanças que afetaram a rotina das pessoas mais especificamente, como a situação empregatícia, os relacionamentos familiares, as finanças e a saúde, que podem ter ofuscado os possíveis benefícios de uma redução do jet lag social. "Quais benefícios na saúde pública poderiam existir caso esse grupo conseguisse reduzir o jet lag social, além do estresse criado pela covid?" pergunta o professor Colin Espie, um dos autores do estudo.

Ele comenta que a pandemia e o home-office generalizado trouxe debates sobre onde se deveria trabalhar, mas pouco sobre quando se deveria trabalhar. Um dos aspectos levantados pelo trabalho é o impacto na saúde e felicidade da população trazido pelo foco nas questões acerca da rotina de trabalho e sono, e sua sincronia com a biologia de cada um.

Segundo Colin, o estudo mostra que forçar a população a se alinhar a uma rotina única funciona para apenas metade das pessoas — há de se estudar como rotinas e padrões novos poderiam ajudar a outra metade, o que poderia ter implicações significativas para a qualidade do sono, bem como da saúde mental e física dos seres humanos mais noturnos.

Fonte: Nature and Science of Sleep